De um e-mail (que me chamou a atenção para o lapso que cometi no post anterior):
Apenas um reparo aos últimos posts, espero que não pareça um preciosismo.Quando se fala da retirada dos indecisos tratando-os como abstencionistas isso na prática é o mesmo que fazer uma distribuição proporcional e não equitativa. Ou seja quando se trata os indecisos como abstencionistas é o mesmo (matematicamente) que dizer que 60% deles votam Cavaco, 16 Alegre, 13 Soares, etc, etc....E por isso mesmo penso que seria pertinente que o Pedro Magalhães se pronunciasse sobre esta distribuição proporcional de indecisos num cenário de candidato consensual (e estabilizado - há cerca de um ano ou mais) à direita em contraponto a uma esquerda espartilhada. Pode ou não este método de estimativa introduzir um erro sistemático? Porque não fazer como a Intercampus, que noticia sempre primeiro os resultados brutos e só depois a estimativa, menorizando assim a estimativa em detrimento dos resultados brutos?
Certíssimo. Enganei-me no post anterior: quando se "eliminam" indecisos, tratando-os como abstencionistas, está-se a redistribuí-los proporcionalmente pelas opções "válidas". Já tinha explicado isto em muitos posts anteriores, mas ontem enganei-me.
Quanto à questão substantiva, diria o seguinte:
Como já disse aqui e aqui, "parece-me plausível a ideia de que a indecisão é maior entre o eleitorado potencial dos candidatos de esquerda, especialmente o eleitorado do PS". A sondagem de Novembro da Católica não confirmava essa ideia, mas a mais recente confirma-a, como sabemos. Como proceder na posse desta informação? Uma hipótese, comum em vários institutos de sondagens noutros países e em eleições legislativas, é usar a simpatia partidária como elemento informativo para a redistribuição. Por exemplo: se eu souber que, em geral, os simpatizantes do PS tendem a votar mais em Alegre e Soares, uso esta informação para redistribuir os simpatizantes do PS que não me dizem em que candidato irão votar, presumindo que se irão redistribuir da mesma forma que aqueles que partilham a mesma identificação psicológica com um partido. Isto, contudo, levanta dois problemas. Por um lado, presume-se assim que a "simpatia partidária" é, em Portugal, um fenómeno fortemente estruturante das atitudes e comportamentos políticos. Por outro lado, presume-se assim que a simpatia partidária é um fenómeno fortemente estruturante do comportamento eleitoral em eleições presidenciais. Tenho, por razões demasiado longas para explicar aqui, fortes dúvidas sobre a validade de cada uma dessas pressuposições.
Logo, a alternativa que achámos - sugerida por um dos colaboradores do CESOP - foi, como expliquei no post anterior, usar uma questão sobre "em que candidato(s) nunca votaria" para não redistribuir votos de indecisos por candidatos em que nos dizem que "nunca votariam". Contudo, como também já expliquei, o resultado dessa operação foi que encontrámos resultados em tudo semelhantes aos anteriores.
Isto não impede que eu ache que esta indecisão actual, fortemente concentrada nos simpatizantes do PS, acabe por se resolver parcialmente, mais tarde ou mais cedo, num voto por um dos candidatos próximos da área socialista. Mas em que números? Com que intensidade? Por qual candidato? Quando estas questões se multiplicam e quando a sua resolução implica aplicarmos pressuposições sobre o comportamento dos eleitores de cuja validade não estamos minimamente certos, devemos recordar-nos do fundamental: a sondagem dá um retrato do momento, e a estimativa deve ter, como função básica, a de mostrar esse retrato de forma que seja comparável a um resultado eleitoral, e não de forma a que procure tudo prever acerca de qual virá a ser esse resultado eleitoral duas semanas depois. É a minha opinião.
E no que respeita à comparação com a Intercampus, penso que há um lapso do leitor: a Intercampus e a Católica fornecem aos seus clientes os resultados brutos e as estimativas. Os clientes divulgam os resultados como entendem, desde que cumpram a lei (ou seja, divulgando ambos), que é, creio, o que fazem, com diferentes destaques. E quanto a dar mais valor aos "resultados brutos", já falei dos problemas que isso levanta muitas vezes neste blogue. Por exemplo, aqui, há cerca de um ano.
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