quarta-feira, janeiro 18, 2006

Carta da Aximage, correcção e resposta minhas

Este blogue recebeu hoje um e-mail de João Queiroz, responsável da Aximage. Nele reproduz-se um e-mail que, segundo o autor, me foi enviado dia 14 de Setembro, e que não recebi. Diz-se nele o seguinte:

Boa tarde,
Como responsável da Aximage gostaria de clarificar que:
1. Fazemos os questionários de acordo com a nossa percepção da actualidade.Ou seja, estudamos com humildade exaustiva os fenómenos que nos rodeiam, sem andarmos a ler (ou ouvir “recados”) “aqui” ou “ali”; 2. Nem tudo o que é perguntado é publicado. Por razões para mim óbvias do ponto de vista da investigação e da actualidade editorial.O leitor também sabe que essa era uma última pergunta, efectuada fora docontexto lógico das que permitiram publicar os resultados;
3 - As leituras feitas às nossas sondagens só vinculam quem faz as leituras,não as sondagens. Por motivos deontológicos também não comentamos a validade da forma como,noutras, estão formuladas as questões que conduzem à "passagem" da 1ª para a 2ª volta.

Melhores cumprimentos.

Suponho que se refere a este post.

Mas há uma mensagem data de hoje, que exige mais atenção (sublinhados meus):

E.mo Senhor,

Verifico que não deve ter recebido o meu mail de 14 de Setembro, sobre matéria em que a Aximage era citada. Encontrá-lo-á abaixo. Quanto aos comentários de hoje e ao tratamento dos nossos resultados tenho a dizer-lhe que considero cientificamente criticável, para dizer o mínimo, a distribuição que faz dos indecisos em trabalhos que não conduz/supervisiona. Contudo, atendendo ao carácter do media em que publica as suas conclusões, vamos "vivendo" com isso. Já me custa a aceitar, porque revela falta de seriedade intelectual, que o faça quando os responsáveis do trabalho, utilizando métodos que não o da simples máquina de calcular, publicaram esse dado. Que não dá, como é óbvio, 8%!
Cumprimentos,
João Queiroz
Aximage

Ora bem. Em parte, culpa minha. Numa sondagem anterior, já tinha sucedido que a Aximage tinha feito uma redistribuição de indecisos que não correspondia à distribuição proporcional pelas opções válidas. Parece-me perfeitamente legítimo que se tomem, para esse efeito - caso se queira fazer essa operação de redistribuição - as opções que se quiser. E foi por isso mesmo que, no quadro que aqui publico, segui os dados fornecidos pela Aximage. Basta ver o que se passou neste post. Logo, desta vez, o erro foi meu: não vi que, no corpo do texto da notícia do Correio da Manhã, são dados os resultados que decorrem das opções da Aximage de redistribuição de indecisos. São agora apresentados, com as minhas desculpas pelo lapso.



A questão com que fico, e creio com que alguns dos leitores do Correio da Manhã ficam, é esta: como, então, redistribui a Aximage os indecisos? Se não é com a "simples máquina da calcular", então como é? Teremos nós, os leitores do Correio da Manhã de hoje, o direito de saber? E terei eu algum impedimento deontológico que me impeça de fazer a pergunta?

E há um último aspecto para resolver: por que razão neste blogue se apresentam quer os resultados brutos quer os resultados após redistribuição de indecisos (da forma como os próprios institutos os redistribuem ou, na ausência dessa redistribuição, de forma proporcional pelos candidatos)? As razões são as seguintes:

1. Porque os diferentes resultados brutos dados pelas diferentes empresas não são comparáveis entre si, por razões já explicadas várias vezes neste blogue, por exemplo aqui.

2. Porque é a boa prática internacional, sancionada e confirmada dezenas de vezes em muitos estudos académicos, tais como este ou este, e sancionada em estudos da American Association for Public Opinion Research, como este.

3. Porque se assim não se fizer, se gera ainda maior confusão entre a opinião pública do que necessário, como sucedeu neste caso.

4. Porque essa confusão pode ser manipulada por responsáveis de institutos de sondagens com o objectivo de validarem injustificadamente o seu próprio trabalho, comparando, por exemplo, os resultados brutos (ou seja, ainda com indecisos ou abstencionistas) das suas sondagens com resultados eleitorais finais. Se querem um exemplo deste tipo de actuação, podem ir à Hemeroteca ler um artigo publicado na Visão, em 21 de Dezembro de 2001, intitulado "Não Matem o Mensageiro". As ironias do destino a que se sujeitam os que não têm memória...

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