Quem está esperançoso ou angustiado com a possibilidade de as sondagens nos Estados Unidos estarem erradas, e muito especialmente quem acha que os resultados das sondagens são condicionados pelas preferências de quem as faz ou do meio de comunicação social que as encomenda e publica, pode ver todos os seus anseios ou receios confirmados por este paper: Evidence of Systematic Bias in 2008 Presidential Polling (via Andrew Gelman).
Claro que sou suspeito, mas por que não pensar que parte do enviesamento se deve ao próprio inquirido, recusando responder para certas sondagens ou ocultando-lhes o seu comportamento?
sexta-feira, outubro 31, 2008
quinta-feira, outubro 30, 2008
Obamercial 2
Aqui está ele:
O melhor comentário que li até agora, na Slate:
"whatever the next four years may bring, we're in for some damn good camera angles."
O melhor comentário que li até agora, na Slate:
"whatever the next four years may bring, we're in for some damn good camera angles."
quarta-feira, outubro 29, 2008
Obamercial
Hoje, vai passar um anúncio/programa com a duração de meia-hora, publicidade da campanha da Barack Obama, na Fox, NBC, CBS, Univision, MSNBC e BET, em horário nobre. Só a ABC e a CNN ficam de fora. NBC e CBS vão receber um milhão de dólares cada. Não se via disto desde Ross Perot.
Ainda sobre "forecasting", a questão racial e as sondagens
Recebi hoje a PS, e voltei a olhar para os modelos de forecasting de que tenho falado várias vezes. E há uma coisa muito interessante de que não me tinha dado conta. O modelo de Lewis-Beck e Tien prevê, como eu dizia aqui, 43% dos votos para McCain na base de quatro variáveis: popularidade de Bush em Julho; crescimento real do PNB do último trimestre de 2007 até ao 2º trimestre de 2008; se o incumbent concorre ou não; e o crescimentos dos empregos.
Simplesmente, Lewis-Beck e Tien defendem que "Obama will lose a chunk of votes because he is black". Logo, estimam factores de correcção para a votação inicialmente prevista para Obama - 57%. Esses factores de correcção resultam de duas fontes:
1. Um estudo de 2007 sobre a prediposição para votar num presidente negro;
2. A comparação entre as votações, estado a estado, de Kerry e Obama nas primárias.
E concluem que Obama terá 50,1%. Ora aqui vamos ter uma boa oportunidade para perceber se Lewis-Beck e Tien deviam ter mexido no modelo original ou não por causa da questão "racial".
Simplesmente, Lewis-Beck e Tien defendem que "Obama will lose a chunk of votes because he is black". Logo, estimam factores de correcção para a votação inicialmente prevista para Obama - 57%. Esses factores de correcção resultam de duas fontes:
1. Um estudo de 2007 sobre a prediposição para votar num presidente negro;
2. A comparação entre as votações, estado a estado, de Kerry e Obama nas primárias.
E concluem que Obama terá 50,1%. Ora aqui vamos ter uma boa oportunidade para perceber se Lewis-Beck e Tien deviam ter mexido no modelo original ou não por causa da questão "racial".
Outlier: chá e torradas
Há uns tempos, João Pinto e Castro sugeria à SEDES que, em vez de andar a dizer "renhaunau renhaunau" de seis em seis meses após reuniões com chá e torradas, desse ao pedal e criasse um blogue que "estimulasse a reflexão colectiva sobre temas de grande relevância para o país". Sobre "estimular a reflexão colectiva" ou a "grande relevância para o país" não sei, mas pelo menos o blogue já está. Agora deixa cá comer mais uma torradinha.
P.S.- E aí está, estimulada "a reflexão colectiva sobre temas de grande relevância para o país". Isto dos blogues é um bocadinho menos complicado do que parece :-)
P.S.- E aí está, estimulada "a reflexão colectiva sobre temas de grande relevância para o país". Isto dos blogues é um bocadinho menos complicado do que parece :-)
segunda-feira, outubro 27, 2008
Vale a pena ler
James Stimson, sobre os resultados das sondagens nos Estados Unidos:
Saturday 10/25: Stability and Variability
Variability: This is a race of considerable variability in various organization's estimates of what should be the same quantity. And at the same time I have never seen such stability in my estimates of the daily lead. A typical day sees about ten organizations report an Obama lead varying between 1 and 14 points. Thirteen points difference is a lot, more than double what would be expected from sampling fluctuation alone. This arises chiefly, it appears, from two sources, (1) initial assumptions about the partisan makeup of the electorate, and (2) varying likely voter assumptions.
Ler o resto aqui.
Saturday 10/25: Stability and Variability
Variability: This is a race of considerable variability in various organization's estimates of what should be the same quantity. And at the same time I have never seen such stability in my estimates of the daily lead. A typical day sees about ten organizations report an Obama lead varying between 1 and 14 points. Thirteen points difference is a lot, more than double what would be expected from sampling fluctuation alone. This arises chiefly, it appears, from two sources, (1) initial assumptions about the partisan makeup of the electorate, and (2) varying likely voter assumptions.
Ler o resto aqui.
domingo, outubro 26, 2008
Uma tempestade perfeita
O meu artigo de amanhã no Público é sobre - suspense - as eleições americanas. É o último que escrevo antes do dia 4 de Novembro. Quem se interesse poderá ler amanhã no jornal e depois de amanhã aqui. Mas quem se interesse muito - sim, estou a falar de vocês os três - pode descarregar isto, uma apresentação em Powerpoint que fiz há dias na Faculdade de Direito da UL e onde se coligem uma série de dados sobre os fundamentals desta eleição:
1. Mudanças na composição social do eleitorado (o famoso argumento Judis/Teixeira);
2. Mudanças na identificação partidária nos últimos anos;
3. Mudanças nas posições ideológicas nos últimos anos;
4. Avaliação do titular (incumbent);
5. Economia e percepções do estado da economia;
E ainda:
6. Temas da campanha;
7. Avaliação dos candidatos;
8. Mobilização.
Nada disto tem grandes pretensões nem grandes teorias por detrás a não ser as de coligir dados dispersos, ter uma visão das eleições que vá para além das sondagens de intenções de voto e presumir que há factores de médio e até longo prazo que ditam muito do que estamos a observar e cujo conhecimento ajuda a reduzir as incertezas.
1. Mudanças na composição social do eleitorado (o famoso argumento Judis/Teixeira);
2. Mudanças na identificação partidária nos últimos anos;
3. Mudanças nas posições ideológicas nos últimos anos;
4. Avaliação do titular (incumbent);
5. Economia e percepções do estado da economia;
E ainda:
6. Temas da campanha;
7. Avaliação dos candidatos;
8. Mobilização.
Nada disto tem grandes pretensões nem grandes teorias por detrás a não ser as de coligir dados dispersos, ter uma visão das eleições que vá para além das sondagens de intenções de voto e presumir que há factores de médio e até longo prazo que ditam muito do que estamos a observar e cujo conhecimento ajuda a reduzir as incertezas.
sexta-feira, outubro 24, 2008
Três perguntas.
Três perguntas num comentário ao post abaixo. Vou tentar responder, remetendo, sempre que possível, para quem sabe responder melhor do que eu:
1. Trata-se da fiabilidade das sondagens que são agregadas nos principais sites como o RCP, Pollster ou 538. No mesmo dia ou espaço curto de tempo, cerca de meia dúzia sondagens são capazes de ter 6 ou 8 pontos percentuais de diferença nos resultados (relativamente à distância entre candidatos), acontecendo isto com muita regularidade. Isto não compromete a confiança das sondagens?
Não devemos ficar surpreendidos com o facto de diferentes sondagens, conduzidas no mesmo momento, exibirem resultados cujas diferenças estão acima do que seria autorizado pelo erro amostral. Há uma multiplicidade de opções técnicas - amostragem, modelos de votantes prováveis, ponderadores, formato das perguntas, etc, etc, etc - que produzem essas diferenças. Há um livro muito bom de um antigo professor meu cujo título resume isso muito bem: The Total Survey Error Approach, em que "total" significa o erro amostral mais todas as outras fontes de erro. Como lidar com isto? Por um lado, importa procurar estimar em que medida há enviesamentos característicos trazidos por cada conjunto de opções metodológicas. Como essas opções tendem a ser estáveis em cada instituto, é possível estimar aquilo que se chama "house effects", ou seja, a tendência de cada instituto para favorecer/desfavorecer cada candidato ou partido. Mas isto mostra-nos apenas um determinado desvio em relação à (vamos chamar-lhe assim) "média", e não em relação à " realidade". O que é a realidade? Ninguém sabe. Mas o que o Nate Silver faz é tomar a prestação passada dos institutos de sondagens como indicador da sua aproximação a essa realidade, presumir que essa aproximação é um bom indicador da sua aproximação à realidade presente, e ponderar os resultados das sondagens na base disso. Aqui estão os indicadores do "track record" de cada instituto que o FiveThirtyEight usa nessas ponderações. É a abordagem mais "sofisticada" (mas também com alguns riscos. Nada garante que desempenho passado seja bom desempenho futuro, especialmente se as circunstâncias políticas e sociais mudarem. O próprio Nate Silver dá um exemplo). O Pollster.com e o RCP são mais agnósticos, o que também não é necessariamente boa ideia.
2ª A média das amostras penso que andam em cerca de 2000 pessoas por sondagem a nível nacional. Não será este um número demasiado baixo para um país de 300 milhões? Penso que 2000 é o número usado regularmente em Portugal, estou certo?
Não, não, e também não (sorry). Não sei o número médio, mas é fácil calcular olhando para esta lista. Sobre o - sempre intrigante - fenómeno de a dimensão do universo ser (quase completamente irrelevante para o erro amostral, ver aqui. Em Portugal, as amostras andam entre os 600 e os 1200. Só na véspera das eleições se costuma usar amostras maiores.
3º Esta já é de leitura de sondagens. Há já sondagens (em número e qualidade) suficientes para falarmos de uma tendência após o último debate presidencial, principalmente nos estados mais decisivos?
Sim, e parece que não teve efeitos.
1. Trata-se da fiabilidade das sondagens que são agregadas nos principais sites como o RCP, Pollster ou 538. No mesmo dia ou espaço curto de tempo, cerca de meia dúzia sondagens são capazes de ter 6 ou 8 pontos percentuais de diferença nos resultados (relativamente à distância entre candidatos), acontecendo isto com muita regularidade. Isto não compromete a confiança das sondagens?
Não devemos ficar surpreendidos com o facto de diferentes sondagens, conduzidas no mesmo momento, exibirem resultados cujas diferenças estão acima do que seria autorizado pelo erro amostral. Há uma multiplicidade de opções técnicas - amostragem, modelos de votantes prováveis, ponderadores, formato das perguntas, etc, etc, etc - que produzem essas diferenças. Há um livro muito bom de um antigo professor meu cujo título resume isso muito bem: The Total Survey Error Approach, em que "total" significa o erro amostral mais todas as outras fontes de erro. Como lidar com isto? Por um lado, importa procurar estimar em que medida há enviesamentos característicos trazidos por cada conjunto de opções metodológicas. Como essas opções tendem a ser estáveis em cada instituto, é possível estimar aquilo que se chama "house effects", ou seja, a tendência de cada instituto para favorecer/desfavorecer cada candidato ou partido. Mas isto mostra-nos apenas um determinado desvio em relação à (vamos chamar-lhe assim) "média", e não em relação à " realidade". O que é a realidade? Ninguém sabe. Mas o que o Nate Silver faz é tomar a prestação passada dos institutos de sondagens como indicador da sua aproximação a essa realidade, presumir que essa aproximação é um bom indicador da sua aproximação à realidade presente, e ponderar os resultados das sondagens na base disso. Aqui estão os indicadores do "track record" de cada instituto que o FiveThirtyEight usa nessas ponderações. É a abordagem mais "sofisticada" (mas também com alguns riscos. Nada garante que desempenho passado seja bom desempenho futuro, especialmente se as circunstâncias políticas e sociais mudarem. O próprio Nate Silver dá um exemplo). O Pollster.com e o RCP são mais agnósticos, o que também não é necessariamente boa ideia.
2ª A média das amostras penso que andam em cerca de 2000 pessoas por sondagem a nível nacional. Não será este um número demasiado baixo para um país de 300 milhões? Penso que 2000 é o número usado regularmente em Portugal, estou certo?
Não, não, e também não (sorry). Não sei o número médio, mas é fácil calcular olhando para esta lista. Sobre o - sempre intrigante - fenómeno de a dimensão do universo ser (quase completamente irrelevante para o erro amostral, ver aqui. Em Portugal, as amostras andam entre os 600 e os 1200. Só na véspera das eleições se costuma usar amostras maiores.
3º Esta já é de leitura de sondagens. Há já sondagens (em número e qualidade) suficientes para falarmos de uma tendência após o último debate presidencial, principalmente nos estados mais decisivos?
Sim, e parece que não teve efeitos.
quinta-feira, outubro 23, 2008
Ainda sobre os efeitos da "raça" no comportamento eleitoral nestas presidenciais.
Há muita gente (alguma dela particularmente competente) que se tem pronunciado sobre este assunto. Larry Bartels, por exemplo, usando dados do American National Election Survey de 2004, sugere que esse efeito pode andar por um custo de 3,7% para Obama.
Mas vejamos a questão por outro lado. Há meses que circulam modelos econométricos que prevêem, na base dos tais "fundamentals" - economia, cansaço/aprovação do incumbent, etc. - a percentagem de votos para candidatos do Partido Republicano (o incumbent). Estes modelos são "cegos" em relação à "raça" dos candidatos. Alguns deles podem tê-la indirectamente, se usarem sondagens sobre os candidatos -mesmo que distantes no tempo em relação às eleições - mas a maioria não tem. Os resultados estão no Pollyvote:
A vantagem máxima para o candidato Democrata é de 16 pontos, a mínima é de 0,2 pontos. Mas a média é de 5,4 pontos.
Agora olhem para aqui:
A estimativa actual da vantagem de Obama, excluídos indecisos e 3ºs candidatos, é de 8,3 pontos. Por outras palavras a vantagem de Obama é maior do que se poderia esperar "given the fundamentals". Claro que: ainda não é dia 4, e mesmo até à véspera do dia 4, as sondagens podem vir a revelar-se erradas. Mas se há alguma coisa que se possa dizer "given the fundamentals", é que o facto de Obama ser negro o favorece eleitoralmente. Absurdo, não é? Sim, mas o contrário, na base disto, também é.
quarta-feira, outubro 22, 2008
O Bartoon explica.
Este debate é interessante, e eu já tinha prometido que ia falar nisto. Um pretexto, então.
Também não gostei especialmente de ver Ronald Dworkin, depois de descrever (correctamente) as consequências (catastróficas) que uma vitória dos Republicanos e a designação de juízes para o Supremo com o perfil prometido por McCain teriam para a interpretação da Constituição Americana, terminar dizendo que "if a remarkably distinguished candidate like Obama loses, this can be for only one reason." Mas as razões porque não gostei são, eventualmente, diferentes das de Miguel Morgado:
1. Primeiro, não há nunca "only one reason".
2. Segundo, ao contrário do que também diz Mark Danner - e retoma João Galamba - , não me parece nada que, "given the 'fundamentals', (...) the contest is so close". So close? Dia 4 cá estaremos para ver. Mas isto não me parece nada close. Vantagens de 6-8 pontos no voto popular não é coisa de somenos e não aparecem todos os dias. Nixon ganhou a McGovern por 23 pontos em 1972, mas.. McGovern? De resto, esta vantagem - ou até bastante menos - é precisamente da ordem do que se poderia esperar given the fundamentals. Esta ideia de que Obama deveria estar a arrasar mas só não está por causa da raça perde sentido logo na parte do "arrasar", porque negligencia a actual polarização do eleitorado americano e tudo aquilo que dá estabilidade ao seu comportamento, independentemente de factores de mais curto-prazo, tais como a economia ou desempenho do incumbent (mas dia 4 espero de não ter de engolir isto tudo).
3. Finalmente, não gostei porque este discurso é exactamente o contrário daquele que Obama tem tido e exactamente o contrário daquilo que lhe convém ter. Ainda bem que a NYRB só é lida por intelectualóides como eu e vocês que estão a ler isto.
Claro que importa perceber por que razão "este discurso é exactamente o contrário daquele que Obama tem tido e exactamente o contrário daquilo que lhe convém ter." É porque, precisamente, o problema existe. Há quilómetros de estantes com coisas sérias escritas sobre o assunto: "Black and white voters do seem to prefer candidates of their own race in biracial elections and, consequently, it is exceedingly rare for black candidates to be elected outside of majority-minority political jurisdictions (Barker et al.1999, Canon 1999, Walton & Smith 2000)". De resto, o grande mérito estratégico da candidatura de Obama e o seu enorme pragmatismo tem residido em fazer com que o problema pareça não existir, desactivando-o como um elemento legítimo de contestação política e retirando-lhe saliência. Claro que os Republicanos têm tentando activá-lo subtilmente, como outros textos na NYRB sugerem (o de Andrew Delbanco, por exemplo). Mas não o podem activar explicitamente: Obama não lhes deu a oportunidade, e fazê-lo por iniciativa própria seria suicídio. Daí que Jeremiah Wright tenha estado ausente da galeria de ataques a Obama, e só surgirá, se surgir, como táctica última de desespero total por parte dos Republicanos.
Quanto ao resto, os meus textos preferidos neste NYRB são os de Joan Didion e de Paul Krugman. Didion, como sempre, para além da elegantíssima escrita, tem um dedo especial para desenterrar a forma como os temas reais e mais importantes na vida americana são retirados do debate político e mediático e substituídos ou misturados com temas fictícios:
Não acontece muitas vezes que a mensagem política "certa" seja "certa" de duas maneiras: por descrever correcta e profundamente a realidade, e por ser a mais adequada eleitoralmente. Mas desta vez aconteceu. Os Republicanos andam a agitar a frase "spread the wealth" que Obama disse a "Joe the Plumber", como se isso o fizesse perder votos. Um erro, parece-me. O Bartoon de hoje explica tudo isto muito bem.
Também não gostei especialmente de ver Ronald Dworkin, depois de descrever (correctamente) as consequências (catastróficas) que uma vitória dos Republicanos e a designação de juízes para o Supremo com o perfil prometido por McCain teriam para a interpretação da Constituição Americana, terminar dizendo que "if a remarkably distinguished candidate like Obama loses, this can be for only one reason." Mas as razões porque não gostei são, eventualmente, diferentes das de Miguel Morgado:
1. Primeiro, não há nunca "only one reason".
2. Segundo, ao contrário do que também diz Mark Danner - e retoma João Galamba - , não me parece nada que, "given the 'fundamentals', (...) the contest is so close". So close? Dia 4 cá estaremos para ver. Mas isto não me parece nada close. Vantagens de 6-8 pontos no voto popular não é coisa de somenos e não aparecem todos os dias. Nixon ganhou a McGovern por 23 pontos em 1972, mas.. McGovern? De resto, esta vantagem - ou até bastante menos - é precisamente da ordem do que se poderia esperar given the fundamentals. Esta ideia de que Obama deveria estar a arrasar mas só não está por causa da raça perde sentido logo na parte do "arrasar", porque negligencia a actual polarização do eleitorado americano e tudo aquilo que dá estabilidade ao seu comportamento, independentemente de factores de mais curto-prazo, tais como a economia ou desempenho do incumbent (mas dia 4 espero de não ter de engolir isto tudo).
3. Finalmente, não gostei porque este discurso é exactamente o contrário daquele que Obama tem tido e exactamente o contrário daquilo que lhe convém ter. Ainda bem que a NYRB só é lida por intelectualóides como eu e vocês que estão a ler isto.
Claro que importa perceber por que razão "este discurso é exactamente o contrário daquele que Obama tem tido e exactamente o contrário daquilo que lhe convém ter." É porque, precisamente, o problema existe. Há quilómetros de estantes com coisas sérias escritas sobre o assunto: "Black and white voters do seem to prefer candidates of their own race in biracial elections and, consequently, it is exceedingly rare for black candidates to be elected outside of majority-minority political jurisdictions (Barker et al.1999, Canon 1999, Walton & Smith 2000)". De resto, o grande mérito estratégico da candidatura de Obama e o seu enorme pragmatismo tem residido em fazer com que o problema pareça não existir, desactivando-o como um elemento legítimo de contestação política e retirando-lhe saliência. Claro que os Republicanos têm tentando activá-lo subtilmente, como outros textos na NYRB sugerem (o de Andrew Delbanco, por exemplo). Mas não o podem activar explicitamente: Obama não lhes deu a oportunidade, e fazê-lo por iniciativa própria seria suicídio. Daí que Jeremiah Wright tenha estado ausente da galeria de ataques a Obama, e só surgirá, se surgir, como táctica última de desespero total por parte dos Republicanos.
Quanto ao resto, os meus textos preferidos neste NYRB são os de Joan Didion e de Paul Krugman. Didion, como sempre, para além da elegantíssima escrita, tem um dedo especial para desenterrar a forma como os temas reais e mais importantes na vida americana são retirados do debate político e mediático e substituídos ou misturados com temas fictícios:
"The presence of Barack Obama in the electoral process allowed us to talk as if "the race issue" had reached a happy ending. We did not need to talk about how the question of race has been and continues to be used to exacerbate the real issue in American life, which is class, or absence of equal opportunity."
E Krugman:
"For a while, however, Democrats in general, and Barack Obama in particular, seemed to have lost the plot. Instead of running against the Republican economic record, Obama spent the primary season and the first few weeks of the general election campaign portraying himself as a "post-partisan" politician, someone who transcended the traditional party divide. In his speeches, he tended to hold both parties equally culpable for the country's woes, denouncing the failed policies of right and left equally. (...) But all of that has changed in the past few weeks. (...) These days, Obama doesn't try to place blame equally on right and left, he denounces "an economic philosophy that says we should give more and more to those with the most and hope that prosperity trickles down to everyone else," and describes the crisis as "a final verdict on this failed philosophy." He sounds, in other words, a lot like Bill Clinton in 1992. And that's a good thing."
Não acontece muitas vezes que a mensagem política "certa" seja "certa" de duas maneiras: por descrever correcta e profundamente a realidade, e por ser a mais adequada eleitoralmente. Mas desta vez aconteceu. Os Republicanos andam a agitar a frase "spread the wealth" que Obama disse a "Joe the Plumber", como se isso o fizesse perder votos. Um erro, parece-me. O Bartoon de hoje explica tudo isto muito bem.
terça-feira, outubro 21, 2008
Podemos acreditar no que estamos a ver? Depende.
Os textos no post abaixo sobre as possibilidades de recuperação de McCain pressupõem que aquilo que as sondagens nos estão a dizer é, "na média", verdade. Que Obama tem uma vantagem de mais de 5 pontos sobre McCain, que Obama subiu drasticamente desde a crise financeira, que McCain vem recuperando nos últimos dias.
Mas se isto tudo, ou parte disto, for mentira? E se houver um enviesamento sistemático nos resultados? Uma das fontes de enviesamento já aqui muito discutida é o chamado Bradley Effect, através do qual a vantagem de Obama sobre McCain poderá estar a ser sobrestimada. A segunda é o recurso a telefones fixos, através do qual a vantagem de Obama sobre McCain poderá estar a ser sistematicamente subestimada.
James Stimson, da UNC em Chapel Hill, recorda-nos um terceiro possível enviesamento, que desta vez tem repercussões naquilo que julgamos estar a observar nos últimos dias: as pressuposições sobre os votantes prováveis que estão inseridas nos modelos.
The entry of new tracking polls (with likely voter estimates) and the changeover of existing ones to likely voter estimates are confusing the situation this week. Because Republicans traditionally turn out at higher rates than do Democrats, the likely voter estimates shift the composition of samples in the Republican direction, producing better numbers for McCain. This is creating what appears to be an illusory trend toward McCain support, an apparent decline in the Obama lead. This is seen most clearly in the Gallup organization's now triple daily reports. With a pleasing transparency, Gallup is reporting registered voters numbers (as before) and two different likely voter estimates. One Gallup calls the traditional filter assumes that historic turnout patterns will prevail and thus African-Americans and young people, for example, are assumed to turn out at relatively low rates (compared to the perennial turnout champs, the middle-aged and middle class.) Knowing that such assumptions are likely to be inaccurate this year, Gallup is also using a filter (called Expanded) that is based only on what respondents say about voting intentions. I commend Gallup for leaving us free to make our own assumptions about turnout, rather than imposing its own on us (and usually without any information about what they are.) From its latest release (10/19) Gallup shows an Obama lead of 10 points (52-42) among registered voters, 7 points (51-44) among the Expanded likely voter set and only 3 points (49-46) with the Traditional likely voter filter. It makes quite a difference which one gets reported. There is no trend in the registered voter estimates. But if you compare the older registered voter numbers with the newer likely voter numbers the illusion of trend appears.
Mas se isto tudo, ou parte disto, for mentira? E se houver um enviesamento sistemático nos resultados? Uma das fontes de enviesamento já aqui muito discutida é o chamado Bradley Effect, através do qual a vantagem de Obama sobre McCain poderá estar a ser sobrestimada. A segunda é o recurso a telefones fixos, através do qual a vantagem de Obama sobre McCain poderá estar a ser sistematicamente subestimada.
James Stimson, da UNC em Chapel Hill, recorda-nos um terceiro possível enviesamento, que desta vez tem repercussões naquilo que julgamos estar a observar nos últimos dias: as pressuposições sobre os votantes prováveis que estão inseridas nos modelos.
The entry of new tracking polls (with likely voter estimates) and the changeover of existing ones to likely voter estimates are confusing the situation this week. Because Republicans traditionally turn out at higher rates than do Democrats, the likely voter estimates shift the composition of samples in the Republican direction, producing better numbers for McCain. This is creating what appears to be an illusory trend toward McCain support, an apparent decline in the Obama lead. This is seen most clearly in the Gallup organization's now triple daily reports. With a pleasing transparency, Gallup is reporting registered voters numbers (as before) and two different likely voter estimates. One Gallup calls the traditional filter assumes that historic turnout patterns will prevail and thus African-Americans and young people, for example, are assumed to turn out at relatively low rates (compared to the perennial turnout champs, the middle-aged and middle class.) Knowing that such assumptions are likely to be inaccurate this year, Gallup is also using a filter (called Expanded) that is based only on what respondents say about voting intentions. I commend Gallup for leaving us free to make our own assumptions about turnout, rather than imposing its own on us (and usually without any information about what they are.) From its latest release (10/19) Gallup shows an Obama lead of 10 points (52-42) among registered voters, 7 points (51-44) among the Expanded likely voter set and only 3 points (49-46) with the Traditional likely voter filter. It makes quite a difference which one gets reported. There is no trend in the registered voter estimates. But if you compare the older registered voter numbers with the newer likely voter numbers the illusion of trend appears.
As possibilidades de McCain
The State of the Race, por Jay Cost: "This makes a comeback for McCain quite difficult, but not inconceivable."
Today's Polls, 10/20, por Nate Silver: "McCain needs to get those numbers down about twice as quickly as Obama got them up, and he does not have any debates or other major public events to assist him."
Today's Polls, 10/20, por Nate Silver: "McCain needs to get those numbers down about twice as quickly as Obama got them up, and he does not have any debates or other major public events to assist him."
segunda-feira, outubro 20, 2008
O fim da "chatice"
Diogo Belford Henriques respondeu ao post abaixo. Espero não ser injusto se vir a coisa assim: DBH não gostou de uma sondagem pré-eleitoral da Eurosondagem que dava 4,8% ao CDS. Após as eleições, tendo o CDS-PP obtido 8,7%, exprimiu esse descontentamento, mas não tinha mais para argumentar que a simples constatação da discrepância. Mas lendo posteriormente o meu post onde descrevia alguns dos constrangimentos e dificuldades ligadas à realização de sondagens dos Açores, DBH descobriu um ângulo para criticar a sondagem que tanto o apoquentara, mesmo que vários aspectos do que descrevi nem sequer se apliquem ao estudo telefónico da Eurosondagem. E toca de transformar esses constrangimentos em omissões graves, acabando por acusar todos os que fizeram sondagens nos Açores de serem preguiçosos e incompetentes. E ainda houve tempo para levantar a hipótese de que tanta preguiça e incompetência não passassem de uma desconsideração aos açorianos.
Neste último post, o ângulo é algo diferente. DBH acha "grave" que as sondagens à boca das urnas nos Açores não tenham trabalho de campo em todas as ilhas e que o serviço público de televisão não pague tudo o que for preciso para garantir isso. Mas o que importa perceber é que todas as sondagens e todos os estudos deste género resultam de compromissos entre o ideal e o possível. Amostras de 15.000 inquiridos em vez de 5.000, ir a todos os locais de voto de uma freguesia ou ir a todas as freguesias em vez de ir apenas a algumas, incluir telefones celulares em sondagens telefónicas em vez de apenas telefones fixos, fazer 15 ou 20 tentativas de encontrar um inquirido aleatoriamente numa casa em vez de apenas 4 ou 5, dar um mês em vez de uma semana de formação aos inquiridores, etc, etc, etc, a lista do "ideal" nas sondagens é interminável e inatingível. O importante é garantir que aquilo que se sacrifica não é suficientemente "grave" para impedir boas inferências. E manifestamente não foi, o que não nos impede de reconhecer e tentar descobrir os custos que esses sacrifícios podem ter imposto, até para se perceber que sacrifícios são legítimos da próxima vez.
Eu acho que este tipo de discussão até pode ser, em geral, saudável, e só acontece porque há cada vez mais transparência na maneira como se fazem sondagens. Sabem-se coisas intrigantes de que dantes nem se fazia ideia, aparecem novas perguntas, e conversa-se. Acho, se calhar com alguma pretensão, que não dei um contributo completamente irrelevante para isso.
Mas acho também que há dois tipos de discussão sobre sondagens e duas opções para as pessoas, como DBH, que exercem funções políticas. Podem aprender alguma coisa sobre sondagens e passam a poder fazer questões e críticas interessantes a quem trabalha nisto. Eu conheço algumas pessoas assim em quase todos os partidos (uma delas tem um blogue e outra até foi Primeiro-Ministro). Mas também se podem limitar a ter um discurso estritamente político sobre sondagens. O segundo é perfeitamente legítimo, mas serve apenas para conversarem uns com os outros. Não serve para mais.
A "chatice"
Diogo Belford Henriques (DBH) comenta, num post no 31 da Armada, este meu post sobre as sondagens à boca das urnas nos Açores.
DBH confunde várias coisas, a saber:
1. "Porque (sic) foram os resultados das eleições de ontem diferentes da sondagem (Eurosondagem, não CESOP)?"
O meu post não tem a ver com esse assunto. O meu post tem a ver com o facto da realização de sondagens nos Açores introduzir dificuldades diferentes (e superiores) à realização de outro tipo de sondagens eleitorais, mesmo que sejam sondagens à boca das urnas (e, por isso, livres dos problemas trazidos pela abstenção não declarada e pela medição de intenções e não comportamentos).
2. "Ao contrário do que diz o Pedro Magalhães, é possível ir a todas as ilhas"
Ao contrário do que sugere DBH, nenhum meio de comunicação social está disposto a pagar o que seria necessário pagar para que um instituto de sondagens pudesse realizar trabalho de campo presencial em todas as ilhas dos Açores, dispondo assim de uma amostra representativa dos - neste caso - votantes em todo o arquipélago e evitando assim ter de estimar alguns resultados por extrapolação, com todo o risco e incerteza que isso implica. A não ser que DBH esteja a querer dizer que é possível ir a todas as ilhas, ou seja, que há meios de transporte para lá chegar caso se queira lá ir. Mas se é isso, La Palisse estará contente na sua tumba.
3. "É possível telefonar (se não puder ir) a eleitores em todas as ilhas"
Quando DBH me explicar como é que se fazem sondagens à boca das urnas pelo telefone, eu ficar-lhe-ei eternamente grato.
4. "É possível ler na internet os jornais e rádios de cada ilha e conhecer as notícias e a política local (...) Mas implica trabalho."
Não, não vou dizer que não é possível ler rádios. Mas vou dizer que qualquer organização tem de ponderar os recursos de que dispõe e os benefícios que tenciona recolher do seu investimento. E vou dizer também que, por muito investimento que se faça, é muito mais fácil a alguém que conhece a política nacional e algumas "políticas locais" saber onde procurar informação e interpretá-la correctamente do que a alguém que não as conhece. O meu post era uma confissão de ignorância. Fizemos investimento para compensar essa ignorância (que nos permitiu perceber, entre muitas outras coisas, que os resultados que estávamos a captar do CDS eram credíveis) mas esse investimento daria sempre, em comparação com o que fizéssemos noutros contextos com os quais temos maior familiaridade, menos retornos.
5. "É possível que os "pequenos partidos" decidam livremente e consigam ter bons candidatos em nove ilhas."
Sim, é possível. E?
E parece que a palavra "chatice" também foi mal interpretada. Foi usada no sentido de dizer que as eleições nos Açores, por razões que já devem ser óbvias, nos colocam problemas maiores que as outras. Mas não é "chato" trabalhar nos Açores. Faz-se o que se gosta e, ainda por cima, aprende-se. E não é chato ir aos Açores. São lindos. Têm uma pessoa ou outra um bocado obtusa. Mas isso é coisa que também há (se calhar até mais) no Continente.
P.S- Dou-me conta que a única parte do post que não comentei foi o parágrafo final. Mas essa é a única parte do texto que me parece verdadeiramente mal-intencionada, pelo que nem vale a pena comentar.
DBH confunde várias coisas, a saber:
1. "Porque (sic) foram os resultados das eleições de ontem diferentes da sondagem (Eurosondagem, não CESOP)?"
O meu post não tem a ver com esse assunto. O meu post tem a ver com o facto da realização de sondagens nos Açores introduzir dificuldades diferentes (e superiores) à realização de outro tipo de sondagens eleitorais, mesmo que sejam sondagens à boca das urnas (e, por isso, livres dos problemas trazidos pela abstenção não declarada e pela medição de intenções e não comportamentos).
2. "Ao contrário do que diz o Pedro Magalhães, é possível ir a todas as ilhas"
Ao contrário do que sugere DBH, nenhum meio de comunicação social está disposto a pagar o que seria necessário pagar para que um instituto de sondagens pudesse realizar trabalho de campo presencial em todas as ilhas dos Açores, dispondo assim de uma amostra representativa dos - neste caso - votantes em todo o arquipélago e evitando assim ter de estimar alguns resultados por extrapolação, com todo o risco e incerteza que isso implica. A não ser que DBH esteja a querer dizer que é possível ir a todas as ilhas, ou seja, que há meios de transporte para lá chegar caso se queira lá ir. Mas se é isso, La Palisse estará contente na sua tumba.
3. "É possível telefonar (se não puder ir) a eleitores em todas as ilhas"
Quando DBH me explicar como é que se fazem sondagens à boca das urnas pelo telefone, eu ficar-lhe-ei eternamente grato.
4. "É possível ler na internet os jornais e rádios de cada ilha e conhecer as notícias e a política local (...) Mas implica trabalho."
Não, não vou dizer que não é possível ler rádios. Mas vou dizer que qualquer organização tem de ponderar os recursos de que dispõe e os benefícios que tenciona recolher do seu investimento. E vou dizer também que, por muito investimento que se faça, é muito mais fácil a alguém que conhece a política nacional e algumas "políticas locais" saber onde procurar informação e interpretá-la correctamente do que a alguém que não as conhece. O meu post era uma confissão de ignorância. Fizemos investimento para compensar essa ignorância (que nos permitiu perceber, entre muitas outras coisas, que os resultados que estávamos a captar do CDS eram credíveis) mas esse investimento daria sempre, em comparação com o que fizéssemos noutros contextos com os quais temos maior familiaridade, menos retornos.
5. "É possível que os "pequenos partidos" decidam livremente e consigam ter bons candidatos em nove ilhas."
Sim, é possível. E?
E parece que a palavra "chatice" também foi mal interpretada. Foi usada no sentido de dizer que as eleições nos Açores, por razões que já devem ser óbvias, nos colocam problemas maiores que as outras. Mas não é "chato" trabalhar nos Açores. Faz-se o que se gosta e, ainda por cima, aprende-se. E não é chato ir aos Açores. São lindos. Têm uma pessoa ou outra um bocado obtusa. Mas isso é coisa que também há (se calhar até mais) no Continente.
P.S- Dou-me conta que a única parte do post que não comentei foi o parágrafo final. Mas essa é a única parte do texto que me parece verdadeiramente mal-intencionada, pelo que nem vale a pena comentar.
Ainda o Bradley effect
O Professor e o Monstro.
Larry Bartels tem um ensaio imperdível intitulado "The Irrational Electorate" na The Wilson Quartely. A economia comportamental está na berra, e chega a altura da sua influência se sentir também na Ciência Política. Bartels chega a citar um dos mais conhecidos livros de divulgação sobre o tema, que por acaso li nestas férias:
E uma curiosidade: Rush Limbaugh adorou o ensaio. Sim, Rush Limbaugh:
Outros livros relacionados que li nestas férias, já agora:
Achei-os todos muito bons, o Winner's Curse mais canonicamente académico, os restantes óptimos livros de divulgação académica (o Nudge mais "policy-oriented", aparentemente próximo dos círculos de Obama), como cá não há.
Voltando a Bartels:
"These and other recent studies offer abundant evidence that election outcomes can be powerfully affected by factors unrelated to the competence and convictions of the candidates. But if voters are so whimsical, choosing the candidate with the most competent-looking face or the most recent television ad, how do they often manage to sound so sensible? Most people seem able to provide cogent-sounding reasons for voting the way they do. However, careful observation suggests that these “reasons” often are merely rationalizations constructed from readily available campaign rhetoric to justify preferences formed on other grounds."
O ensaio é uma crítica à ideia de que os votantes são racionais e de que a sua ignorância possa ser compensada quer pelo recurso a "heurísticas" quer pela agregação das decisões individuais.
E uma curiosidade: Rush Limbaugh adorou o ensaio. Sim, Rush Limbaugh:
"I mention this story, actually it's an article from the Wilson Quarterly, the Woodrow Wilson Center for scholars: "The Irrational Electorate." It's by Larry Bartels who directs the Center for the Study of Democratic Politics in Princeton University's Woodrow Wilson School of Public and International Affairs. He is the author of Unequal Democracy: The Political Economy of the New Gilded Age, published earlier this year by the Russell Sage Foundation and Princeton University Press. Now, when you print it out, it runs four or five pages. I'm not a scholar, and Mr. Bartels is, and, to me, the first part -- I had to read this a bunch of times. It reads like gobbledygook, and what it is is an analysis of a whole bunch of studies worldwide over many, many decades of the electorates, the electorates in democracies. And let me just give you some excerpts. One sentence in this piece -- and this is about how people determine who they are going to vote for. People are very short term in their focus. They tend to vote based on how the economy is going, rewarding or throwing the bums out regardless of party. But here's some interesting bits for you."
Açores 2
Rodrigo Moita de Deus pergunta no 31 de Armada: "Nas últimas legislativas regionais da Madeira também houve directos de televisão e mesas redondas com comentadores?"
Uma das maiores constipações da minha vida foi apanhada no dia 6 de Maio de 2007, noite das eleições regionais da Madeira, sentado três horas ao ar livre na Baía do Funchal enquanto José Alberto Carvalho, Marcelo Rebelo de Sousa, António Vitorino e, a espaços, Joe Berardo e outros madeirenses, discutiam animadamente os mais variados assuntos (incluindo a vitória de Sarkozy) em directo e ao vivo para a RTP nacional.
Por isso sim - atchim - houve directos de televisão e mesas redondas com comentadores...
Uma das maiores constipações da minha vida foi apanhada no dia 6 de Maio de 2007, noite das eleições regionais da Madeira, sentado três horas ao ar livre na Baía do Funchal enquanto José Alberto Carvalho, Marcelo Rebelo de Sousa, António Vitorino e, a espaços, Joe Berardo e outros madeirenses, discutiam animadamente os mais variados assuntos (incluindo a vitória de Sarkozy) em directo e ao vivo para a RTP nacional.
Por isso sim - atchim - houve directos de televisão e mesas redondas com comentadores...
Açores
De seguida, o quadro comparando as estimativas da sondagem à boca da urnas do CESOP com os que vieram a ser os resultados finais.
Não é mau, mas é pior que na Madeira, não é? Enquanto que tudo está muito próximo para os restantes partidos, o PS foi claramente sobrestimado.
Porquê? Os Açores é sempre uma chatice. Não se consegue ir a todas as ilhas e não conhecemos a política local: o carteiro que era candidato de um partido e agora passou para outro; os eleitores que andam chateados com a Câmara Municipal e castigam o partido nas regionais, etc. Ainda por cima, este ano, à conta do círculo de compensação, os pequenos partidos foram a todo o lado.
Pelo que consigo perceber neste momento, há duas razões para a sobrestimação do PS:
1. O problema começa logo na sondagem feita em S. Miguel e na Terceira (as únicas ilhas a que realmente fomos). Os resultados reais no conjunto das duas ilhas são 29,4% para o PSD e 53,5% para o PS. Mas nós tínhamos 27,1% para o PSD e 55,5% para o PS. Porquê este desvio? Não é assim tão grande, mas é maior do que costumamos apanhar. Não parecem ser as recusas: a correlação entre a percentagem de pessoas que recusou responder e a votação no PSD em 2004 é de .22, positiva (como se esperaria) mas baixa.
2. A extrapolação do que se passa na Terceira e S. Miguel para o resto dos Açores é perigosa, ou foi perigosa nesta eleição. Mesmo com os valores correctos para Terceira e S. Miguel, o nosso modelo continua a dar votos a mais ao PS (51%). Conclusão: parece que a entrada dos pequenos partidos em todos os círculos eleitorais mudou o jogo.
sexta-feira, outubro 17, 2008
Manipulação no Intrade
A propósito deste post:
Obrigado ao José Gomes André pela notícia.
"Robocalls"
Podem ouvir aqui e aqui duas das chamadas telefónicas pré-gravadas que a candidatura de McCain anda a fazer na Carolina do Norte, no Ohio, no Colorado e na Virginia.
(via The Ballot).
(via The Ballot).
Brooks on Obama
O conservador preferido dos liberais americanos, David Brooks, escreve um belo artigo sobre Obama no NYT. Brooks tem dúvidas: um potencial grande presidente, ou um "mero observador em vez de um líder"? Mas ver Obama comparado a F.D.R. e a Reagan é, ao mesmo tempo, extravagante e arguto:
"Some candidates are motivated by something they lack. For L.B.J., it was respect. For Bill Clinton, it was adoration. These politicians are motivated to fill that void. Their challenge once in office is self-regulation. How will they control the demons, insecurities and longings that fired their ambitions? But other candidates are propelled by what some psychologists call self-efficacy, the placid assumption that they can handle whatever the future throws at them. Candidates in this mold, most heroically F.D.R. and Ronald Reagan, are driven upward by a desire to realize some capacity in their nature. They rise with an unshakable serenity that is inexplicable to their critics and infuriating to their foes. Obama has the biography of the first group but the personality of the second."
"Some candidates are motivated by something they lack. For L.B.J., it was respect. For Bill Clinton, it was adoration. These politicians are motivated to fill that void. Their challenge once in office is self-regulation. How will they control the demons, insecurities and longings that fired their ambitions? But other candidates are propelled by what some psychologists call self-efficacy, the placid assumption that they can handle whatever the future throws at them. Candidates in this mold, most heroically F.D.R. and Ronald Reagan, are driven upward by a desire to realize some capacity in their nature. They rise with an unshakable serenity that is inexplicable to their critics and infuriating to their foes. Obama has the biography of the first group but the personality of the second."
Visualização de informação
Charles Franklin tem mais um gráfico - agora o nerd em mim toma conta - lindo no Political Arithmetik. E com esse gráfico, mostra:
1. Como a tarefa de McCain é incrivelmente difícil;
2. Como não se pode dizer que ela é completamente impossível, especialmente tendo em conta o que, aparentemente, se está a passar no Ohio. Ver aqui e, nas "tools", escolher a opção de smoothing "more sensitive".
Obama faz o que lhe compete quando avisa apoiantes: "I guess it's two words for you: New Hampshire".
1. Como a tarefa de McCain é incrivelmente difícil;
2. Como não se pode dizer que ela é completamente impossível, especialmente tendo em conta o que, aparentemente, se está a passar no Ohio. Ver aqui e, nas "tools", escolher a opção de smoothing "more sensitive".
Obama faz o que lhe compete quando avisa apoiantes: "I guess it's two words for you: New Hampshire".
Azares
O Público coloca na primeira página "McCain cada vez mais longe de Obama". A média móvel da vantagem de Obama sobre McCain na Real Clear Politics passa de +8,2 (dia 14) para +7,3 (dia15) para +6,8 (dia 16). A internet está em baixo na Rua Viriato?
Só me meto com o Público porque é o "meu" jornal, quer como leitor quer como colunista.
Só me meto com o Público porque é o "meu" jornal, quer como leitor quer como colunista.
quinta-feira, outubro 16, 2008
O Senado
Nos blogues portugueses, não se tem falado muito nas eleições para o Senado, mas agora que a vitória nas presidenciais parece muito provável, a preocupação dos Democratas é ganhar suficientes lugares no Senado para terem não só uma maioria mas também uma maioria "fillibuster-proof", ou seja, 60 lugares.
Como estão as coisas? Bem, democratas e republicanos têm 49 senadores cada, e há ainda 2 independentes: Joe Lieberman (cada vez mais próximo dos Republicanos, mas liberal - no sentido americano - em muitos temas) e Bernie Sanders (o único socialista no Senado e que vota com os Democratas a maior parte das vezes). Lieberman e Sanders fazem parte do grupo parlamentar dos Democratas (mas Lieberman pode mudar de ideias).
Em Novembro, estão em disputa 35 lugares, 23 nas mãos de Republicanos e 12 nas mãos de Democratas. Há uma série de estados onde nada deve mudar. Não há estados Democratas em risco de passaram para Republicanos. Mas há várias possibilidades de mudança de mãos de Republicanos para Democratas: Alaska, Colorado, Georgia, Minnesota, New Hampshire, New Mexico, North Carolina, Oregon e Virginia. Nove potenciais pick-ups, que deixariam os Democratas com 58 senadores. Com Sanders, 59. E Lieberman 60. Parece que, se queremos emoções no dia 4, vai ter de ser aqui.
Como estão as coisas? Bem, democratas e republicanos têm 49 senadores cada, e há ainda 2 independentes: Joe Lieberman (cada vez mais próximo dos Republicanos, mas liberal - no sentido americano - em muitos temas) e Bernie Sanders (o único socialista no Senado e que vota com os Democratas a maior parte das vezes). Lieberman e Sanders fazem parte do grupo parlamentar dos Democratas (mas Lieberman pode mudar de ideias).
Em Novembro, estão em disputa 35 lugares, 23 nas mãos de Republicanos e 12 nas mãos de Democratas. Há uma série de estados onde nada deve mudar. Não há estados Democratas em risco de passaram para Republicanos. Mas há várias possibilidades de mudança de mãos de Republicanos para Democratas: Alaska, Colorado, Georgia, Minnesota, New Hampshire, New Mexico, North Carolina, Oregon e Virginia. Nove potenciais pick-ups, que deixariam os Democratas com 58 senadores. Com Sanders, 59. E Lieberman 60. Parece que, se queremos emoções no dia 4, vai ter de ser aqui.
Os debates
A vantagem de Obama, em pontos percentuais, nas sondagens sobre os "vencedores dos debates":
Dia 27 de Setembro:
CNN: +13
CBS (indecisos): +28
Mediacurves (independentes): +22
Dia 8 de Outubro:
CNN: +24
CBS (indecisos): +12
Mediacurves (independentes): +18
Dia 15 de Outubro:
CNN: +27
CBS (indecisos):+31
Mediacurves (independentes):+30
É curioso que seja neste último debate que as vantagens de Obama sejam maiores, tendo em conta que, objectivamente, não é nada evidente que este tenha sido o melhor debate para ele, pelo contrário. Mas esta amostra é, se pensarmos bem, auto-seleccionada (só viu o debate quem quis) e a leitura do que se passou é, naturalmente, moldada pelo "mood" geral da campanha. McCain esteve melhor que nos debates anteriores, mas manifestamente não chegou, e nunca poderia ter chegado (a não ser que tivesse havido uma catástrofe qualquer).
Dia 27 de Setembro:
CNN: +13
CBS (indecisos): +28
Mediacurves (independentes): +22
Dia 8 de Outubro:
CNN: +24
CBS (indecisos): +12
Mediacurves (independentes): +18
Dia 15 de Outubro:
CNN: +27
CBS (indecisos):+31
Mediacurves (independentes):+30
É curioso que seja neste último debate que as vantagens de Obama sejam maiores, tendo em conta que, objectivamente, não é nada evidente que este tenha sido o melhor debate para ele, pelo contrário. Mas esta amostra é, se pensarmos bem, auto-seleccionada (só viu o debate quem quis) e a leitura do que se passou é, naturalmente, moldada pelo "mood" geral da campanha. McCain esteve melhor que nos debates anteriores, mas manifestamente não chegou, e nunca poderia ter chegado (a não ser que tivesse havido uma catástrofe qualquer).
quarta-feira, outubro 15, 2008
Boatos
Aproveito para informar que o Centro de Sondagens e Estudos de Opinião da Universidade Católica não conduziu nem vai conduzir qualquer estudo nos Açores medindo intenções de voto. O único trabalho que será feito é uma sondagem à boca das urnas, cujos resultados serão divulgados à hora de encerramento das urnas. Logo, todos os alegados resultados de uma "sondagem da Católica nos Açores" que circulam por aí são falsos.
Early voting
A impressão que me ficou desta visita a uma secção de voto em Columbus parece ser mais representativa do que eu imaginava. Nas sondagens que vem fazendo nalguns estados, a Survey USA tem tentado apanhar os early voters. Conclusões (via FiveThirtyEight):
1. Nos estados do Ohio, Novo México, Georgia e Indiana, até aos dias 9-13 de Outubro, tinham votado mais de 10% dos eleitores recenseados. Na Carolina do Norte, até ao dia 6, apenas 5%.
2. Entre os que ainda não votaram - entre as intenções de voto - Obama domina no Indiana, Novo México e Ohio, enquanto McCain domina na Georgia e na Carolina do Norte.
3. Mas entre os early voters, Obama domina nos cinco estados, com margens que chegam aos 34%.
Mera correlação entre prediposição para votar antes e preferência por Obama? Ou também sinal de uma excepcional mobilização dos Democratas?
1. Nos estados do Ohio, Novo México, Georgia e Indiana, até aos dias 9-13 de Outubro, tinham votado mais de 10% dos eleitores recenseados. Na Carolina do Norte, até ao dia 6, apenas 5%.
2. Entre os que ainda não votaram - entre as intenções de voto - Obama domina no Indiana, Novo México e Ohio, enquanto McCain domina na Georgia e na Carolina do Norte.
3. Mas entre os early voters, Obama domina nos cinco estados, com margens que chegam aos 34%.
Mera correlação entre prediposição para votar antes e preferência por Obama? Ou também sinal de uma excepcional mobilização dos Democratas?
ACORN
Começam a acumular-se relatos de tentativas de fraude no registo de novos eleitores por parte de uma organização chamada ACORN, alegadamente apartidária mas com também alegadas ligações ao Partido Democrata e até a Obama. Obama já tentou neutralizar o potencial escândalo.
Maldade
terça-feira, outubro 14, 2008
The Ohio State Buckeyes
Apesar da separação entre Estado e Igreja, há uma religião oficial no Ohio. O estádio está cheio para todos os jogos. São 105.000 pessoas. Começam por beber uns copos numa zona chamada Heiny Gate. Esta zona está vedada e ninguém pode levar bebidas alcoólicas para fora dela. Contudo, para muitos undergrduates, os copos começam 6ª feira à noite e só acabam na noite do dia seguinte. Depois seguem, os que cabem, para a St. John Arena, onde toca a TBDBITL: The Best Damn Band in the Land. Depois a banda segue em passo de corrida para o estádio, onde há uma cerimónia adicional à entrada do túnel. No estádio, todos de pé, primeiro para ouvir a Carmen Ohio e depois para o hino dos Estados Unidos. O Script Ohio consiste em escrever o nome do estádio com os elementos da banda. Depois há o "dotting the i", ou seja, um dos músicos serve de "ponto no i". Depois disto tudo ainda há o jogo, e pelo meio cheerleaders, os gestos que fazem O-H-I-O com os braços em cada um dos quatro lados do estádio, o half-time show, festejos se Michigan está a perder, o Hang On Sloopy no último quarter e, se ganham os Buckeyes, tocam os sinos no estádio. Ganhámos a Purdue, não me lembro por quantos. O jogo foi chato, toda a gente achou. Há um livro do Eric Hobsbwam que se chama The Invention of Tradition de que gostei muito quando li, há muito muito tempo.
Está tudo decidido?
Larry Bartels e Robert Erikson.
Já agora, lembro-me de há uns anos anunciar neste blogue a chegada à blogosfera de vários cientistas políticos. Mas com Bartels e Erikson, chegámos finalmente ao topo da cadeia alimentar.
segunda-feira, outubro 13, 2008
Votar em Columbus, Ohio
Já se pode. E já se podia a 35 dias das eleições. De há dois anos para cá, o chamado absentee voting passou a ser aberto a todas as pessoas. Na baixa de Columbus existe um centro aberto. Basta levar a carta de condução ou dar o número da Segurança Social. Ate há dias, era ainda possível, no mesmo local, o recenseamento e o voto. Durante esses dias, havia filas com centenas de pessoas. Mas agora só se aceitam votos.
O boletim de voto é impresso no momento. Isto sucede porque neste centro podem votar pessoas que residem em diferentes círculos eleitorais e em cada círculo eleitoral há eleições com candidatos diferentes para cargos diferentes. Vota-se em muita coisa ao mesmo tempo. Abaixo está um sample ballot, um boletim de voto fictício distribuido pelo Partido Democrata, onde se explica em quem se deve votar para cada cargo.
Tenho assim um palpite sobre o partido em que a maior parte das pessoas abaixo estão a votar.
A distribuição dos sample ballots faz-se à porta, por voluntários dos partidos e até alguns candidatos. Têm de estar a uma distância minima do edifício, 50 metros, creio. Hoje, e em todos os dias anteriores desde que isto abriu, dizem-me, só estiveram aqui voluntários e candidatos do Partido Democrata. Nao sei como interpretar isto. Sentimento de derrota antecipada? Early voters are all Democrats anyway?
A candidata a Coroner pelo Partido Democrata, Jan Gorniak.
domingo, outubro 12, 2008
Cell only
Há três grandes dúvidas sobre todas as sondagens que vamos conhecendo sobre as eleições americanas: o "Bradley" effect; os modelos de "votantes prováveis"; e as sondagens telefónicas.
Sobre o primeiro, já falei aqui: a opinião generalizada é a de que este efeito - que leva a uma subestimação dos votos contra candidatos negros - se existir, deverá ser muito menor que no passado. Mas quanto menor? E será que as conclusões de estudos anteriores sobre outro tipo de eleição se aplicam a uma eleição como esta?
Sobre o segundo, o que importa dizer é que várias sondagens usam modelos de votantes prováveis, de forma a eliminar os efeitos de uma "sobredeclaração" de voto. Os modelos baseiam-se em resultados anteriores e, por isso, podem estar completamente errados. Mas por outro lado, não se detectam diferenças significativas entre as sondagens que usam estes modelos e sondagens que não o fazem, pelo que o problema talvez não seja de grande importância.
O terceiro problema é simples: as sondagens telefónicas são feitas para telefones fixos. Mas estima-se que 17% dos adultos só tenham telefones celulares. São desproporcionalmente jovens, desproporcionalmente mais abstencionistas - o que mitiga os efeitos da sua não representação nas sondagens - mas também - guess what - desproporcionalmente pró-Obama. E parece que a utilização de ponderadores amostrais, reequlibrando as amostras em termos de idade, não chegam para lidar com este efeito.
Isto tudo para dizer o quê? A vantagem de Obama nas sondagens - de momento quase em 9 pontos a nível nacional -pode estar a ser sobrestimada devido ao Bradley effect. Mas pode estar a ser subestimada devido à exclusão de eleitores cell-only.
P.S.- Via O Valor das Ideias, mais um artigo sobre o Bradley effect.
Sobre o primeiro, já falei aqui: a opinião generalizada é a de que este efeito - que leva a uma subestimação dos votos contra candidatos negros - se existir, deverá ser muito menor que no passado. Mas quanto menor? E será que as conclusões de estudos anteriores sobre outro tipo de eleição se aplicam a uma eleição como esta?
Sobre o segundo, o que importa dizer é que várias sondagens usam modelos de votantes prováveis, de forma a eliminar os efeitos de uma "sobredeclaração" de voto. Os modelos baseiam-se em resultados anteriores e, por isso, podem estar completamente errados. Mas por outro lado, não se detectam diferenças significativas entre as sondagens que usam estes modelos e sondagens que não o fazem, pelo que o problema talvez não seja de grande importância.
O terceiro problema é simples: as sondagens telefónicas são feitas para telefones fixos. Mas estima-se que 17% dos adultos só tenham telefones celulares. São desproporcionalmente jovens, desproporcionalmente mais abstencionistas - o que mitiga os efeitos da sua não representação nas sondagens - mas também - guess what - desproporcionalmente pró-Obama. E parece que a utilização de ponderadores amostrais, reequlibrando as amostras em termos de idade, não chegam para lidar com este efeito.
Isto tudo para dizer o quê? A vantagem de Obama nas sondagens - de momento quase em 9 pontos a nível nacional -pode estar a ser sobrestimada devido ao Bradley effect. Mas pode estar a ser subestimada devido à exclusão de eleitores cell-only.
P.S.- Via O Valor das Ideias, mais um artigo sobre o Bradley effect.
sábado, outubro 11, 2008
Xanax, precisa-se
McCain Draws Line on Attacks as Crowds Cry ‘Fight Back’
By ELISABETH BUMILLER
Published: October 10, 2008
LAKEVILLE, Minn. — After a week of trying to portray Senator Barack Obama as a friend of terrorists who would drive the country into bankruptcy, Senator John McCain abruptly changed his tone on Friday and told voters at a town-hall-style meeting that Mr. Obama was “a decent person” and a “family man” and suggested that he would be an acceptable president should he win the White House. But moments later, Mr. McCain, the Republican nominee, renewed his attacks on Mr. Obama for his association with the 1960s radical William Ayers and told the crowd, “Mr. Obama’s political career was launched in Mr. Ayers’ living room.”
(...)
When a man told him he was “scared” of an Obama presidency, Mr. McCain replied, “I want to be president of the United States and obviously I do not want Senator Obama to be, but I have to tell you — I have to tell you — he is a decent person and a person that you do not have to be scared" of "as president of the United States.” The crowd booed loudly at Mr. McCain’s response. Later, a woman stood up at the meeting, held at Lakeville South High School in a far suburb of Minneapolis, and told Mr. McCain that she could not trust Mr. Obama because he was an “Arab.” Mr. McCain replied: “No, ma’am, he’s a decent family man, citizen who I just happen to have disagreements with on fundamental issues. And that’s what this campaign is all about.” At that, the crowd applauded.
(continua)
Ontem à noite, no programa de Larry King, Jonah Goldberg parecia próximo da apoplexia, especialmente quando comentava a frase de McCain num comício: "no reason to be scared of him [Obama]being the President of the United States". O establishment republicano, de resto, pelo que ouço nos talk-shows na rádio, prepara-se para culpar McCain pela derrota, nomedamente pelas afirmações de ontem sobre Obama e por não ter votado contra o bailout.
Como vêem, a proximidade aos acontecimentos aumenta exponencialmente a minha imparcialidade...
By ELISABETH BUMILLER
Published: October 10, 2008
LAKEVILLE, Minn. — After a week of trying to portray Senator Barack Obama as a friend of terrorists who would drive the country into bankruptcy, Senator John McCain abruptly changed his tone on Friday and told voters at a town-hall-style meeting that Mr. Obama was “a decent person” and a “family man” and suggested that he would be an acceptable president should he win the White House. But moments later, Mr. McCain, the Republican nominee, renewed his attacks on Mr. Obama for his association with the 1960s radical William Ayers and told the crowd, “Mr. Obama’s political career was launched in Mr. Ayers’ living room.”
(...)
When a man told him he was “scared” of an Obama presidency, Mr. McCain replied, “I want to be president of the United States and obviously I do not want Senator Obama to be, but I have to tell you — I have to tell you — he is a decent person and a person that you do not have to be scared" of "as president of the United States.” The crowd booed loudly at Mr. McCain’s response. Later, a woman stood up at the meeting, held at Lakeville South High School in a far suburb of Minneapolis, and told Mr. McCain that she could not trust Mr. Obama because he was an “Arab.” Mr. McCain replied: “No, ma’am, he’s a decent family man, citizen who I just happen to have disagreements with on fundamental issues. And that’s what this campaign is all about.” At that, the crowd applauded.
(continua)
Ontem à noite, no programa de Larry King, Jonah Goldberg parecia próximo da apoplexia, especialmente quando comentava a frase de McCain num comício: "no reason to be scared of him [Obama]being the President of the United States". O establishment republicano, de resto, pelo que ouço nos talk-shows na rádio, prepara-se para culpar McCain pela derrota, nomedamente pelas afirmações de ontem sobre Obama e por não ter votado contra o bailout.
Como vêem, a proximidade aos acontecimentos aumenta exponencialmente a minha imparcialidade...
sexta-feira, outubro 10, 2008
Sobre a Appalachia (em resposta a um comentário)
Obama zeros in on Ohio
Strickland helps nominee court Appalachian vote
Friday, October 10, 2008 3:04 AM
By Joe Hallett
PORTSMOUTH, Ohio -- With Appalachian Ohio's favorite son in tow, Democratic presidential nominee Barack Obama last night appealed to voters in the state's most economically distressed and politically fickle region, one which could decide the outcome of the Ohio election. A month to the day from his last visit to Ohio, Obama began a strategic swing to an area that was unfriendly to him in the March primary election, stressing that his economic plan offers more to voters than "John McCain's George Bush policies."
Obama zeroed in on another dismal day on Wall Street following yesterday's 679-point Dow Jones loss.
"Now is not the time for fear or panic; now is the time for resolve and leadership so we can steer out of this crisis," Obama told a huge outdoor gathering at Shawnee State University.
Obama was joined at every stop yesterday, including Dayton and Cincinnati, by Gov. Ted Strickland. But nowhere does he need Strickland's help more than in Ohio's 29-county Appalachian region, which Strickland won with 70 percent of the vote in 2006 and Obama lost by an average of 44 points per county to Sen. Hillary Clinton in the March primary.
Greeted like a hometown hero, Strickland beseeched the crowd "to put aside the angry rhetoric and smear tactics" of the McCain campaign and vote for Obama in their own economic self-interests.
On the same day that the National Rifle Association endorsed McCain, Strickland reassured voters in a gun-loving region that "if you are a hunter or a gun owner ... you have nothing to fear from Barack Obama. You spread the word -- Ted Strickland said so."
Appalachia Ohio is a traditional swing area in presidential elections -- Republican President George W. Bush won it twice and Democratic President Bill Clinton won it twice before him -- because voters often are in a throw-the-bums-out mood because of chronically high unemployment.
(continua)
Strickland helps nominee court Appalachian vote
Friday, October 10, 2008 3:04 AM
By Joe Hallett
PORTSMOUTH, Ohio -- With Appalachian Ohio's favorite son in tow, Democratic presidential nominee Barack Obama last night appealed to voters in the state's most economically distressed and politically fickle region, one which could decide the outcome of the Ohio election. A month to the day from his last visit to Ohio, Obama began a strategic swing to an area that was unfriendly to him in the March primary election, stressing that his economic plan offers more to voters than "John McCain's George Bush policies."
Obama zeroed in on another dismal day on Wall Street following yesterday's 679-point Dow Jones loss.
"Now is not the time for fear or panic; now is the time for resolve and leadership so we can steer out of this crisis," Obama told a huge outdoor gathering at Shawnee State University.
Obama was joined at every stop yesterday, including Dayton and Cincinnati, by Gov. Ted Strickland. But nowhere does he need Strickland's help more than in Ohio's 29-county Appalachian region, which Strickland won with 70 percent of the vote in 2006 and Obama lost by an average of 44 points per county to Sen. Hillary Clinton in the March primary.
Greeted like a hometown hero, Strickland beseeched the crowd "to put aside the angry rhetoric and smear tactics" of the McCain campaign and vote for Obama in their own economic self-interests.
On the same day that the National Rifle Association endorsed McCain, Strickland reassured voters in a gun-loving region that "if you are a hunter or a gun owner ... you have nothing to fear from Barack Obama. You spread the word -- Ted Strickland said so."
Appalachia Ohio is a traditional swing area in presidential elections -- Republican President George W. Bush won it twice and Democratic President Bill Clinton won it twice before him -- because voters often are in a throw-the-bums-out mood because of chronically high unemployment.
(continua)
Sondagem CESOP, Outubro de 2008
Realizada para o JN, a RTP e a RDP. O relatório-síntese do estudo pode ser descarregado aqui.
quinta-feira, outubro 09, 2008
Ohio e os comícios
McCain, Palin and Obama andam pelo Ohio por estes dias. Numa semana, as duas campanhas gastaram 4 milhões de dólares em publicidade só neste estado. Os dados sugerem que Obama tem, nesta fase, mais dinheiro para gastar que McCain, e que está a geri-lo de forma diferente. Os Democratas estão a gastar em estados antes vistos como improváveis mas onde as mudanças das últimas semanas sugerem a possibilidade de vitória. No Indiana, o rácio a favor de Obama em despesas de campanha é de 20 para 1.
Obama vem a Columbus amanhã. Pelas mailing lists da Universidade, circulam mensagens pedindo voluntários entre as 10 e as 16h de amanhã para gerir o comício. É assim que a coisa funciona. O dinheiro vai quase todo para os anúncios televisivos. Contudo, há cada vez menos pessoas que os vêem. Cada vez mais pessoas têm sistemas tipo TiVo, através dos quais gravam os programas que querem ver e saltam a publicidade. Anteontem, foi assim que assisti ao debate: com um atraso de alguns minutos em relação à emissão ao vivo, fazendo "pausa" para discutirmos pormenores, retomando depois o visionamento da gravação.
Os comícios de McCain e Palin estão tornar-se um bocado edgy. Antes de um ou outro chegarem, há discursos de figuras locais para aquecer a multidão, onde Obama é chamado "Barack Hussein Obama". Quando se lhes pede comentários, McCain e Palin dizem que não têm nada a ver com o assunto. Os discursos deles têm sido pontuados por gritos dos assistentes quando o nome de Obama é mencionado: "terrorist", "traitor" e coisas assim. Há dias, parece que alguém gritou "kill him", e um técnico de som da CNN, negro, foi insultado.
Obama vem a Columbus amanhã. Pelas mailing lists da Universidade, circulam mensagens pedindo voluntários entre as 10 e as 16h de amanhã para gerir o comício. É assim que a coisa funciona. O dinheiro vai quase todo para os anúncios televisivos. Contudo, há cada vez menos pessoas que os vêem. Cada vez mais pessoas têm sistemas tipo TiVo, através dos quais gravam os programas que querem ver e saltam a publicidade. Anteontem, foi assim que assisti ao debate: com um atraso de alguns minutos em relação à emissão ao vivo, fazendo "pausa" para discutirmos pormenores, retomando depois o visionamento da gravação.
Os comícios de McCain e Palin estão tornar-se um bocado edgy. Antes de um ou outro chegarem, há discursos de figuras locais para aquecer a multidão, onde Obama é chamado "Barack Hussein Obama". Quando se lhes pede comentários, McCain e Palin dizem que não têm nada a ver com o assunto. Os discursos deles têm sido pontuados por gritos dos assistentes quando o nome de Obama é mencionado: "terrorist", "traitor" e coisas assim. Há dias, parece que alguém gritou "kill him", e um técnico de som da CNN, negro, foi insultado.
quarta-feira, outubro 08, 2008
Levar Sarah Palin a sério
O que eu queria dizer com "levar Sarah Palin a sério" é mais ou menos isto:
New York Times
Op-Ed Columnist
Palin’s Kind of Patriotism
By THOMAS L. FRIEDMAN
Criticizing Sarah Palin is truly shooting fish in a barrel. But given the huge attention she is getting, you can’t just ignore what she has to say. And there was one thing she said in the debate with Joe Biden that really sticks in my craw. It was when she turned to Biden and declared: “You said recently that higher taxes or asking for higher taxes or paying higher taxes is patriotic. In the middle class of America, which is where Todd and I have been all of our lives, that’s not patriotic.”
What an awful statement. Palin defended the government’s $700 billion rescue plan. She defended the surge in Iraq, where her own son is now serving. She defended sending more troops to Afghanistan. And yet, at the same time, she declared that Americans who pay their fair share of taxes to support all those government-led endeavors should not be considered patriotic.
I only wish she had been asked: “Governor Palin, if paying taxes is not considered patriotic in your neighborhood, who is going to pay for the body armor that will protect your son in Iraq? Who is going to pay for the bailout you endorsed? If it isn’t from tax revenues, there are only two ways to pay for those big projects — printing more money or borrowing more money. Do you think borrowing money from China is more patriotic than raising it in taxes from Americans?” That is not putting America first. That is selling America first.
Sorry, I grew up in a very middle-class family in a very middle-class suburb of Minneapolis, and my parents taught me that paying taxes, while certainly no fun, was how we paid for the police and the Army, our public universities and local schools, scientific research and Medicare for the elderly. No one said it better than Justice Oliver Wendell Holmes: “I like paying taxes. With them I buy civilization.”
I can understand someone saying that the government has no business bailing out the financial system, but I can’t understand someone arguing that we should do that but not pay for it with taxes. I can understand someone saying we have no business in Iraq, but I can’t understand someone who advocates staying in Iraq until “victory” declaring that paying taxes to fund that is not patriotic.
How in the world can conservative commentators write with a straight face that this woman should be vice president of the United States? Do these people understand what serious trouble our country is in right now?
We are in the middle of an economic perfect storm, and we don’t know how much worse it’s going to get. People all over the world are hoarding cash, and no bank feels that it can fully trust anyone it is doing business with anywhere in the world. Did you notice that the government of Iceland just seized the country’s second-largest bank and today is begging Russia for a $5 billion loan to stave off “national bankruptcy.” What does that say? It tells you that financial globalization has gone so much farther and faster than regulatory institutions could govern it. Our crisis could bankrupt Iceland! Who knew?
And we have not yet even felt the full economic brunt here. I fear we may be at that moment just before the tsunami hits — when the birds take flight and the insects stop chirping because their acute senses can feel what is coming before humans can. At this moment, only good governance can save us. I am not sure that this crisis will end without every government in every major economy guaranteeing the creditworthiness of every financial institution it regulates. That may be the only way to get lending going again. Organizing something that big and complex will take some really smart governance and seasoned leadership.
Whether or not I agree with John McCain, he is of presidential timber. But putting the country in the position where a total novice like Sarah Palin could be asked to steer us through possibly the most serious economic crisis of our lives is flat out reckless. It is the opposite of conservative.
And please don’t tell me she will hire smart advisers. What happens when her two smartest advisers disagree?
And please also don’t tell me she is an “energy expert.” She is an energy expert exactly the same way the king of Saudi Arabia is an energy expert — by accident of residence. Palin happens to be governor of the Saudi Arabia of America — Alaska — and the only energy expertise she has is the same as the king of Saudi Arabia’s. It’s about how the windfall profits from the oil in their respective kingdoms should be divided between the oil companies and the people.
At least the king of Saudi Arabia, in advocating “drill baby drill,” is serving his country’s interests — by prolonging America’s dependence on oil. My problem with Palin is that she is also serving his country’s interests — by prolonging America’s dependence on oil. That’s not patriotic. Patriotic is offering a plan to build our economy — not by tax cuts or punching more holes in the ground, but by empowering more Americans to work in productive and innovative jobs. If Palin has that kind of a plan, I haven’t heard it.
New York Times
Op-Ed Columnist
Palin’s Kind of Patriotism
By THOMAS L. FRIEDMAN
Criticizing Sarah Palin is truly shooting fish in a barrel. But given the huge attention she is getting, you can’t just ignore what she has to say. And there was one thing she said in the debate with Joe Biden that really sticks in my craw. It was when she turned to Biden and declared: “You said recently that higher taxes or asking for higher taxes or paying higher taxes is patriotic. In the middle class of America, which is where Todd and I have been all of our lives, that’s not patriotic.”
What an awful statement. Palin defended the government’s $700 billion rescue plan. She defended the surge in Iraq, where her own son is now serving. She defended sending more troops to Afghanistan. And yet, at the same time, she declared that Americans who pay their fair share of taxes to support all those government-led endeavors should not be considered patriotic.
I only wish she had been asked: “Governor Palin, if paying taxes is not considered patriotic in your neighborhood, who is going to pay for the body armor that will protect your son in Iraq? Who is going to pay for the bailout you endorsed? If it isn’t from tax revenues, there are only two ways to pay for those big projects — printing more money or borrowing more money. Do you think borrowing money from China is more patriotic than raising it in taxes from Americans?” That is not putting America first. That is selling America first.
Sorry, I grew up in a very middle-class family in a very middle-class suburb of Minneapolis, and my parents taught me that paying taxes, while certainly no fun, was how we paid for the police and the Army, our public universities and local schools, scientific research and Medicare for the elderly. No one said it better than Justice Oliver Wendell Holmes: “I like paying taxes. With them I buy civilization.”
I can understand someone saying that the government has no business bailing out the financial system, but I can’t understand someone arguing that we should do that but not pay for it with taxes. I can understand someone saying we have no business in Iraq, but I can’t understand someone who advocates staying in Iraq until “victory” declaring that paying taxes to fund that is not patriotic.
How in the world can conservative commentators write with a straight face that this woman should be vice president of the United States? Do these people understand what serious trouble our country is in right now?
We are in the middle of an economic perfect storm, and we don’t know how much worse it’s going to get. People all over the world are hoarding cash, and no bank feels that it can fully trust anyone it is doing business with anywhere in the world. Did you notice that the government of Iceland just seized the country’s second-largest bank and today is begging Russia for a $5 billion loan to stave off “national bankruptcy.” What does that say? It tells you that financial globalization has gone so much farther and faster than regulatory institutions could govern it. Our crisis could bankrupt Iceland! Who knew?
And we have not yet even felt the full economic brunt here. I fear we may be at that moment just before the tsunami hits — when the birds take flight and the insects stop chirping because their acute senses can feel what is coming before humans can. At this moment, only good governance can save us. I am not sure that this crisis will end without every government in every major economy guaranteeing the creditworthiness of every financial institution it regulates. That may be the only way to get lending going again. Organizing something that big and complex will take some really smart governance and seasoned leadership.
Whether or not I agree with John McCain, he is of presidential timber. But putting the country in the position where a total novice like Sarah Palin could be asked to steer us through possibly the most serious economic crisis of our lives is flat out reckless. It is the opposite of conservative.
And please don’t tell me she will hire smart advisers. What happens when her two smartest advisers disagree?
And please also don’t tell me she is an “energy expert.” She is an energy expert exactly the same way the king of Saudi Arabia is an energy expert — by accident of residence. Palin happens to be governor of the Saudi Arabia of America — Alaska — and the only energy expertise she has is the same as the king of Saudi Arabia’s. It’s about how the windfall profits from the oil in their respective kingdoms should be divided between the oil companies and the people.
At least the king of Saudi Arabia, in advocating “drill baby drill,” is serving his country’s interests — by prolonging America’s dependence on oil. My problem with Palin is that she is also serving his country’s interests — by prolonging America’s dependence on oil. That’s not patriotic. Patriotic is offering a plan to build our economy — not by tax cuts or punching more holes in the ground, but by empowering more Americans to work in productive and innovative jobs. If Palin has that kind of a plan, I haven’t heard it.
The heart of it all
segunda-feira, outubro 06, 2008
Chiqueiro.
Sen. Barack Obama (D-Ill.) on Monday is launching a multimedia campaign to draw attention to the involvement of Sen. John McCain (R-Ariz.) in the “Keating Five” savings-and-loan scandal of 1989-91, which blemished McCain’s public image and set him on his course as a self-styled reformer.
Tenho dúvidas sobre a sensatez político-eleitoral desta coisa. É certo que enfraquece McCain num ponto muito mais sensível e importante hoje do que a conversa de Palin sobre os Weathermen. Mas retira ainda mais a Obama a possibilidade de invocar superioridade moral no que respeita à "campanha negativa". E contradiz aquilo que o próprio disse há uns meses.
A campanha nem estava a ser particularmente negativa, pelo contrário...
Tenho dúvidas sobre a sensatez político-eleitoral desta coisa. É certo que enfraquece McCain num ponto muito mais sensível e importante hoje do que a conversa de Palin sobre os Weathermen. Mas retira ainda mais a Obama a possibilidade de invocar superioridade moral no que respeita à "campanha negativa". E contradiz aquilo que o próprio disse há uns meses.
A campanha nem estava a ser particularmente negativa, pelo contrário...
Avé Maria
O terceiro coelho que a candidatura de McCain tirou da cartola - depois de Sarah Palin e do "congelamento da campanha" - é o ataque às ligações de Obama a Bill Ayers, antigo líder dos Weathermen. Não é a primeira vez o assunto aparece: a candidatura de Hillary Clinton foi, aliás, a primeira a falar dele. Há uma breve análise dos factos num post antigo, de Fevereiro, de Noam Scheiber.
Não há muito a dizer, a não ser que cada coelho denuncia de forma crescente a percepção de que a eleição está perdida a não ser que se faça uma jogada desesperada. No futebol americano chama-se a isto um "hail Mary pass":
"a very long forward pass thrown near the end of a game where there is no probability for any other play to score points. This play is unlikely to be successful, because of the general inaccuracy of the pass and the defensive team's preparedness for the play makes it likely that it can intercept or knock down the ball."
Um dos passes bem sucedidos mais famosos de sempre é o "Flutie pass", num jogo entre Boston College e Miami:
Não há muito a dizer, a não ser que cada coelho denuncia de forma crescente a percepção de que a eleição está perdida a não ser que se faça uma jogada desesperada. No futebol americano chama-se a isto um "hail Mary pass":
"a very long forward pass thrown near the end of a game where there is no probability for any other play to score points. This play is unlikely to be successful, because of the general inaccuracy of the pass and the defensive team's preparedness for the play makes it likely that it can intercept or knock down the ball."
Um dos passes bem sucedidos mais famosos de sempre é o "Flutie pass", num jogo entre Boston College e Miami:
sexta-feira, outubro 03, 2008
Os VP's
O debate esteve longe de ser o freak show que alguns previam. Cada um teve total liberdade de representar o papel que lhe tinha sido escrito. As sondagens, que dão clara vitória a Biden, não reflectem o que se passou em St. Louis. Reflectem sim o que se está a passar no resto do país: as predisposições de quem assistiu e o mood geral da campanha. O debate não mudou nada. E como não mudou nada, tornou o desfecho previsto no post abaixo um pouco, apenas um pouco, mais plausível.
quinta-feira, outubro 02, 2008
Porrada (post para nerds completos das sondagens; pessoas normais não devem ler o que se segue)
Nos Estados Unidos, analistas e sites agregadores de sondagens há muitos, mas o Real Clear Politics, o Pollster.com de Blumenthal e Franklin e o FiveThirtyEight de Nate Silver são os mais conhecidos. Mas enquanto o RCP é mero agregador de dados e outra informação política, o Pollster.com e o FiveThirtyEight são analistas, e óptimos (e vale a pena ir também ao site de Drew Linzer para uma abordagem completamente diferente - Bayesiana - da de Nate Silver em relação à estimação das probabilidades de vitória nacional e nos estados).
Agora, o 538 deu-se conta de uns truques do Real Clear Politics no que respeita às sondagens incluidas e excluídas das médias móveis. A importância do RCP no debate político americano é hoje em dia tão grande que isto é grave. Aguarda-se reacção oficial.
Agora, o 538 deu-se conta de uns truques do Real Clear Politics no que respeita às sondagens incluidas e excluídas das médias móveis. A importância do RCP no debate político americano é hoje em dia tão grande que isto é grave. Aguarda-se reacção oficial.
Os pobres, a religião e o voto.
É muito comum - e ouvi a versão simplificada e cómica do argumento num stand-up show do Bill Maher há uns dias - pensar-se que há muitos "pobres" americanos que votam contra os seus interesses económicos. Por outras palavras, votam no Partido Republicano porque têm a cabeça cheia de disparates (versão "liberal") ou de valores (versão "conservadora") que lhe são metidos lá dentro pela religião.
Na verdade, é ao contrário. A probabilidade de os ricos votarem Bush em 2004 foi muito mais afectada pela religião do que a probabilidade dos pobres fazerem o mesmo. Este artigo explica porquê, e faz algumas comparações interessantes (incluindo Portugal, no less). Na verdade, a moral da história é a oposta à que é vulgarmente circulada:
This again fits the story of post-materialism, that economic concerns are more important in poorer areas, with social and religious issues mattering more among the rich. Religious and secular voters differ no more in America than in France, Germany, Sweden, and many other European countries, consistent with the post-materialist notion that people in richer countries have the luxury of voting on social issues.
P.S.- Mas se olharem para as linhas na figura 3, percebem desde logo como esta história é apenas uma parte da história. Portugal - pobre e desigual - parece um país rico - em que os rendimentos não afectam a propensão para votar à direita. Aqui e aqui, por exemplo, explica-se porquê. Tem a ver com o facto da clivagem económica no sistema partidário português ter estado subsumida a uma clivagem sobre o regime e com o facto de PS e PSD terem nascido catch-all parties e sem ancoragem social, como partidos "de poder" e não de representação de bases sociais. E há outros casos - Israel, por exemplo - em que a teoria geral cede a particularismos locais.
Na verdade, é ao contrário. A probabilidade de os ricos votarem Bush em 2004 foi muito mais afectada pela religião do que a probabilidade dos pobres fazerem o mesmo. Este artigo explica porquê, e faz algumas comparações interessantes (incluindo Portugal, no less). Na verdade, a moral da história é a oposta à que é vulgarmente circulada:
This again fits the story of post-materialism, that economic concerns are more important in poorer areas, with social and religious issues mattering more among the rich. Religious and secular voters differ no more in America than in France, Germany, Sweden, and many other European countries, consistent with the post-materialist notion that people in richer countries have the luxury of voting on social issues.
P.S.- Mas se olharem para as linhas na figura 3, percebem desde logo como esta história é apenas uma parte da história. Portugal - pobre e desigual - parece um país rico - em que os rendimentos não afectam a propensão para votar à direita. Aqui e aqui, por exemplo, explica-se porquê. Tem a ver com o facto da clivagem económica no sistema partidário português ter estado subsumida a uma clivagem sobre o regime e com o facto de PS e PSD terem nascido catch-all parties e sem ancoragem social, como partidos "de poder" e não de representação de bases sociais. E há outros casos - Israel, por exemplo - em que a teoria geral cede a particularismos locais.
quarta-feira, outubro 01, 2008
Quem votou como no bailout, 2
Mais ou menos definitivo, Nolan McCarty. Há uma regressão e tudo :-)
De resto, isto dá que pensar. Há uns anos, não muitos, teríamos de esperar por longas investigações, recolhas de dados e publicações em revistas especializadas para saber a resposta "não jornalística" à pergunta "que factores determinaram o voto dos congressistas?". Hoje, com os blogues, e com os dados do financiamento das campanhas, do voting record passado e das sondagens coligidos, organizados e acessíveis em formato digital, são dois dias para termos uma resposta robusta e academicamente sustentável à pergunta. É incrível, se pensarmos bem nisso.
Códigos de cores
No Pollster.com, o mapa mais pequeno com a silhueta dos Estados Unidos, que dá a tendência nacional, exibe, pela primeira vez desde Julho passado, o tom azul escuro.
A cotação de Obama nos Iowa Markets no contrato winner take all já está cima dos 70%, o que significa que se dá a McCain uma probabilidade de vitória inferior a 30%. Mas no contrato vote share a coisa anda - como é natural e acertado, parece-me - muito estável à volta dos 52-54%.
Sobre o Intrade, perdi confiança. Aqui explica-se porquê (com uma sugestão bastante sinistra do que poderá estar a acontecer).
A cotação de Obama nos Iowa Markets no contrato winner take all já está cima dos 70%, o que significa que se dá a McCain uma probabilidade de vitória inferior a 30%. Mas no contrato vote share a coisa anda - como é natural e acertado, parece-me - muito estável à volta dos 52-54%.
Sobre o Intrade, perdi confiança. Aqui explica-se porquê (com uma sugestão bastante sinistra do que poderá estar a acontecer).
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