Seguindo um link colocado num comentário a uma mensagem abaixo, cheguei a este interessante post. Uma das questões levantadas tem a ver com as taxas de resposta anormalmente altas que são reportadas nas fichas técnicas de algumas sondagens.
Note-se que a taxa de resposta em entrevistas telefónicas corresponde à proporção de entrevistas completas sobre a soma das seguintes parcelas:
1. Entrevistas completas
2. Entrevistas iniciadas mas não completadas;
3. Recusas;
4. Casos em que não se estabeleceu contacto com a pessoa que deveria responder;
5. Outros casos em que a pessoa que deveria ter sido inquirida não o pôde ser (falecido, incapaz de responder por razões físicas ou psíquicas, problemas linguísticos, etc.);
6. Casos em que não se conseguiu apurar se o nº de telefone seleccionado corresponde a um domicílio;
7. Casos em que o nº de telefone esteve ocupado nas várias tentativas.
8. Casos em que não se conseguiu determinar se no domicílio existe um membro do universo.
É evidente, para quem saiba um mínimo sobre como este tipo de sondagens correm realmente, que a divisão do valor 1 sobre a soma dos valores 1 a 8 nunca dá 0,85, ou seja, não há taxas de resposta de 85% em inquéritos deste género. Logo, uma das coisas com que a ERC se deveria preocupar, a meu ver, seria garantir que todos os institutos usam, nas suas fichas técnicas, a mesma definição do que é uma taxa de resposta, porque pelos vistos não o estão a fazer. Estarão, provavelmente, a relatar uma taxa de cooperação, que é simplesmente o rácio do valor em 1 sobre a soma dos valores 1 a 3 (na sua versão mais "benévola"). O que significa também que, enquanto não houver convergência de critérios, ninguém vai dar a taxa de resposta (ninguém está disposto a fornecer valores reais de 10-30% para que eles sejam - ilegitimamente - comparados com valores de 85%).
Isto é especialmente importante para as sondagens que usam amostragem aleatória porque, como se diz no post que mencionei inicialmente, é assim que se mostra em que medida a amostra obtida se desvia da presunção de que todos os seus elementos resultaram de uma selecção dos membros do universo com igual probabilidade.
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3 comentários:
Caro Pedro Magalhães,
0,85 é a taxa de "resposta" obtida por 1/(1+3), não há referência a 2.
Eu escrevi "taxa de resposta é anormalmente elevada", mesmo considerando 1/(1+3)=0,85 quando o desenho da amostra é "rigoroso", no sentido de fazer o máximo de esforço para entrevistar quem foi realmente seleccionado para a amostra e não desistir ao 1.º obstáculo (parcelas 4 a 8).
Provavelmente não haverá estudos do género em Portugal, mas nos EUA tem-se estudado, entre outros "defeitos" das sondagens telefónicas, o impacto de recorrer a sondagens com trabalho de campo de curta duração (no caso português, ele demora de 2 a 3 dias) na estimativa das intenções de voto. [Basta estar atento ao Public Opinion Quarterly]
Os resultados são claros. Este tipo de sondagens, em que se desiste facilmente de obter a entrevista do inquirido seleccionado, subestima a abstenção e sobrestima o voto republicano.
No caso português, o meu palpite é que as parcelas 3, 4 e 5 estejam correlacionadas com abstenção nas urnas, mas eu não trabalho no ramo, você deverá ter uma ideia mais precisa sobre isso!
Pergunta mais interessante será esta: (3+4+5) afectará de algum modo a estimativa de voto num determinado partido?
Olá beijokense.
Tem a certeza que os .85 reportados na sondagem em concreto são apenas em relação à soma de inquéritos completos e recusas? Não sabia, sinceramente.
Sim, claro, tem toda a razão sobre as consequências na necessidade de rapidez no trabalho de campo. Não creio que 5. tenha relevância. 3. e 4. é que são elas. Apesar de tudo, se tivermos bem presente como 3.e 4. são elevadas, o que é espantoso é que as sondagens antes das eleições se aproximem tanto do resultado. Há muitas coisas que podem explicar isso, até efeitos cruzados de vários factores que se cancelem mutuamente. Mas uma hipótese é que, de facto, 3 e 4 sejam tendencialmente abstencionistas... Tudo isto é muito mais fácil de estudar em países em que o voting record seja público e onde se podem confrontar respostas em inquéritos com comportamentos reais a nível individual, como nos EUA, por exemplo.
A expressão usada é "não aceitaram colaborar":
«Foram efectuadas 2.969 tentativas de entrevistas e, destas, 444 (15,0%) não aceitaram colaborar Estudo de Opinião. Foram validadas 2.525 entrevistas, correspondendo a 85,0% das tentativas realizadas. A escolha do lar foi aleatória nas listas telefónicas e o entrevistado, em cada agregado familiar, o elemento que fez anos há menos tempo. Desta forma aleatória resultou (...)»
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