1999 foi o ano da maioria aboluta que nunca aconteceu. Todas as últimas sondagens divulgadas antes das eleições apontavam para uma percentagem mínima de 46% dos votos (redistribuindo os indecisos apresentados pela SEEDS, pela Aximage, a Euroexpansão, e a Metris), mas o PS acabou com 44% e 115 deputados.
Culpa das sondagens? Em parte, certamente. Houve qualquer coisa que correu mal para os lados da Aximage e (especialmente) Euroexpansão. O fenómeno BE foi subestimado por muitos, o que aponta para os riscos inerentes em usar modelos de amostragem ou ponderação dos votos baseados em comportamentos anteriores.
Contudo, em abono das pobres das sondagens, importa recordar que, em 1999, a abstenção deu um salto considerável - de 34% para 39% - e que parte dessa abstenção, presumivelmente, foi a de declarados votantes PS que, no dia das eleições, se desmobilizaram mais do que os outros. Isto não significa que as sondagens não tenham de procurar melhores modelos de "votantes prováveis", mas sugere que a abstenção diferencial é uma fonte de erro muito importante e muito difícil de evitar. Para além disso, note-se como o desvio absoluto médio dos resultados das sondagens em relação aos resultados dos cinco principais partidos foi de apenas 1,9% (1,8% se descontarmos a Euroexpansão) e como a margem de vitória do PS foi sobrestimada em "apenas"4%, em média (a SEEDS foi quem mais se aproximou dos resultados finais dos dois pontos de vista). Mais uma vez, não se esqueçam que estamos a lidar com sondagens que tiveram de ser conduzidas até, no máximo, uma semana antes das eleições. Apesar de tudo, parecem-me imprecisões muito aceitáveis tendo em conta os constrangimentos e as limitações do método, mas eu sou suspeito...
Imagino que o cenário de 1999 seja aquele que o PS mais teme neste momento e daí o apelo à maioria absoluta, de forma a evitar a desmobilização final que, nesse ano, converteu uma maioria absoluta quase certa num parlamento que mais tarde viria a ser "limiano". É também o cenário a que, talvez, o PSD possa aspirar com mais realismo. É um cenário eminentemente plausível. Mas o presente distingue-se do passado em três coisas importantes:
1. A favor da maioria absoluta: não se trata de reconfirmar Guterres, mas sim de demitir Santana Lopes, duas coisas muito diferentes (a segunda mais apelativa e rodeada de dramatismo e potencial mobilizador do que a primeira);
2. Contra a maioria absoluta: há um BE mais forte que em 1999, opção mais viável para um eleitorado de esquerda que não se deixe influenciar pelo argumento do voto útil no PS.
3. Não sei se contra se a favor: Sócrates não é Guterres.
O deve e o haver destas coisas talvez se perceba melhor dentro de dois dias.
P.S.- Houve outra sondagem publicada nessa semana, da Eurosondagem no Semanário, mas que não incluo por não ter apresentado resultados para o BE. Mas dava 46% para o PS e 32% para o PSD, ou seja, maioria absoluta, tal como as outras.
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