Em parte em comentário ao que Luís Campos e Cunha escreve no Blog da Sedes, tenho alguma dificuldade em compreender por que razão o Presidente não optou, em qualquer momento deste processo, por enviar o Estatuto dos Açores para fiscalização preventiva pelo Tribunal Constitucional. Há muito tempo que não me debruço sobre estes temas, o assunto é muitíssimo complicado, não sou jurista e podia escrever mais alguns "disclaimers". Mas para abreviar, acho que fez mal, por várias razões:
1. A apreciação que o Presidente fez do Estatuto na sua comunicação ao país de ontem (assim como na do Verão passado) não deixa margem para dúvidas: sem nunca usar o termo, não há dúvida que o Presidente entende que o Estatuto é inconstitucional. Se assim entende, então não pode argumentar que fez "tudo o que estava ao [seu] alcance para defender os superiores interesses do Estado". Não fez uma coisa: solicitar ao supremo intérprete da constitucionalidade das leis que faça o seu trabalho em relação uma lei que o PR entende ser inconstitucional.
2. Ao não o fazer, abre caminho a uma série de interpretações - todas provavelmente ilegítimas, mas não por isso menos possíveis de tentar fazer vingar na opinião pública - sobre a sua actuação, nomeadamente a de que suspeita que o Tribunal não apoiaria a sua interpretação ou até de que suspeita que o Tribunal seria influenciado pelos interesses partidários que criticou na sua comunicação. Ao não pedir a fiscalização, o Presidente, mesmo que involuntariamente, desvaloriza o TC.
3. Faz ainda uma outra coisa. O TC, na fiscalização preventiva, serve para precisamente para confirmar ou infirmar dúvidas que o Presidente tenha sobre a constitucionalidade das leis. E serve especialmente para evitar que leis inconstitucionais entrem em vigor. O que vai suceder, contudo, é que uma lei que o Presidente entende ser inconstitucional vai acabar por entrar em vigor. E vai entrar em vigor sem que o intérprete supremo se tenha pronunciado sobre o que retém (ou não) da interpretação do Presidente. Cria-se assim na opinião pública uma sensação perturbante: a de que, no nosso sistema, é possível que entrem em vigor leis inconstitucionais, ou que o Presidente entende serem inconstitucionais, sem que haja uma última palavra sobre se são inconstitucionais ou não.
4. Num plano ainda mais "político" da questão, ter enviado a lei pra o TC teria evitado ainda outras interpretações, nomeadamente a de que o tema com que Presidente se preocupou mais até agora no seu mandato foi um tema ligado aos seus próprios poderes. A comunicação ao país procurou infirmar esta ideia. Mas ela teria sido infirmada mais eficazmente se a questão tivesse sido deslocada da discordância política do Presidente com o estatuto e com o comportamento dos agentes políticos para o plano mais "abstracto" da adequação da lei à nossa ordem constitucional.
5. Mais geral ainda: na afirmação de que "não se trata apenas de uma questão jurídico-constitucional" há uma desvalorização implícita do que é "jurídico-constitucional". O que a Constituição - e a sua interpretação - fazem é, precisamente, lidar com "os fundamentos essenciais que alicerçam o nosso sistema político" ou "o relacionamento entre órgãos de soberania". De resto, a Constituição e o seu intérprete até fazem muito mais do que isso. Logo, dever-se-ia olhar para isto ao contrário daquilo que fez o Presidente: não se trata apenas de uma questão política, é também uma questão jurídico-constitucional, ou seja, é a questão mais importante de todas na nossa vida colectiva.
6. Agora, mesmo que seja pedida fiscalização sucessiva, quem conhece e estudou o Tribunal sabe o que vai suceder: a decisão só será conhecida daqui a muito tempo, e quase ninguém vai dar por isso, mesmo que a decisão seja desfavorável. Todos os efeitos negativos anteriores já terão ocorrido e sem correcção possível.
7. O plano mais "político" de todos é o menos interessante: se o Presidente sai fortalecido, ou enfraquecido ou nem uma coisa nem outra no fim disto tudo em relação ao governo do PS. Não sei. Mas no nosso sistema, em face de uma maioria absoluta, o veto e a fiscalização preventiva são as "armas dos fracos". A sua eficácia é limitada ou incerta para colocar obstáculos directos às maiorias. Mas o seu uso é indispensável para legitimar outras formas de actuação junto da opinião pública. Caso contrário, com o devido respeito, "ladra-se", mas não se "morde". A "autoridade moral" precisa de vir com alguma artilharia por detrás.
Postado também aqui.
terça-feira, dezembro 30, 2008
Rescaldo das previsões eleitorais U.S.
O rescaldo "oficial" das sondagens pré-eleitorais nos Estados Unidos pode ser encontrado aqui. O National Council on Public Polls conclui que "the 19 national presidential polls conducted in 2008 and published at the end of the campaign came very close to the election outcome" e que "despite widely discussed concerns such as the growing size of the cell-phone-only population (and this year the possibility of a repeat of Bradley/Wilder effect), there was no change in poll average error [em relação a 2004]."
O resultado de 46,6% dos votos para McCain (em relação à soma McCain + Obama) pode também ser comparado com os modelos quantitativos de forecasting que foram apresentados nos meses anteriores. É curioso verificar que os três modelos que mais sobrestimaram o voto em McCain foram os de Norpoth (que tomava em conta os resultados das primárias), os de Lewis-Beck e Tien (que introduziam uma "correcção" para o "Bradley effect") e os de Campbell (que utilizava dados de intenção de voto).
Os Iowa Political Markets estimavam, em 2 de Novembro, 46,7% para McCain...
O resultado de 46,6% dos votos para McCain (em relação à soma McCain + Obama) pode também ser comparado com os modelos quantitativos de forecasting que foram apresentados nos meses anteriores. É curioso verificar que os três modelos que mais sobrestimaram o voto em McCain foram os de Norpoth (que tomava em conta os resultados das primárias), os de Lewis-Beck e Tien (que introduziam uma "correcção" para o "Bradley effect") e os de Campbell (que utilizava dados de intenção de voto).
Os Iowa Political Markets estimavam, em 2 de Novembro, 46,7% para McCain...
sexta-feira, dezembro 19, 2008
Barómetro CESOP/Católica
O relatório-síntese da última sondagem do CESOP para a RTP, Antena 1 e JN pode ser descarregado aqui. Para além das perguntas habituais, dois temas: perspectivas para 2009 e as relações entre o governo e o Presidente da República.
terça-feira, dezembro 16, 2008
Novidades
Bem sei que o meu silêncio sobre as sondagens que têm saído pode parecer estranho. Mas há uma boa razão. Em Janeiro, em preparação do ano eleitoral de 2009, haverá aqui novidades. Nessa altura falamos.
quarta-feira, dezembro 10, 2008
Outlier: o absentismo dos deputados
Das três uma (ou duas, ou três): ou os "problemas do país" não mudam, ou eu já ando nisto há demasiado tempo e já disse todo o pouco que tenho para dizer sobre eles, ou então estou um velho rezingão que não consegue mudar de opinião. Em suma: o que acho que tenho para dizer sobre o assunto do absentismo dos deputados está aqui, num texto de 2006.
Uma floresta de enganos
O absentismo dos deputados parece ser suficientemente grave para que, segundo se anuncia, o Presidente da República vá amanhã falar sobre o assunto no parlamento. Estamos em terreno de tal modo fértil para a demagogia e as banalidades que não estou seguro, confesso, de conseguir chegar ao fim deste texto sem incorrer numa ou noutras. Será então prudente que comece pelos factos.
O primeiro é que os parlamentares portugueses parecem ter adoptado para si próprios um dos mais duros regimes de punição de faltas às sessões plenárias existentes nas democracias ocidentais, prevendo — salvo motivo justificado — a perda de mandato por falta de comparência a apenas quatro sessões plenárias. Uma visita à base de dados da União Interparlamentar revela, por exemplo, que dos vinte e cinco regimentos dos parlamentos da União Europeia, apenas em quatro deles (Áustria, Finlândia, Letónia e Portugal) se prevê a perda de mandato de deputado por semelhante motivo. Na maioria dos casos existem apenas sanções pecuniárias, havendo inclusivamente seis países — Bélgica, Dinamarca, Holanda, Suécia, Reino Unido e Estónia — em que não existe sequer uma obrigatoriedade de presença no plenário. Não consta que tenha sido isto que levou ao declínio do Império Britânico, nem que seja factor de peso na “qualidade” das democracias dinamarquesa ou sueca. E não deixa de ser enigmático que, na mesma altura em que instituições como o Centro Europeu de Pesquisa e Documentação Parlamentar discutem a utilização de meios electrónicos que permitam discussões e votações sem a presença física dos deputados no parlamento - para que possam passar mais tempo junto dos seus círculos eleitorais e noutras actividades políticas - os nossos deputados coloquem tanto empenho em criar regras que, supostamente, os deveriam manter sentados no hemiciclo.
O segundo facto ajuda a decifrar o enigma. Na verdade, não é evidente que os parlamentares portugueses tenham tido alguma vez a intenção de colocar estas regras draconianas em prática, se não na letra pelo menos no espírito. Por exemplo, em Julho de 2001, numa das várias épocas de caça ao deputado faltoso abertas pela comunicação social nos últimos anos, relatava-se que nada menos de 30 deputados tinham já ultrapassado o limite de três faltas injustificadas nessa sessão legislativa. Mas ficou-se também a saber que o processo de perda de mandatos não tinha sequer sido accionado, alegando-se que os serviços administrativos tinham marcado faltas ao plenário a quem estava a trabalhar em comissão. E pelo caminho, foi o próprio Presidente da Assembleia quem veio afirmar, afinal, a sua discordância “pessoal” com o “excesso de rigor” da norma. Ao longo dos meses que se seguiram, os faltosos puderam — chamemos-lhe assim — “justificar” as suas faltas, muito depois do período regulamentar para tal. Através deste e outros processos semelhantes ocorridos nos últimos anos, nunca um deputado perdeu o mandato por excesso de faltas injustificadas, sendo mesmo raríssimos os casos de faltas que tenham ficado por justificar.
O que se costuma seguir a esta constatação é a denúncia pública do “escândalo”, a contrição dos líderes partidários e parlamentares e o apelo a mais regras “moralizadoras”, de forma a “recuperar o prestígio” do parlamento junto da opinião pública. Tudo bem. Mas talvez seja importante recordar que não há qualquer estudo de opinião que sugira que a imagem que os portugueses têm do seu parlamento seja minimamente afectada, para o mal ou para o bem, quer pelos supostos “escândalos” quer pelas supostas “reformas” que lhes têm respondido ao longo dos últimos anos. Não tem havido, em termos da imagem do parlamento, um “antes” ou um “depois” dos diversos “pacotes” de reforma parlamentar. O que a investigação sugere é, pelo contrário, que o anti-partidarismo dos portugueses é forte, arreigado e não tem sofrido mudanças especialmente notáveis nos últimos anos. E que as avaliações que fazem do parlamento são muito mais sensíveis a factores como o desemprego, a inflação e o crescimento económico, sendo também mais negativas, naturalmente, entre os simpatizantes dos partidos que estão a cada momento na oposição. De facto, nem é sequer seguro que os cidadãos tenham uma “imagem” propriamente dita do “parlamento”, de tão dependente que ela parece ser daquela que é feita do sistema político em geral e do seu desempenho.
Deste modo, a preocupação com o impacto destes rocambolescos eventos na imagem do parlamento e dos políticos está provavelmente a confundir causas e efeitos. Se os parlamentares vão aprovando para si próprios normas de conduta de aplicabilidade incerta e, nalguns casos, indesejada à partida, é precisamente porque querem dar ao público aquilo que pensam — provavelmente com razão — que o público quer, ou seja, regras que tratem os políticos na base de um princípio generalizado de suspeição. E se de seguida os mesmos parlamentares subvertem o espírito das normas que por eles próprios aprovadas, é porque também julgam — mais uma vez com acerto — que, quando chegar a hora da verdade, nada disto vai ter qualquer efeito no que realmente conta: a sua colocação em lugares elegíveis nas listas e a opção de voto dos eleitores neste ou naquele partido.
É por tudo isto que o habitual discurso do “escândalo”, seguido da necessidade de “moralização”, pode facilmente tornar-se, nesta floresta de enganos, no mais situacionista dos discursos. Em primeiro lugar, porque permite que não se repense sequer por um segundo qual poderá ser o papel dos deputados e dos parlamentos nas democracias contemporâneas, ou sequer os mecanismos de responsabilização política que poderiam dispensar a adopção de regras mais ou menos absurdas que tratam deputados eleitos como funcionários públicos tendencialmente relapsos. E em segundo lugar, porque ajuda a perpetuar um jogo perverso entre políticos, jornalistas e opinião pública que, a esta hora, os primeiros já aprenderam a jogar de olhos fechados.
Uma floresta de enganos
O absentismo dos deputados parece ser suficientemente grave para que, segundo se anuncia, o Presidente da República vá amanhã falar sobre o assunto no parlamento. Estamos em terreno de tal modo fértil para a demagogia e as banalidades que não estou seguro, confesso, de conseguir chegar ao fim deste texto sem incorrer numa ou noutras. Será então prudente que comece pelos factos.
O primeiro é que os parlamentares portugueses parecem ter adoptado para si próprios um dos mais duros regimes de punição de faltas às sessões plenárias existentes nas democracias ocidentais, prevendo — salvo motivo justificado — a perda de mandato por falta de comparência a apenas quatro sessões plenárias. Uma visita à base de dados da União Interparlamentar revela, por exemplo, que dos vinte e cinco regimentos dos parlamentos da União Europeia, apenas em quatro deles (Áustria, Finlândia, Letónia e Portugal) se prevê a perda de mandato de deputado por semelhante motivo. Na maioria dos casos existem apenas sanções pecuniárias, havendo inclusivamente seis países — Bélgica, Dinamarca, Holanda, Suécia, Reino Unido e Estónia — em que não existe sequer uma obrigatoriedade de presença no plenário. Não consta que tenha sido isto que levou ao declínio do Império Britânico, nem que seja factor de peso na “qualidade” das democracias dinamarquesa ou sueca. E não deixa de ser enigmático que, na mesma altura em que instituições como o Centro Europeu de Pesquisa e Documentação Parlamentar discutem a utilização de meios electrónicos que permitam discussões e votações sem a presença física dos deputados no parlamento - para que possam passar mais tempo junto dos seus círculos eleitorais e noutras actividades políticas - os nossos deputados coloquem tanto empenho em criar regras que, supostamente, os deveriam manter sentados no hemiciclo.
O segundo facto ajuda a decifrar o enigma. Na verdade, não é evidente que os parlamentares portugueses tenham tido alguma vez a intenção de colocar estas regras draconianas em prática, se não na letra pelo menos no espírito. Por exemplo, em Julho de 2001, numa das várias épocas de caça ao deputado faltoso abertas pela comunicação social nos últimos anos, relatava-se que nada menos de 30 deputados tinham já ultrapassado o limite de três faltas injustificadas nessa sessão legislativa. Mas ficou-se também a saber que o processo de perda de mandatos não tinha sequer sido accionado, alegando-se que os serviços administrativos tinham marcado faltas ao plenário a quem estava a trabalhar em comissão. E pelo caminho, foi o próprio Presidente da Assembleia quem veio afirmar, afinal, a sua discordância “pessoal” com o “excesso de rigor” da norma. Ao longo dos meses que se seguiram, os faltosos puderam — chamemos-lhe assim — “justificar” as suas faltas, muito depois do período regulamentar para tal. Através deste e outros processos semelhantes ocorridos nos últimos anos, nunca um deputado perdeu o mandato por excesso de faltas injustificadas, sendo mesmo raríssimos os casos de faltas que tenham ficado por justificar.
O que se costuma seguir a esta constatação é a denúncia pública do “escândalo”, a contrição dos líderes partidários e parlamentares e o apelo a mais regras “moralizadoras”, de forma a “recuperar o prestígio” do parlamento junto da opinião pública. Tudo bem. Mas talvez seja importante recordar que não há qualquer estudo de opinião que sugira que a imagem que os portugueses têm do seu parlamento seja minimamente afectada, para o mal ou para o bem, quer pelos supostos “escândalos” quer pelas supostas “reformas” que lhes têm respondido ao longo dos últimos anos. Não tem havido, em termos da imagem do parlamento, um “antes” ou um “depois” dos diversos “pacotes” de reforma parlamentar. O que a investigação sugere é, pelo contrário, que o anti-partidarismo dos portugueses é forte, arreigado e não tem sofrido mudanças especialmente notáveis nos últimos anos. E que as avaliações que fazem do parlamento são muito mais sensíveis a factores como o desemprego, a inflação e o crescimento económico, sendo também mais negativas, naturalmente, entre os simpatizantes dos partidos que estão a cada momento na oposição. De facto, nem é sequer seguro que os cidadãos tenham uma “imagem” propriamente dita do “parlamento”, de tão dependente que ela parece ser daquela que é feita do sistema político em geral e do seu desempenho.
Deste modo, a preocupação com o impacto destes rocambolescos eventos na imagem do parlamento e dos políticos está provavelmente a confundir causas e efeitos. Se os parlamentares vão aprovando para si próprios normas de conduta de aplicabilidade incerta e, nalguns casos, indesejada à partida, é precisamente porque querem dar ao público aquilo que pensam — provavelmente com razão — que o público quer, ou seja, regras que tratem os políticos na base de um princípio generalizado de suspeição. E se de seguida os mesmos parlamentares subvertem o espírito das normas que por eles próprios aprovadas, é porque também julgam — mais uma vez com acerto — que, quando chegar a hora da verdade, nada disto vai ter qualquer efeito no que realmente conta: a sua colocação em lugares elegíveis nas listas e a opção de voto dos eleitores neste ou naquele partido.
É por tudo isto que o habitual discurso do “escândalo”, seguido da necessidade de “moralização”, pode facilmente tornar-se, nesta floresta de enganos, no mais situacionista dos discursos. Em primeiro lugar, porque permite que não se repense sequer por um segundo qual poderá ser o papel dos deputados e dos parlamentos nas democracias contemporâneas, ou sequer os mecanismos de responsabilização política que poderiam dispensar a adopção de regras mais ou menos absurdas que tratam deputados eleitos como funcionários públicos tendencialmente relapsos. E em segundo lugar, porque ajuda a perpetuar um jogo perverso entre políticos, jornalistas e opinião pública que, a esta hora, os primeiros já aprenderam a jogar de olhos fechados.
quarta-feira, dezembro 03, 2008
Not fillibuster-proof.
Os Democratas falham a fasquia dos 60 senadores: o Senador Republicano Saxby Chambliss ganhou a segunda volta das eleições na Georgia. Alguns Democratas estarão a pensar que, afinal, deviam ter expulsado Lieberman. Too late. De resto, o homem até já adora Obama.
domingo, novembro 30, 2008
Lawrence Summers, novo director do Conselho Económico Nacional de Barack Obama
''President Summers asked me, didn't I agree that, in general, economists are smarter than political scientists, and political scientists are smarter than sociologists?"
Contado por Peter Ellisson ao Boston Globe, via Josep Colomer.
Contado por Peter Ellisson ao Boston Globe, via Josep Colomer.
quinta-feira, novembro 27, 2008
Coisas que os americanos esperam de Obama.
ABC News, 19-23 Novembro, N=1003, Telefónica.
How much do you think Obama will be able to do to improve the economy - a great deal, a good amount, only some or not much at all?
A great deal/a good amount: 44%
Only some/not much: 49%
Nothing (voluntary): 1%
No opinion: 6%
Would you approve or disapprove of Obama selecting Hillary Clinton to serve as Secretary of State? Would you approve/disapprove strongly or somewhat?
Approve: 66%
Disapprove: 27%
No opinion: 7%
AP-GfK, 6-10 Novembro, N=1,001, Telefónica
Do you think Barack Obama should appoint some qualified Republicans to important posts in his administration, or do you think he should only appoint Democrats to those positions?
Some Republicans: 73%
Only Democrats: 15%
Unsure: 12%
How much do you think Obama will be able to do to improve the economy - a great deal, a good amount, only some or not much at all?
A great deal/a good amount: 44%
Only some/not much: 49%
Nothing (voluntary): 1%
No opinion: 6%
Would you approve or disapprove of Obama selecting Hillary Clinton to serve as Secretary of State? Would you approve/disapprove strongly or somewhat?
Approve: 66%
Disapprove: 27%
No opinion: 7%
AP-GfK, 6-10 Novembro, N=1,001, Telefónica
Do you think Barack Obama should appoint some qualified Republicans to important posts in his administration, or do you think he should only appoint Democrats to those positions?
Some Republicans: 73%
Only Democrats: 15%
Unsure: 12%
terça-feira, novembro 25, 2008
Só para tirar uma dúvida.
Num artigo da autoria de Joana Ferreira da Costa e Leonete Botelho, na página 8 do Público, escreve-se a certa altura o seguinte:
"Sabe-se ainda que [Rui Rio] fala muitas vezes com Manuela, o que alimenta alguns cenários de sucessão surpreendentes. Como a possibilidade de a líder se afastar sem se demitir, com uma doença oportuna por exemplo, lá para a Primavera, estendendo a passadeira vermelha a Rui Rio."
A ver se eu entendi bem: as jornalistas que assinam a peça acham que o facto de Rui Rio e Manuela Ferreira Leite falarem muitas vezes a sós...
a) Permite que se infira que Manuela Ferreira Leite irá, na Primavera de 2009...
b) Ou tem levado a que outras pessoas (quais?) infiram que Manuela Ferreira Leite irá, na Primavera de 2009...
c) Inventar uma doença para poder passar a liderança a Rui Rio, ou...
d) Aproveitar uma doença que já tenha como pretexto para o mesmo.
É mesmo isto que está escrito hoje na página 8 do Público? Percebi bem? Obrigado.
"Sabe-se ainda que [Rui Rio] fala muitas vezes com Manuela, o que alimenta alguns cenários de sucessão surpreendentes. Como a possibilidade de a líder se afastar sem se demitir, com uma doença oportuna por exemplo, lá para a Primavera, estendendo a passadeira vermelha a Rui Rio."
A ver se eu entendi bem: as jornalistas que assinam a peça acham que o facto de Rui Rio e Manuela Ferreira Leite falarem muitas vezes a sós...
a) Permite que se infira que Manuela Ferreira Leite irá, na Primavera de 2009...
b) Ou tem levado a que outras pessoas (quais?) infiram que Manuela Ferreira Leite irá, na Primavera de 2009...
c) Inventar uma doença para poder passar a liderança a Rui Rio, ou...
d) Aproveitar uma doença que já tenha como pretexto para o mesmo.
É mesmo isto que está escrito hoje na página 8 do Público? Percebi bem? Obrigado.
segunda-feira, novembro 24, 2008
Ainda sobre "eleitores que não são tolos".
UK, ComRES, 21-23 Novembro, N=1001, Telefónica.
2) Do you Agree or Disagree with the following statements:
"Any tax cuts the Government gives away will just mean higher taxes in the future."
Agree 79%
Disagree 19%
DK/NA: 2%
Via UK Polling Report.
2) Do you Agree or Disagree with the following statements:
"Any tax cuts the Government gives away will just mean higher taxes in the future."
Agree 79%
Disagree 19%
DK/NA: 2%
Via UK Polling Report.
Outlier: Dissonância cognitiva
Um dos conceitos mais importantes da Psicologia Social é o "princípio de redução de dissonância cognitiva". Quando confrontados com percepções e atitudes que não se ajustam entre si, os indivíduos procuram resolver esta contradição. Se têm uma atitude sobre algo, evitam expor-se a informação que a contrarie. E se expostos a essa informação, tendem a desvalorizá-la e a esquecê-la, de forma a não colocar em risco uma atitude pré-existente. As aplicações do conceito são múltiplas, até nos estudos eleitorais, especialmente no que diz respeito à convicção de muitos investigadores de que as predisposições que os eleitores já trazem consigo para as campanhas só muito dificilmente são mudadas por elas, pelos debates ou pela comunicação social.
Vem isto a propósito de um artigo de Rui Tavares hoje no Público (e dentro de dias, aqui). Nele, criticando a "falta de coragem democrática" com um dos principais problemas políticos de Portugal, recorre a um artigo que tinha escrito há meses sobre uma tomada de posição da SEDES, que Rui Tavares interpretou (e interpreta) como fazendo parte de uma "funesta tradição de gente que desconfia das eleições [ou da democracia])."
É muito curiosa esta leitura. A tomada de posição da SEDES, para aqueles que se recordam, analisava três áreas da governação: legislação laboral, saúde e educação. Depois de documentar várias medidas em cada uma dessas áreas que os signatários achavam dignas de aplauso, o documento mencionava sinais recentes e concretos de que o governo se preparava para mudar de políticas nalgumas dessas áreas para direcções mais incertas, e relacionava essa inflexão com a aproximação das eleições. E criticava essa inflexão, sugerindo inclusivamente que, ao contrário da interpretação habitual, a popularidade do governo poderia sofrer mais com essa inflexão do que com o caminho já percorrido: "exactamente no momento em que o Governo inicia uma aparente suspensão do processo das reformas, a opinião pública parece voltar-se contra ele. Coincidência ou causalidade, nunca saberemos, mas os sacrifícios feitos por todos não podem, nem devem, ser desperdiçados."
A leitura feita por Rui Tavares e muitos outros nessa altura - e, pelos vistos, ainda hoje - foi a de que tudo isto exprimia desconfiança em relação aos eleitores e à democracia. Mas foram raros os que fizeram a leitura que, à luz do que o documento realmente diz, seria a mais correcta: precisamente a leitura oposta. A de que os governos não necessitam de ter medo dos eleitores; de que a distribuição de benesses de última hora não enganaria muita gente; e de que muitos eleitores que estiveram dispostos a fazer sacrifícios não estariam muito dispostos a ver esses sacrifícios desperdiçados. Mas o "princípio de redução da dissonância cognitiva" impediu, pelos vistos, essa leitura.
Há provavelmente alguns atavismos anti-democráticos na cultura política portuguesa: uma visão muito negativa do conflito político e partidário; a ideia de que a democracia produz indecisão e ingovernabilidade; e até, talvez, a percepção de os eleitores não são gente de confiança (o meu artigo no Público de hoje, amanhã aqui, é em parte sobre isto). Mas há outro atavismo não menos curioso: a ideia de que todos os debates políticos se podem resumir a conflitos entre maioria e oposição e de que todas as vozes críticas são de “inimigos do governo”. A facilidade com que pessoas inteligentes se encaixam neste esquema é por vezes, mesmo com toda a Psicologia Social, surpreendente.
(Postado também aqui).
P.S. - O Rui já comentou este post aqui. Acrescento apenas que tenho de admitir que não é fácil recuperar a "leitura mais correcta" de um texto que em si mesmo permitia diversas leituras, porventura até para aqueles que o redigiram e subscreveram e, certamente, ainda mais para aqueles que o leram. Mas a leitura que predominou não era a única possível e nem era sequer, parece-me, a que mais se impunha no texto. O que se leu nele pareceu ser mais influenciado por aquilo que já se esperava e já se pensava sobre alguns dos seus subscritores do que por aquilo que era realmente lá dito. Esse é o único ponto deste post (o que não impede que o texto pudesse ter feito mais para o antecipar, claro, mas para isso é que, realmente, já vamos tarde).
Vem isto a propósito de um artigo de Rui Tavares hoje no Público (e dentro de dias, aqui). Nele, criticando a "falta de coragem democrática" com um dos principais problemas políticos de Portugal, recorre a um artigo que tinha escrito há meses sobre uma tomada de posição da SEDES, que Rui Tavares interpretou (e interpreta) como fazendo parte de uma "funesta tradição de gente que desconfia das eleições [ou da democracia])."
É muito curiosa esta leitura. A tomada de posição da SEDES, para aqueles que se recordam, analisava três áreas da governação: legislação laboral, saúde e educação. Depois de documentar várias medidas em cada uma dessas áreas que os signatários achavam dignas de aplauso, o documento mencionava sinais recentes e concretos de que o governo se preparava para mudar de políticas nalgumas dessas áreas para direcções mais incertas, e relacionava essa inflexão com a aproximação das eleições. E criticava essa inflexão, sugerindo inclusivamente que, ao contrário da interpretação habitual, a popularidade do governo poderia sofrer mais com essa inflexão do que com o caminho já percorrido: "exactamente no momento em que o Governo inicia uma aparente suspensão do processo das reformas, a opinião pública parece voltar-se contra ele. Coincidência ou causalidade, nunca saberemos, mas os sacrifícios feitos por todos não podem, nem devem, ser desperdiçados."
A leitura feita por Rui Tavares e muitos outros nessa altura - e, pelos vistos, ainda hoje - foi a de que tudo isto exprimia desconfiança em relação aos eleitores e à democracia. Mas foram raros os que fizeram a leitura que, à luz do que o documento realmente diz, seria a mais correcta: precisamente a leitura oposta. A de que os governos não necessitam de ter medo dos eleitores; de que a distribuição de benesses de última hora não enganaria muita gente; e de que muitos eleitores que estiveram dispostos a fazer sacrifícios não estariam muito dispostos a ver esses sacrifícios desperdiçados. Mas o "princípio de redução da dissonância cognitiva" impediu, pelos vistos, essa leitura.
Há provavelmente alguns atavismos anti-democráticos na cultura política portuguesa: uma visão muito negativa do conflito político e partidário; a ideia de que a democracia produz indecisão e ingovernabilidade; e até, talvez, a percepção de os eleitores não são gente de confiança (o meu artigo no Público de hoje, amanhã aqui, é em parte sobre isto). Mas há outro atavismo não menos curioso: a ideia de que todos os debates políticos se podem resumir a conflitos entre maioria e oposição e de que todas as vozes críticas são de “inimigos do governo”. A facilidade com que pessoas inteligentes se encaixam neste esquema é por vezes, mesmo com toda a Psicologia Social, surpreendente.
(Postado também aqui).
P.S. - O Rui já comentou este post aqui. Acrescento apenas que tenho de admitir que não é fácil recuperar a "leitura mais correcta" de um texto que em si mesmo permitia diversas leituras, porventura até para aqueles que o redigiram e subscreveram e, certamente, ainda mais para aqueles que o leram. Mas a leitura que predominou não era a única possível e nem era sequer, parece-me, a que mais se impunha no texto. O que se leu nele pareceu ser mais influenciado por aquilo que já se esperava e já se pensava sobre alguns dos seus subscritores do que por aquilo que era realmente lá dito. Esse é o único ponto deste post (o que não impede que o texto pudesse ter feito mais para o antecipar, claro, mas para isso é que, realmente, já vamos tarde).
quarta-feira, novembro 19, 2008
Os limites das "coligações de minorias".
The Gay Marriage Vote
By Nik Bonovich (ABC News Polling Unit)
Perhaps the most notable change in the gay marriage vote was among blacks: While most other groups moved away from a ban on gay marriage, African-Americans moved toward it, voting 70-30 percent in favor this year, compared with 59-41 percent eight years ago.
Strikingly, blacks broadly favored the gay marriage ban despite their almost unanimous support for Barack Obama, who’d opposed the initiative, Proposition 8. Indeed, among non-black Obama voters in California, 74 percent opposed Prop. 8. Blacks were more aligned with John McCain’s voters, who favored it overwhelmingly, 84-16 percent.
(continua)
À atenção do Rui, claro.
By Nik Bonovich (ABC News Polling Unit)
Perhaps the most notable change in the gay marriage vote was among blacks: While most other groups moved away from a ban on gay marriage, African-Americans moved toward it, voting 70-30 percent in favor this year, compared with 59-41 percent eight years ago.
Strikingly, blacks broadly favored the gay marriage ban despite their almost unanimous support for Barack Obama, who’d opposed the initiative, Proposition 8. Indeed, among non-black Obama voters in California, 74 percent opposed Prop. 8. Blacks were more aligned with John McCain’s voters, who favored it overwhelmingly, 84-16 percent.
(continua)
À atenção do Rui, claro.
P.S.- Numa notícia relacionada, o Supremo Tribunal da Califórnia já agendou uma decisão sobre este assunto.
terça-feira, novembro 18, 2008
Obama e o Supreme Court.
Jennifer Agiesta faz a síntese sobre o SCOTUS poderá ter pesado nas eleições:
(continua)
The SCOTUS bloc is a slim group. Few, 7 percent, singled out the court as their top voting consideration, though more than half called appointments to the high court an important factor according to network exit polls. Overall, voters who gave the court some weight in deciding how to vote split 52 percent for Obama, 46 percent for McCain. Those who said it was their top issue broke more heavily for the Democrat, 57 percent to 41 percent.
(continua)
Hei-de voltar a isto.
E havia de ter sido bonito se a tivesse escolhido para Vice.
Cabinet post for Clinton roils Obamaland
By: Ben Smith November 18, 2008 04:51 AM EST
Barack Obama's serious flirtation with his one-time rival, Hillary Clinton, over the post of secretary of State has been welcomed by everyone from Henry Kissinger to Bill Clinton as an effective, grand gesture by the president-elect.
It's not playing quite as well, however, in some precincts of Obamaland. From his supporters on the progressive wing of the Democratic Party, to campaign aides of the soon-to-be commander-in-chief, there's a sense of ambivalence about giving a top political plum to a woman they spent 18 months hammering as the compromised standard-bearer of an era that deserves to be forgotten."
These are people who believe in this stuff more than Barack himself does," said a Democrat close to Obama's campaign. "These guys didn't put together a campaign in order to turn the government over to the Clintons."
(continua)
By: Ben Smith November 18, 2008 04:51 AM EST
Barack Obama's serious flirtation with his one-time rival, Hillary Clinton, over the post of secretary of State has been welcomed by everyone from Henry Kissinger to Bill Clinton as an effective, grand gesture by the president-elect.
It's not playing quite as well, however, in some precincts of Obamaland. From his supporters on the progressive wing of the Democratic Party, to campaign aides of the soon-to-be commander-in-chief, there's a sense of ambivalence about giving a top political plum to a woman they spent 18 months hammering as the compromised standard-bearer of an era that deserves to be forgotten."
These are people who believe in this stuff more than Barack himself does," said a Democrat close to Obama's campaign. "These guys didn't put together a campaign in order to turn the government over to the Clintons."
(continua)
Project Implicit
O Project Implicit é um site contém uma série de inquéritos online que procuram detectar enviesamentos inconscientes através de associações implícitas. Há testes sobre atitudes em relação a homossexuais, obesos, preferências por ciências humanas ou naturais, tons de pele, países e idades. Há versões dos inquéritos em português.
Não juro pela validade científica desta coisa. Cheguei a isto, precisamente, através de um artigo no NYT onde se discute o assunto (via Social Science Statistics Blog). Mas por outro lado, não tenho dúvida de que muitas das perguntas usadas em questionários convencionais sobre estas coisas estão completamente contaminados pela normatividade social, por aquilo que os respondentes acham que os inquiridores querem ouvir (ou mesmo por aquilo que nós queremos ouvir sobre nós próprios). Não é impossível que testes deste género ajudem a contornar este problema.
Experimentem.
Não juro pela validade científica desta coisa. Cheguei a isto, precisamente, através de um artigo no NYT onde se discute o assunto (via Social Science Statistics Blog). Mas por outro lado, não tenho dúvida de que muitas das perguntas usadas em questionários convencionais sobre estas coisas estão completamente contaminados pela normatividade social, por aquilo que os respondentes acham que os inquiridores querem ouvir (ou mesmo por aquilo que nós queremos ouvir sobre nós próprios). Não é impossível que testes deste género ajudem a contornar este problema.
Experimentem.
segunda-feira, novembro 17, 2008
Ainda a raça e as eleições americanas.
Preparava-me para não voltar ao assunto da raça e o voto nas eleições americanas enquanto não houvesse mais dados e análises possíveis. O American National Election Study deverá estar no campo e daqui a meses haverá coisas interessantes para dizer. E é possível que o Pew tenha coisas sobre o tema em breve. Contudo, numa questão lateral à que me ocupou aqui, mas centralíssima em si mesma, vale muito a pena ler este texto do LA-C: Uma Lança na América.
Bibliografia para os dias que correm.
Mais aqui. Kenneth Peterson, autor de vários destes livros, tem um site muito interessante sobre este tema. Foi lá que encontrei o seguinte texto. Atenção ao mito nº 5.
THE TEN MYTHS (AND TRUTHS) OF TEACHER EVALUATION:
Myth 1: The central purpose of teacher evaluation is to improve teachers and teaching. The truth is that there is scarce research to suggest that evaluation causes teacher growth. Rather, teachers will improve if you give them enough TIME to work on good ideas: uninterrupted time with students, time to plan and implement what is already known, and sufficient discretionary time to be full human beings. There are other very good reasons to evaluate: to document current good practice, reassure teachers of a needed and effective job, reassure audiences, identify good teaching practices for emulation, and prevent bad evaluation practices.
Myth 2: Better teacher evaluation is just a better rating instrument or framework of teacher behaviors. The truth is that educators do not agree on what should be included in any single catalog of teacher performances or competencies, none could encompass all of what the open-ended nature of teaching should have, teachers are effective using different sets of small numbers of behaviors, and teachers work in varied contexts which call for different competency sets. Comprehensive frameworks, descriptions, systems analysis, and lists of duties (e.g., Danielson, 1996; Heath & Nelson, 1974; Scriven, 1988) help build understanding of good teaching, but they don't cause good evaluation.
Myth 3: Excellent teaching is accomplished by strong performance of 22 (or 27 or 60) components of teaching. Rather, a good teacher performs three or four components extremely well, adequately performs some others, and (to be honest) poorly or spottily performs many other things that a teacher is "supposed" to do. Doing a few things well at the moment carries the entire performances of teaching and learning; the other possible performances simply don't matter at the given time in the real human world of a classroom. It is a misleading strategy to try to assess every possible component, duty, competency, or element of a teacher performance at a point in time in order to understand the overall quality of that teaching.
Myth 4: Specific a priori goals (unique to individual or from a general framework) are needed to evaluate a teacher. Rather, good teaching can be documented after the teaching has been done by highlighting the actual specific outcomes, performances, or preparations that played a role in that specific teacher performance.
Myth 5: A uniform system of teacher evaluation is essential: all teachers should be evaluated the same way. The reality is that teachers are good for different constellations of reasons. They work in quite different settings, with different kinds of demands and criteria for quality. Also, we just cannot get all the information we might want for each instance of teacher evaluation. Fairness demands that all teachers have an equal opportunity to document their quality in the ways most appropriate to them.
Myth 6: Pupil achievement data cannot be used in teacher evaluation, or they can be used for all teachers. Rather, we can get good pupil achievement data for some but not all teachers in a district; and the teacher evaluation system should reflect the state-of-the-art of data availability.
Myth 7: Teacher quality can be objectively measured and known by using a sufficiently accurate checklist and rating scheme, or by comparing pupil achievement test scores. Rather, all evaluation is subjective. However, there is good subjectivity and bad subjectivity. Good subjectivity is (a) based on the best objective evidence available, (b) controlled for individual bias, (c) involves the interested audiences, and (d) employs some public logic.
Myth 8: Teacher Evaluation and Staff Development are inextricably bound together. The reality is that these are two important, but independent, programs.
Myth 9: The principal is the only and best evaluator. Rather, others can provide information or opinion, and should be involved. Peer teachers, clients, and comparative norms all play a role.
Myth 10: Bad teachers cannot be dismissed. The reality is that action on unsatisfactory teachers is a principal duty which is widely expected by lay public, parents, teachers, the legal system, and some school districts. It is difficult (and expensive), and should be, to badly dismiss a deficient teacher or to dismiss a good teacher. However, principals can effectively team with other district personnel to act on the small number of deficient teachers.
P.S. - Como é óbvio, não percebo nada deste assunto. Mas alguns minutos de pesquisa mostram que há, pelos vistos, muito para tentar perceber.
quinta-feira, novembro 13, 2008
Voto preferencial
O estudo que André Freire, Manuel Meirinho e Diogo Moreira fizeram a convite do PS para fundamentar uma nova proposta de reforma do sistema eleitoral já foi publicado. Ainda não acabei a leitura e não vou fazer juízos, porque seriam sempre precipitados. Mas queria assinalar um dos aspectos mais inovadores: o abandono da ideia dos círculos uninominais e a introdução do voto preferencial a aplicar aos círculos de base distrital/regional. Na proposta, o eleitor poderá ou votar num partido ou num dos candidatos da lista apresentada pelo partido. Em ambos os casos, o voto conta como voto no partido e o número de deputados a atribuir por partido são determinados pelo método D'Hondt. Mas a expressão da preferência num candidato pode afectar que candidatos de cada partido são eleitos. Há algumas variações previstas: os candidatos aparecerem no boletim ordenados por vontade dos partidos ou não; a expressão de uma opção por um candidato ser obrigatória ou não; e outras. Mas a inovação é esta: o voto preferencial passa a ser possível (ou torna-se mesmo, em alternativa, obrigatório).
Como disse, não faço para já juízos sobre a bondade da proposta. Mas assinalo uma coincidência interessante: a introdução do voto preferencial também está em cima da mesa para as eleições europeias. Podem descarregar aqui a versão portuguesa de um projecto de relatório da Comissão de Assuntos Constitucionais do PE onde se prevê a eliminação das listas fechadas nas eleições europeias. A maneira como os deputados portugueses do PE e as lideranças partidárias vão reagir a isto vai ser um primeiro ensaio sobre as possibilidades do voto preferencial nas eleições para a AR.
Como disse, não faço para já juízos sobre a bondade da proposta. Mas assinalo uma coincidência interessante: a introdução do voto preferencial também está em cima da mesa para as eleições europeias. Podem descarregar aqui a versão portuguesa de um projecto de relatório da Comissão de Assuntos Constitucionais do PE onde se prevê a eliminação das listas fechadas nas eleições europeias. A maneira como os deputados portugueses do PE e as lideranças partidárias vão reagir a isto vai ser um primeiro ensaio sobre as possibilidades do voto preferencial nas eleições para a AR.
What's wrong with the European Union.
Ontem estive no Parlamento Europeu em Bruxelas, numa conferência. No edifício Paul- Henri Spaak, o elevador tem um botão para o andar 5 1/2. Cinco e meio, sim. Pensei que isto só acontecia em filmes.
segunda-feira, novembro 10, 2008
Racismos
Segundo Alberto Gonçalves, "Obama concentrou na quase totalidade o voto preto, avalanche que nem a tradicional predilecção das minorias pelo partido democrático justifica. Com a eleição de Obama, insusceptível de repetição noutra democracia, o racismo dos brancos americanos tornou-se, pelo menos oficialmente, uma memória triste. O racismo dos pretos americanos é, se calhar, uma questão actual. A que não convém aludir."
Suponho que isto quer dizer que o facto de John Kerry ter captado "apenas" 88% do voto dos negros que participaram na eleição em 2004 e Obama ter captado 95% do mesmo voto em 2008 deverá ser visto como expressão do "racismo dos pretos americanos". Nem imagino como Alberto Gonçalves interpretará o facto de, em 2008, 62% do voto asiático ter ido para Obama, contra 56% do mesmo voto para Kerry em 2004. Ou o facto de 67% do voto hispânico ter ido para Obama, contra apenas 53% do mesmo voto ter ido para Kerry em 2004. Só pode ser, claro, o anti-branquismo dos castanhos e dos amarelos. Realmente, sobre questões de "raça" e voto, não tem sido fácil dar uma para a caixa.
Suponho que isto quer dizer que o facto de John Kerry ter captado "apenas" 88% do voto dos negros que participaram na eleição em 2004 e Obama ter captado 95% do mesmo voto em 2008 deverá ser visto como expressão do "racismo dos pretos americanos". Nem imagino como Alberto Gonçalves interpretará o facto de, em 2008, 62% do voto asiático ter ido para Obama, contra 56% do mesmo voto para Kerry em 2004. Ou o facto de 67% do voto hispânico ter ido para Obama, contra apenas 53% do mesmo voto ter ido para Kerry em 2004. Só pode ser, claro, o anti-branquismo dos castanhos e dos amarelos. Realmente, sobre questões de "raça" e voto, não tem sido fácil dar uma para a caixa.
sexta-feira, novembro 07, 2008
Participação eleitoral
Em O Tempo das Cerejas, discute-se qual terá sido realmente a participação/abstenção eleitoral nas eleições americanas. O problema é complicado, e o Number's Guy no WSJ.com discute-o hoje.
Curtis Gans, do Committee for the Study of the American Electorate, explica por que é tão complicado e por que razão as estimativas de participação são tão diferentes (tão maiores) do que o número de votos contados até ao momento (cerca de 124 milhões, esta manhã):
"This is complicated this year by the enormous number of ballots which were cast before election day. Some states are better equipped than others to count those ballots in a timely fashion. But California, for instance, often does not fully complete its counting of a massive number of absentee ballots until three weeks after the election. Oregon and Washington can take up to two weeks. None of those states are battleground states but both Oregon and Washington have close statewide contests--Oregon for Senate, Washington for governor. In some of the battleground states, complete or even nearly complete may not be available tonight. Any reporting that I and CSAE do will make note of the states like the western ones for which the early tallies are not indicative of the actual turnout when counting has been completed."
Curtis Gans, do Committee for the Study of the American Electorate, explica por que é tão complicado e por que razão as estimativas de participação são tão diferentes (tão maiores) do que o número de votos contados até ao momento (cerca de 124 milhões, esta manhã):
"This is complicated this year by the enormous number of ballots which were cast before election day. Some states are better equipped than others to count those ballots in a timely fashion. But California, for instance, often does not fully complete its counting of a massive number of absentee ballots until three weeks after the election. Oregon and Washington can take up to two weeks. None of those states are battleground states but both Oregon and Washington have close statewide contests--Oregon for Senate, Washington for governor. In some of the battleground states, complete or even nearly complete may not be available tonight. Any reporting that I and CSAE do will make note of the states like the western ones for which the early tallies are not indicative of the actual turnout when counting has been completed."
quinta-feira, novembro 06, 2008
Apanhado geral
1. As sondagens estiveram bem. Os agregadores de sondagens ainda melhor. As previsões com modelos quantitativos também. Nate Silver é o maior.
2. Isto não implica necessariamente que não tenha havido Bradley effect. Mas implica que, se houve, foi neutralizado por outros factores.
3. A boa prestação dos modelos quantitativos, que, em geral, previam este resultado há muitos meses, também não implica que a campanha tenha sido irrelevante. Mas implica que os fundamentals são o primeiro sítio para onde olhar e que as flutuações de curto-prazo nas sondagens devem ser descontadas.
4. Essa prestação também não implica necessariamente que a raça tenha sido irrelevante para o voto. Mas em conjunto com a prestação de Obama junto dos eleitores brancos (que não foi nada má, em comparação com Kerry, por exemplo), põe o fardo da prova do outro lado.
5. A participação eleitoral voltou a aumentar, pela terceira eleição consecutiva. Quando se lembrarem de dizer que os Estados Unidos são um país de elevada abstenção, mordam a língua: por estes dias, Portugal não é muito diferente.
6. A participação dos jovens aumentou, mas pouco. O que aumentou mais foi a participação de jovens que votou em Obama. Entre os que têm menos de 30 anos, 66% votou em Obama. Há pelos menos 30 anos que não se via nada assim. O legado para o futuro pode ser importante.
7. Obama dominou entre as minorias étnicas, entre os mais pobres, entre os menos instruídos, mas também entre os mais instruídos. E esteve a par de McCain entre os mais ricos. Isto mostra fissuras nas bases sociais de apoio tradicionais dos Republicanos. E apesar de quer McCain quer Obama terem conseguido mobilizar bem aqueles que se identificam com, respectivamente, os partidos Republicano e Democrata, há cada vez menos "Republicanos", e os "Republicanos" estiveram mais desmobilizados nesta eleição. Curto prazo, ou legado para o futuro? A ver.
8. O declínio da imagem de McCain nas sondagens coincide com a crise financeira. Mas a crise financeira não teve grande impacto nas sondagens de intenções de voto propriamente ditas. Não vai ser fácil perceber isto, e muito menos tendo em conta que tudo isto também coincide com os debates e com o desencanto com Sarah Palin.
9. Não há sinais claros de que o mapa dos "estados vermelhos" e "estados azuis" tenha sido redesenhado. Pelo contário: as perdas e ganhos são uniformes. Simon Jackman já tinha avisado. A tese do grande "realinhamento" sofre aqui um bocadinho (talvez um bocadão).
2. Isto não implica necessariamente que não tenha havido Bradley effect. Mas implica que, se houve, foi neutralizado por outros factores.
3. A boa prestação dos modelos quantitativos, que, em geral, previam este resultado há muitos meses, também não implica que a campanha tenha sido irrelevante. Mas implica que os fundamentals são o primeiro sítio para onde olhar e que as flutuações de curto-prazo nas sondagens devem ser descontadas.
4. Essa prestação também não implica necessariamente que a raça tenha sido irrelevante para o voto. Mas em conjunto com a prestação de Obama junto dos eleitores brancos (que não foi nada má, em comparação com Kerry, por exemplo), põe o fardo da prova do outro lado.
5. A participação eleitoral voltou a aumentar, pela terceira eleição consecutiva. Quando se lembrarem de dizer que os Estados Unidos são um país de elevada abstenção, mordam a língua: por estes dias, Portugal não é muito diferente.
6. A participação dos jovens aumentou, mas pouco. O que aumentou mais foi a participação de jovens que votou em Obama. Entre os que têm menos de 30 anos, 66% votou em Obama. Há pelos menos 30 anos que não se via nada assim. O legado para o futuro pode ser importante.
7. Obama dominou entre as minorias étnicas, entre os mais pobres, entre os menos instruídos, mas também entre os mais instruídos. E esteve a par de McCain entre os mais ricos. Isto mostra fissuras nas bases sociais de apoio tradicionais dos Republicanos. E apesar de quer McCain quer Obama terem conseguido mobilizar bem aqueles que se identificam com, respectivamente, os partidos Republicano e Democrata, há cada vez menos "Republicanos", e os "Republicanos" estiveram mais desmobilizados nesta eleição. Curto prazo, ou legado para o futuro? A ver.
8. O declínio da imagem de McCain nas sondagens coincide com a crise financeira. Mas a crise financeira não teve grande impacto nas sondagens de intenções de voto propriamente ditas. Não vai ser fácil perceber isto, e muito menos tendo em conta que tudo isto também coincide com os debates e com o desencanto com Sarah Palin.
9. Não há sinais claros de que o mapa dos "estados vermelhos" e "estados azuis" tenha sido redesenhado. Pelo contário: as perdas e ganhos são uniformes. Simon Jackman já tinha avisado. A tese do grande "realinhamento" sofre aqui um bocadinho (talvez um bocadão).
quarta-feira, novembro 05, 2008
Para bushistas, clintonistas e palinistas, with love
Essas coisas do "saber perder" ou do "fair play" são tretas - como se pode ver por aqui ou por aqui - e só têm graça nos livros do P. G. Wodehouse. E o "saber ganhar" também é um atributo sobrevalorizado:
"No calor da noite, esqueci-me de saudar os bloggers portugueses que acolheram a designação de Sarah Palin para candidata a VP como uma escolha «brilhante» de John McCain. É esta argúcia que lhes tem valido darem hoje opinião em tudo quanto é jornal, estação de rádio ou canal de televisão portugueses. É o chamado «circo mediático». Embora eu não esteja certo de que esta expressão contenha alguma metáfora."
Aqui e aqui. Vale mesmo a pena ler tudo.
"Nesta hora, guardo um pensamento para os adversários lusos de Barack Obama. Não os apoiantes de McCain (de que, aliás, só consegui recensear um), mas os bushistas, da primeira à última hora, e os clintonistas; a arrogância e o desdém com que trataram o candidato democrata e os seus apoiantes merecem ser recordados. Obama e os seus seguidores foram quase sempre tratados como pouco mais do que idiotas, patetas e crédulos. Os patamares de infantilismo argumentativo atingidos neste percurso conheceram exemplos notáveis – e que vão perdurar."
"No calor da noite, esqueci-me de saudar os bloggers portugueses que acolheram a designação de Sarah Palin para candidata a VP como uma escolha «brilhante» de John McCain. É esta argúcia que lhes tem valido darem hoje opinião em tudo quanto é jornal, estação de rádio ou canal de televisão portugueses. É o chamado «circo mediático». Embora eu não esteja certo de que esta expressão contenha alguma metáfora."
Aqui e aqui. Vale mesmo a pena ler tudo.
Para digerir lentamente
A página da CNN sobre as sondagens à boca das urnas. O mais interessante de tudo? A tabela sobre rendimento e voto, nomeadamente a irrelevância das diferenças entre McCain e Obama nos escalões mais altos.
P.S.- Andrew Gelman já tem uma primeira análise, assim do como do desempenho das sondagens pré-eleitorais. No Bradley effect, thank you very much.
O fim da Guerra Civil
And so it came to pass that on Nov. 4, 2008, shortly after 10 p.m. Eastern time, the American Civil War ended, as a black man — Barack Hussein Obama — won enough electoral votes to become president of the United States.
Finishing our Work, por Thomas L. Friedman.
Finishing our Work, por Thomas L. Friedman.
terça-feira, novembro 04, 2008
Exit polls
(Corrigido)
No FiveThirtyEight, 10 razões para ignorar as sondagens à boca das urnas: diz-se o que eu tinha dito aqui, e muito mais.Pergunta-se num comentário:
"A minha percepção é que as sondagens à boca da urna em Portugal tem sido mais precisas que as sondagens pré-eleitorais, embora todos nos lembremos de um ou dois casos em que falharam, como na segunda eleição de Guterres em que pelo menos uma delas previa a maioria absoluta. Há evidência que favoreçam a fiabilidade de um tipo de sondagens sobre as outras? A falta de credibilidade atribuída por este e outros blogues de sondagens (como o pollster) terá a ver com diferenças metodológicas?"
Algumas respostas em cima do joelho:
1. A percepção é correcta. Em abstracto, não pode deixar de ser assim. Uma sondagem à boca das urnas usa uma amostra muito maior que uma sondagem pré-eleitoral e mede comportamentos de votantes, não intenções de eventuais votantes.
2. O problema dos Estados Unidos começa por ser, claro, de exigência e escala. O que se pede como elemento informativo é uma boa estimativa do voto em cada um dos 50 estados (ou, no mínimo, dos 15 ou 16 estados mais competitivos), e não uma boa estimativa do voto popular no conjunto do país, ao contrário do que sucede em Portugal. Ainda por cima, quer-se sempre saber se há alguém que tenha mais um voto que qualquer um dos adversários em cada estado, e não se, digamos, o PS tem mais ou menos à volta de 43%. É muito difícil, e os recursos envolvidos são tão astronómicos que, nos EUA, há uma única sondagem à boca das urnas (e não três, como em Portugal).
3. Depois, há toda uma série de "trapalhadas" que nós podemos pura e simplesmente ignorar: early voting, antes de mais, assim como durações diferentes de abertura de locais de voto, regras diferentes de estado para estado, centenas de eleições diferentes a ocorrerem ao mesmo tempo (não se esqueçam que, em cada condado, se está a votar para muitas outras coisas para além do Presidente e diferentes umas das outras), etc, etc, etc.
4. Depois, o problema de recusa sistemática (ou de participação entusiástica) de um determinado tipo de eleitor ou outro, sendo também real em Portugal, parece ser, pelo que consigo perceber, muito menos grave (por enquanto).
Estou menos convencido com o ponto 1 dos argumentos de Nate Silver, ligado à amostragem. Claro que cluster sampling (onde só os indivíduos nos locais de voto seleccionados têm probabilidade de serem seleccionados) tem uma margem de erro maior que uma sondagem puramente aleatória (onde todos os eleitores têm a mesma probabilidade de serem seleccionados). Em rigor é mesmo assim e é por isso que os intervalos que cá se dão nas estimativas no fecho das urnas são maiores do que aquilo que seriam se as amostras fossem puramente aleatórias. Mas na prática, que sondagem acaba por ter uma amostra verdadeiramente aleatória? Nenhuma.
Duas leituras aconselhadas às luminárias da opinião nacional que acham que quem ganhar hoje "não vai fazer grande diferença"
The Plum Book (United States Government Policy and Supporting Positions): 2004 Edition, com as mais de de 7.000 posições no governo federal nomeadas pelo Presidente dos Estados Unidos.
A página da Casa Branca sobre os juízes dos tribunais federais nomeados por George W. Bush.
A página da Casa Branca sobre os juízes dos tribunais federais nomeados por George W. Bush.
Haveria mais coisas para ler, mas eu sei que vocês são pessoas muito ocupadas.
segunda-feira, novembro 03, 2008
Milagres
A convergência miraculosa nos resultados das últimas sondagens antes das eleições, já antes assinalada neste blogue aqui ou aqui a propósito das eleições inglesas ou portuguesas, volta a acontecer, desta vez nos Estados Unidos. Nate Silver não está com meias medidas:
"Has the race settled down some? Perhaps in some proverbial sense it has. But I also think that pollsters peek at one another's results, and that there's something of a herd mentality not to be the one who falls out of line. Remember, folks, it's these final sets of national numbers that will go down on the record for all time's sake."
"Has the race settled down some? Perhaps in some proverbial sense it has. But I also think that pollsters peek at one another's results, and that there's something of a herd mentality not to be the one who falls out of line. Remember, folks, it's these final sets of national numbers that will go down on the record for all time's sake."
Evidentemente.
Amanhã.
Não me passa pela cabeça tentar dizer-vos aquilo que outros podem dizer e explicar muito melhor do que eu. De resto, uma das coisas mais espantosas desta eleição - que já se antevia em eleições passadas - é a qualidade e sofisticação das análises disponíveis sobre as eleições americanas. Desde o Pollster - cuja encarnação anterior, o Mistery Pollster, é uma das razões que me fez criar este blogue - até ao FiveThirtyEight, passando pelo The Ballot ou o The Monkey Cage, tudo o que há para dizer de interesse está lá dito.
O que sobra é apenas reforçar algumas ideias para a noite de 4 para 5 de Novembro. Aqui vão (e espero não me ter enganado nas contas no meio desta complicação):
1. Quais os estados onde a vitória de Obama é uma quase certeza absoluta, na base das sondagens e dos resultados de eleições anteriores? Os seguintes: Vermont, Connecticut, Delaware, Illinois, Maine, Maryland, Massachussets, DC, New Jersey, Michigan, Minnesota, New York, Rhode Island, Wisconsin, California, Hawaii, Oregon e Washington. Aqui não há "efeito Bradley" que valha. Perder é quase impensável. Feitas as contas, são 227 votos eleitorais. Faltam 43 para Obama ganhar.
2. Depois há alguns estados onde Obama tem vantagens muito expressivas nas sondagens mas que, na história recente, nem sempre foram ganhos por candidatos democratas. Falamos de New Hampshire (onde W. Bush ganhou a Gore), New Mexico (onde W. Bush ganhou a Kerry) e Iowa (idem). Neste momento, a estimativa da vantagem de Obama sobre McCain nestes três estados oscila entre os 9 e os 13 pontos. De resto, Clinton em 1992 e Kerry em 2004 ganharam NH, ao passo que Clinton em 1992 e Gore em 2000 ganharam Iowa and New Mexico. As dúvidas são muito poucas. Somem lá mais 16 votos. Faz 243. Ficam a faltar 27 para Obama ganhar.
3. Onde poderá Obama ir buscar esses 27? Há um estado onde a vantagem, não sendo tão expressiva como nos casos anteriores, é ainda assim muito relevante: Pennsylvania. Nas sondagens realizadas desde finais de Abril passado, há apenas uma em que McCain estava à frente de Obama, e isso foi em 12 de Setembro e era uma sondagem da Zogby (enough said). Nas sondagens realizadas na última semana (desde dia 27 de Outubro), a vantagem de Obama anda entre os 4 e os 14 pontos. Clinton ganhou Pennsylvania em 1992 (9 pontos) e 1996 (idem). Gore ganhou em 2000 (4 pontos). Kerry ganhou em 2004 (3 pontos). Vamos, com algumas cautelas, colocar já estes 21 votos do lado de Obama. Faz 264. Ficam a faltar 6.
4. Onde pode Obama ir buscar os 6 votos que faltam? Todos os restantes estados têm ou vantagens curtas para um ou outro candidato ou resultados passados menos tranquilizadores para os Democratas.
Mas notem: só faltam 6 votos. Segue-se uma lista de estados onde Obama pode ganhar e onde, se ganhar apenas um deles (e na base das pressuposições anteriores), ultrapassa os 270 votos. Por ordem de encerramento das urnas:
- Virginia: 13 votos, vantagem de 6 pontos nas sondagens;
- Carolina do Norte: 15 votos, vantagem de 1 ponto nas sondagens;
- Ohio: 20 votos, vantagem de 5 pontos nas sondagens.
- Florida: 27 votos, vantagem de 3 pontos nas sondagens;
- Missouri, 11 votos, vantagem de 2 pontos nas sondagens;
- Colorado, 9 votos, vantagem de 7 pontos nas sondagens.
Por outras palavras: se tudo o que está nos pontos 1, 2 e 3 der certo, basta que um destes estados caia para Obama para os 270 estarem garantidos. E a isto acrescem alguns estados que estão com ligeira vantagem para McCain nas sondagens mas ainda competitivos: Georgia (15 votos) e Indiana (11 votos). E há ainda estados que, sózinhos, não chegam aos 6 votos, mas estão, neste momento, ambos inclinados para Obama: North Dakota (3 votos) e Nevada (5 votos).
5. Logo, como se sugere aqui, atenção então a Virginia, Indiana e Georgia, que encerram à meia-noite de Lisboa. Se um deles cair para Obama, ficamos com sinais muito fortes de que tudo poderá estar terminado. Mas se nenhum deles cair para Obama, ainda haverá várias outras hipóteses.
6. Dito isto, muito cuidado com as sondagens à boca das urnas. Quatro razões:
- É sempre possível que haja fuga de dados durante o dia, apesar da equipa responsável estar de quarentena, fechada numa sala, até às cinco da tarde. Mas mesmo que haja fugas, serão dados parciais e não ponderados ou até, possivelmente, pura desinformação.
- Os dados que estarão disponíveis nos sites após o encerramento serão mais fiáveis, mas há uma razão para que esses dados, comuns e iguais para todas as estações, sejam trabalhados em cada uma delas por um batalhão de analistas. Quando dizem too close to call, é por que é too close to call. Já ninguém confia apenas nas sondagens à boca das urnas, a não ser que as vantagens sejam muito grandes. E se são muito grandes, não deverá ser em nenhum dos estados que interessam.
- O voto antecipado está a ser muito grande nalguns estados. Nalguns estados muito importantes para a decisão de amanhã, os números são incríveis. No Colorado, por exemplo, as pessoas que já votaram correspondem a 74% dos todos os que votaram em 2004. 54% na Florida. 61% na Georgia. 67% no Nevada. 73% no Novo México. Neste contexto, só se fossem atrasados mentais é que as pessoas na Edison-Mitofsky se limitavam a conduzir sondagens no dia das eleições. Como é óbvio, não são. O consórcio encarregado da sondagem à boca das urnas tem vindo a fazer sondagens em 18 estados de forma a medir o comportamento daqueles que já votaram, e ponderará esses elementos no dia das eleições. Mas seja como for, não é preciso ser-se atrasado mental para cometer erros e usar pressuposições erradas nessas ponderações.
- Também devido ao voto antecipado, será preciso ter cuidado com os primeiros dados "reais" a virem das assembleias de voto e que são usados para tomar decisões em conjugação com os dados das sondagens à boca da urnas. Como avisa Michael MacDonald,
Beware of election night results released at poll closing, as they may be misleading. Many states and localities quickly report results for their early voters. The reporting method varies widely among states. If these surveys are correct that Obama supporters are voting early at higher rates than McCain supporters, these early election results may give a false impression of what the actual election result will be once all votes are counted.
7. Finalmente: muito do que está acima presume que as centenas e centenas de sondagens divulgadas estão a dar informação fiável sobre as intenções de voto, ou pelo menos informação onde os enviesamentos são aleatórios ou, se não forem aleatórios, se cancelam mutuamente ou, se não se cancelarem mutuamente, são enviesamentos relativamente limitados. Há algumas razões para supor que isto não é necessariamente verdade. Estão muito bem resumidas e discutidas aqui por Anthony Wells, mas a ideia com que se fica é que não são suficientes para nos convencerem de que aquilo que julgamos estar a ver com as sondagens está fundamentalmente errado. E no entanto...
E é tudo. Sei que há muita gente interessada nisto por aí. Isto foi escrito um pouco à pressa. Logo, se encontrarem algum erro de raciocínio ou de contabilidade no que está acima, agradeço mesmo que me avisem.
O que sobra é apenas reforçar algumas ideias para a noite de 4 para 5 de Novembro. Aqui vão (e espero não me ter enganado nas contas no meio desta complicação):
1. Quais os estados onde a vitória de Obama é uma quase certeza absoluta, na base das sondagens e dos resultados de eleições anteriores? Os seguintes: Vermont, Connecticut, Delaware, Illinois, Maine, Maryland, Massachussets, DC, New Jersey, Michigan, Minnesota, New York, Rhode Island, Wisconsin, California, Hawaii, Oregon e Washington. Aqui não há "efeito Bradley" que valha. Perder é quase impensável. Feitas as contas, são 227 votos eleitorais. Faltam 43 para Obama ganhar.
2. Depois há alguns estados onde Obama tem vantagens muito expressivas nas sondagens mas que, na história recente, nem sempre foram ganhos por candidatos democratas. Falamos de New Hampshire (onde W. Bush ganhou a Gore), New Mexico (onde W. Bush ganhou a Kerry) e Iowa (idem). Neste momento, a estimativa da vantagem de Obama sobre McCain nestes três estados oscila entre os 9 e os 13 pontos. De resto, Clinton em 1992 e Kerry em 2004 ganharam NH, ao passo que Clinton em 1992 e Gore em 2000 ganharam Iowa and New Mexico. As dúvidas são muito poucas. Somem lá mais 16 votos. Faz 243. Ficam a faltar 27 para Obama ganhar.
3. Onde poderá Obama ir buscar esses 27? Há um estado onde a vantagem, não sendo tão expressiva como nos casos anteriores, é ainda assim muito relevante: Pennsylvania. Nas sondagens realizadas desde finais de Abril passado, há apenas uma em que McCain estava à frente de Obama, e isso foi em 12 de Setembro e era uma sondagem da Zogby (enough said). Nas sondagens realizadas na última semana (desde dia 27 de Outubro), a vantagem de Obama anda entre os 4 e os 14 pontos. Clinton ganhou Pennsylvania em 1992 (9 pontos) e 1996 (idem). Gore ganhou em 2000 (4 pontos). Kerry ganhou em 2004 (3 pontos). Vamos, com algumas cautelas, colocar já estes 21 votos do lado de Obama. Faz 264. Ficam a faltar 6.
4. Onde pode Obama ir buscar os 6 votos que faltam? Todos os restantes estados têm ou vantagens curtas para um ou outro candidato ou resultados passados menos tranquilizadores para os Democratas.
Mas notem: só faltam 6 votos. Segue-se uma lista de estados onde Obama pode ganhar e onde, se ganhar apenas um deles (e na base das pressuposições anteriores), ultrapassa os 270 votos. Por ordem de encerramento das urnas:
- Virginia: 13 votos, vantagem de 6 pontos nas sondagens;
- Carolina do Norte: 15 votos, vantagem de 1 ponto nas sondagens;
- Ohio: 20 votos, vantagem de 5 pontos nas sondagens.
- Florida: 27 votos, vantagem de 3 pontos nas sondagens;
- Missouri, 11 votos, vantagem de 2 pontos nas sondagens;
- Colorado, 9 votos, vantagem de 7 pontos nas sondagens.
Por outras palavras: se tudo o que está nos pontos 1, 2 e 3 der certo, basta que um destes estados caia para Obama para os 270 estarem garantidos. E a isto acrescem alguns estados que estão com ligeira vantagem para McCain nas sondagens mas ainda competitivos: Georgia (15 votos) e Indiana (11 votos). E há ainda estados que, sózinhos, não chegam aos 6 votos, mas estão, neste momento, ambos inclinados para Obama: North Dakota (3 votos) e Nevada (5 votos).
5. Logo, como se sugere aqui, atenção então a Virginia, Indiana e Georgia, que encerram à meia-noite de Lisboa. Se um deles cair para Obama, ficamos com sinais muito fortes de que tudo poderá estar terminado. Mas se nenhum deles cair para Obama, ainda haverá várias outras hipóteses.
6. Dito isto, muito cuidado com as sondagens à boca das urnas. Quatro razões:
- É sempre possível que haja fuga de dados durante o dia, apesar da equipa responsável estar de quarentena, fechada numa sala, até às cinco da tarde. Mas mesmo que haja fugas, serão dados parciais e não ponderados ou até, possivelmente, pura desinformação.
- Os dados que estarão disponíveis nos sites após o encerramento serão mais fiáveis, mas há uma razão para que esses dados, comuns e iguais para todas as estações, sejam trabalhados em cada uma delas por um batalhão de analistas. Quando dizem too close to call, é por que é too close to call. Já ninguém confia apenas nas sondagens à boca das urnas, a não ser que as vantagens sejam muito grandes. E se são muito grandes, não deverá ser em nenhum dos estados que interessam.
- O voto antecipado está a ser muito grande nalguns estados. Nalguns estados muito importantes para a decisão de amanhã, os números são incríveis. No Colorado, por exemplo, as pessoas que já votaram correspondem a 74% dos todos os que votaram em 2004. 54% na Florida. 61% na Georgia. 67% no Nevada. 73% no Novo México. Neste contexto, só se fossem atrasados mentais é que as pessoas na Edison-Mitofsky se limitavam a conduzir sondagens no dia das eleições. Como é óbvio, não são. O consórcio encarregado da sondagem à boca das urnas tem vindo a fazer sondagens em 18 estados de forma a medir o comportamento daqueles que já votaram, e ponderará esses elementos no dia das eleições. Mas seja como for, não é preciso ser-se atrasado mental para cometer erros e usar pressuposições erradas nessas ponderações.
- Também devido ao voto antecipado, será preciso ter cuidado com os primeiros dados "reais" a virem das assembleias de voto e que são usados para tomar decisões em conjugação com os dados das sondagens à boca da urnas. Como avisa Michael MacDonald,
Beware of election night results released at poll closing, as they may be misleading. Many states and localities quickly report results for their early voters. The reporting method varies widely among states. If these surveys are correct that Obama supporters are voting early at higher rates than McCain supporters, these early election results may give a false impression of what the actual election result will be once all votes are counted.
7. Finalmente: muito do que está acima presume que as centenas e centenas de sondagens divulgadas estão a dar informação fiável sobre as intenções de voto, ou pelo menos informação onde os enviesamentos são aleatórios ou, se não forem aleatórios, se cancelam mutuamente ou, se não se cancelarem mutuamente, são enviesamentos relativamente limitados. Há algumas razões para supor que isto não é necessariamente verdade. Estão muito bem resumidas e discutidas aqui por Anthony Wells, mas a ideia com que se fica é que não são suficientes para nos convencerem de que aquilo que julgamos estar a ver com as sondagens está fundamentalmente errado. E no entanto...
E é tudo. Sei que há muita gente interessada nisto por aí. Isto foi escrito um pouco à pressa. Logo, se encontrarem algum erro de raciocínio ou de contabilidade no que está acima, agradeço mesmo que me avisem.
domingo, novembro 02, 2008
sábado, novembro 01, 2008
If at first you don't succeed, try, try again.
1. "O CDS sobe, talvez por efeito dos ecos do bom resultado eleitoral nos Açores." Vem no site da SIC Notícias e foi dito em off na peça televisiva por uma jornalista. A subida consistiu em ter passado de 4,8 para 5,2%, ou seja, uma subida de uns espectaculares 0,4 pontos percentuais. Por outras palavras, nem sequer sabemos se o CDS subiu, desceu ou ficou na mesma. E a dos "ecos do bom resultado eleitoral dos Açores", então, é de truz. Uma relação causa-efeito tão credível como se ela tivesse dito que o CDS subiu na sondagem por causa do pastel de nata que eu comi ontem pela tarde.
No Público de ontem, sobre os rankings, para além de ser provavelmente o primeiro colunista na história da imprensa escrita a usar a expressão Hierarchical Linear Modelling num jornal de grande circulação, André Freire diz o óbvio, mas um óbvio que vale a pena repetir:
"Penso que é preciso ultrapassar este nível de discussão (até agora baseado numa troca de argumentos sustentada, na melhor das hipóteses, numa análise metodologicamente insuficiente dos dados) para passarmos a um debate alicerçado em evidência empírica avaliada com as metodologias adequadas."
Mas importa perceber o que significa "ultrapassar este nível de discussão". Em primeiro lugar, como assinala o próprio André Freire, significa que é imperioso recolher dados a nível individual de forma a que as "causas" (na medida em que qualquer estudo observacional possa apurar causas) do desempenho escolar individual, em particular as ligadas ao ambiente escolar, possam ser estimadas controlando os efeitos de variáveis ligadas ao capital escolar e económico dos pais.
Em segundo lugar, significa também perceber que os efeitos desse capital escolar e económico são, em certo sentido, triviais. É obvio que eles existem e estão mais do que demonstrados. Mas no que diz respeito às políticas públicas, esses efeitos são tão desinteressantes como os efeitos, por exemplo, do desenvolvimento económico na estabilidade dos regimes democráticos. Ou para irmos mais directamente ao tema, são quase tão desinteressantes como os efeitos das capacidades cognitivas inatas (que também existem) dos alunos no seu desempenho escolar. Aquilo que queremos saber é que outros factores, cuja modificação a curto e médio-prazo esteja ao alcance da vontade dos educadores, dos pais, das escolas e dos decisores políticos, exercem efeitos para além e independentemente (ou em interacção com) esse capital escolar e económico ou essas capacidades inatas. É verdade que - voltando ao ponto anterior - só podemos saber que factores são esses se controlarmos os efeitos do capital escolar e económico das famílias (e seria bom termos medidas de capacidades inatas, mas como provavelmente nao podemos em contextos não experimentais, o que teremos no final é muita variância não explicada). Mas o ponto é este: se é verdade que essas variáveis de controlo não podem ser esquecidas, também não se pode pressupor que tudo é subsumido por elas. É preciso estudar o assunto como deve ser, e pronto.
Em terceiro lugar, ultrapassar o actual nível de discussão significa também assumir que a simples dicotomia público/privado é uma péssima e provavelmente inválida maneira de medir seja o que for de relevante sobre o ambiente escolar e os efeitos que esse ambiente pode induzir sobre o desempenho. Citando o relatório que André Freire menciona no seu artigo:
"It should be borne in mind that private schools constitute a heterogeneous category and may differ from one another as much as they differ from public schools. Public schools also constitute a heterogeneous category. Consequently, an overall comparison of the two types of schools is of modest utility."
Como deveria ser óbvio - pensava eu - o que interessa é estimar os efeitos de atributos do ambiente escolar - condições físicas e materiais, práticas educativas, currículos, etc, etc, etc - que podem ou não estar correlacionados entre si ou com a dicotomia público/privado. Se não estimarmos os efeitos destes aspectos, não ficamos a saber nada de relevante no final. "Privado melhor do que público"? "Público não é pior que privado"? Frases úteis para discussões puramente ideológicas, inúteis para tudo o resto.
Em quarto lugar, ultrapassar o actual nível de discussão significa também pressupor que os bons modelos explicativos do desempenho escolar serão certamente muito complexos, incluindo efeitos de interacção entre características individuais, efeitos de características contextuais sobre desempenhos individuais e efeitos de interacção entre contextos e atributos individuais.
2. A propósito dos rankings das escolas, reponho de seguida o que escrevi há um ano. Nada mudou, os disparates que se diziam continuam a ser ditos, continuam a ser refutados, e nada disto, pelos vistos, faz qualquer espécie de diferença. Não faz mal.
A citação do W.C. Fields que dá o título a este post não acaba aqui. Continua assim: "Then quit. No use being a damn fool about it." Mas eu sou um damn fool.
Sobre os rankings e o cheque-escolar (5-11-2007):
"Penso que é preciso ultrapassar este nível de discussão (até agora baseado numa troca de argumentos sustentada, na melhor das hipóteses, numa análise metodologicamente insuficiente dos dados) para passarmos a um debate alicerçado em evidência empírica avaliada com as metodologias adequadas."
Mas importa perceber o que significa "ultrapassar este nível de discussão". Em primeiro lugar, como assinala o próprio André Freire, significa que é imperioso recolher dados a nível individual de forma a que as "causas" (na medida em que qualquer estudo observacional possa apurar causas) do desempenho escolar individual, em particular as ligadas ao ambiente escolar, possam ser estimadas controlando os efeitos de variáveis ligadas ao capital escolar e económico dos pais.
Em segundo lugar, significa também perceber que os efeitos desse capital escolar e económico são, em certo sentido, triviais. É obvio que eles existem e estão mais do que demonstrados. Mas no que diz respeito às políticas públicas, esses efeitos são tão desinteressantes como os efeitos, por exemplo, do desenvolvimento económico na estabilidade dos regimes democráticos. Ou para irmos mais directamente ao tema, são quase tão desinteressantes como os efeitos das capacidades cognitivas inatas (que também existem) dos alunos no seu desempenho escolar. Aquilo que queremos saber é que outros factores, cuja modificação a curto e médio-prazo esteja ao alcance da vontade dos educadores, dos pais, das escolas e dos decisores políticos, exercem efeitos para além e independentemente (ou em interacção com) esse capital escolar e económico ou essas capacidades inatas. É verdade que - voltando ao ponto anterior - só podemos saber que factores são esses se controlarmos os efeitos do capital escolar e económico das famílias (e seria bom termos medidas de capacidades inatas, mas como provavelmente nao podemos em contextos não experimentais, o que teremos no final é muita variância não explicada). Mas o ponto é este: se é verdade que essas variáveis de controlo não podem ser esquecidas, também não se pode pressupor que tudo é subsumido por elas. É preciso estudar o assunto como deve ser, e pronto.
Em terceiro lugar, ultrapassar o actual nível de discussão significa também assumir que a simples dicotomia público/privado é uma péssima e provavelmente inválida maneira de medir seja o que for de relevante sobre o ambiente escolar e os efeitos que esse ambiente pode induzir sobre o desempenho. Citando o relatório que André Freire menciona no seu artigo:
"It should be borne in mind that private schools constitute a heterogeneous category and may differ from one another as much as they differ from public schools. Public schools also constitute a heterogeneous category. Consequently, an overall comparison of the two types of schools is of modest utility."
Como deveria ser óbvio - pensava eu - o que interessa é estimar os efeitos de atributos do ambiente escolar - condições físicas e materiais, práticas educativas, currículos, etc, etc, etc - que podem ou não estar correlacionados entre si ou com a dicotomia público/privado. Se não estimarmos os efeitos destes aspectos, não ficamos a saber nada de relevante no final. "Privado melhor do que público"? "Público não é pior que privado"? Frases úteis para discussões puramente ideológicas, inúteis para tudo o resto.
Em quarto lugar, ultrapassar o actual nível de discussão significa também pressupor que os bons modelos explicativos do desempenho escolar serão certamente muito complexos, incluindo efeitos de interacção entre características individuais, efeitos de características contextuais sobre desempenhos individuais e efeitos de interacção entre contextos e atributos individuais.
sexta-feira, outubro 31, 2008
Sondagens à la carte.
Quem está esperançoso ou angustiado com a possibilidade de as sondagens nos Estados Unidos estarem erradas, e muito especialmente quem acha que os resultados das sondagens são condicionados pelas preferências de quem as faz ou do meio de comunicação social que as encomenda e publica, pode ver todos os seus anseios ou receios confirmados por este paper: Evidence of Systematic Bias in 2008 Presidential Polling (via Andrew Gelman).
Claro que sou suspeito, mas por que não pensar que parte do enviesamento se deve ao próprio inquirido, recusando responder para certas sondagens ou ocultando-lhes o seu comportamento?
Claro que sou suspeito, mas por que não pensar que parte do enviesamento se deve ao próprio inquirido, recusando responder para certas sondagens ou ocultando-lhes o seu comportamento?
quinta-feira, outubro 30, 2008
Obamercial 2
Aqui está ele:
O melhor comentário que li até agora, na Slate:
"whatever the next four years may bring, we're in for some damn good camera angles."
O melhor comentário que li até agora, na Slate:
"whatever the next four years may bring, we're in for some damn good camera angles."
quarta-feira, outubro 29, 2008
Obamercial
Hoje, vai passar um anúncio/programa com a duração de meia-hora, publicidade da campanha da Barack Obama, na Fox, NBC, CBS, Univision, MSNBC e BET, em horário nobre. Só a ABC e a CNN ficam de fora. NBC e CBS vão receber um milhão de dólares cada. Não se via disto desde Ross Perot.
Ainda sobre "forecasting", a questão racial e as sondagens
Recebi hoje a PS, e voltei a olhar para os modelos de forecasting de que tenho falado várias vezes. E há uma coisa muito interessante de que não me tinha dado conta. O modelo de Lewis-Beck e Tien prevê, como eu dizia aqui, 43% dos votos para McCain na base de quatro variáveis: popularidade de Bush em Julho; crescimento real do PNB do último trimestre de 2007 até ao 2º trimestre de 2008; se o incumbent concorre ou não; e o crescimentos dos empregos.
Simplesmente, Lewis-Beck e Tien defendem que "Obama will lose a chunk of votes because he is black". Logo, estimam factores de correcção para a votação inicialmente prevista para Obama - 57%. Esses factores de correcção resultam de duas fontes:
1. Um estudo de 2007 sobre a prediposição para votar num presidente negro;
2. A comparação entre as votações, estado a estado, de Kerry e Obama nas primárias.
E concluem que Obama terá 50,1%. Ora aqui vamos ter uma boa oportunidade para perceber se Lewis-Beck e Tien deviam ter mexido no modelo original ou não por causa da questão "racial".
Simplesmente, Lewis-Beck e Tien defendem que "Obama will lose a chunk of votes because he is black". Logo, estimam factores de correcção para a votação inicialmente prevista para Obama - 57%. Esses factores de correcção resultam de duas fontes:
1. Um estudo de 2007 sobre a prediposição para votar num presidente negro;
2. A comparação entre as votações, estado a estado, de Kerry e Obama nas primárias.
E concluem que Obama terá 50,1%. Ora aqui vamos ter uma boa oportunidade para perceber se Lewis-Beck e Tien deviam ter mexido no modelo original ou não por causa da questão "racial".
Outlier: chá e torradas
Há uns tempos, João Pinto e Castro sugeria à SEDES que, em vez de andar a dizer "renhaunau renhaunau" de seis em seis meses após reuniões com chá e torradas, desse ao pedal e criasse um blogue que "estimulasse a reflexão colectiva sobre temas de grande relevância para o país". Sobre "estimular a reflexão colectiva" ou a "grande relevância para o país" não sei, mas pelo menos o blogue já está. Agora deixa cá comer mais uma torradinha.
P.S.- E aí está, estimulada "a reflexão colectiva sobre temas de grande relevância para o país". Isto dos blogues é um bocadinho menos complicado do que parece :-)
P.S.- E aí está, estimulada "a reflexão colectiva sobre temas de grande relevância para o país". Isto dos blogues é um bocadinho menos complicado do que parece :-)
segunda-feira, outubro 27, 2008
Vale a pena ler
James Stimson, sobre os resultados das sondagens nos Estados Unidos:
Saturday 10/25: Stability and Variability
Variability: This is a race of considerable variability in various organization's estimates of what should be the same quantity. And at the same time I have never seen such stability in my estimates of the daily lead. A typical day sees about ten organizations report an Obama lead varying between 1 and 14 points. Thirteen points difference is a lot, more than double what would be expected from sampling fluctuation alone. This arises chiefly, it appears, from two sources, (1) initial assumptions about the partisan makeup of the electorate, and (2) varying likely voter assumptions.
Ler o resto aqui.
Saturday 10/25: Stability and Variability
Variability: This is a race of considerable variability in various organization's estimates of what should be the same quantity. And at the same time I have never seen such stability in my estimates of the daily lead. A typical day sees about ten organizations report an Obama lead varying between 1 and 14 points. Thirteen points difference is a lot, more than double what would be expected from sampling fluctuation alone. This arises chiefly, it appears, from two sources, (1) initial assumptions about the partisan makeup of the electorate, and (2) varying likely voter assumptions.
Ler o resto aqui.
domingo, outubro 26, 2008
Uma tempestade perfeita
O meu artigo de amanhã no Público é sobre - suspense - as eleições americanas. É o último que escrevo antes do dia 4 de Novembro. Quem se interesse poderá ler amanhã no jornal e depois de amanhã aqui. Mas quem se interesse muito - sim, estou a falar de vocês os três - pode descarregar isto, uma apresentação em Powerpoint que fiz há dias na Faculdade de Direito da UL e onde se coligem uma série de dados sobre os fundamentals desta eleição:
1. Mudanças na composição social do eleitorado (o famoso argumento Judis/Teixeira);
2. Mudanças na identificação partidária nos últimos anos;
3. Mudanças nas posições ideológicas nos últimos anos;
4. Avaliação do titular (incumbent);
5. Economia e percepções do estado da economia;
E ainda:
6. Temas da campanha;
7. Avaliação dos candidatos;
8. Mobilização.
Nada disto tem grandes pretensões nem grandes teorias por detrás a não ser as de coligir dados dispersos, ter uma visão das eleições que vá para além das sondagens de intenções de voto e presumir que há factores de médio e até longo prazo que ditam muito do que estamos a observar e cujo conhecimento ajuda a reduzir as incertezas.
1. Mudanças na composição social do eleitorado (o famoso argumento Judis/Teixeira);
2. Mudanças na identificação partidária nos últimos anos;
3. Mudanças nas posições ideológicas nos últimos anos;
4. Avaliação do titular (incumbent);
5. Economia e percepções do estado da economia;
E ainda:
6. Temas da campanha;
7. Avaliação dos candidatos;
8. Mobilização.
Nada disto tem grandes pretensões nem grandes teorias por detrás a não ser as de coligir dados dispersos, ter uma visão das eleições que vá para além das sondagens de intenções de voto e presumir que há factores de médio e até longo prazo que ditam muito do que estamos a observar e cujo conhecimento ajuda a reduzir as incertezas.
sexta-feira, outubro 24, 2008
Três perguntas.
Três perguntas num comentário ao post abaixo. Vou tentar responder, remetendo, sempre que possível, para quem sabe responder melhor do que eu:
1. Trata-se da fiabilidade das sondagens que são agregadas nos principais sites como o RCP, Pollster ou 538. No mesmo dia ou espaço curto de tempo, cerca de meia dúzia sondagens são capazes de ter 6 ou 8 pontos percentuais de diferença nos resultados (relativamente à distância entre candidatos), acontecendo isto com muita regularidade. Isto não compromete a confiança das sondagens?
Não devemos ficar surpreendidos com o facto de diferentes sondagens, conduzidas no mesmo momento, exibirem resultados cujas diferenças estão acima do que seria autorizado pelo erro amostral. Há uma multiplicidade de opções técnicas - amostragem, modelos de votantes prováveis, ponderadores, formato das perguntas, etc, etc, etc - que produzem essas diferenças. Há um livro muito bom de um antigo professor meu cujo título resume isso muito bem: The Total Survey Error Approach, em que "total" significa o erro amostral mais todas as outras fontes de erro. Como lidar com isto? Por um lado, importa procurar estimar em que medida há enviesamentos característicos trazidos por cada conjunto de opções metodológicas. Como essas opções tendem a ser estáveis em cada instituto, é possível estimar aquilo que se chama "house effects", ou seja, a tendência de cada instituto para favorecer/desfavorecer cada candidato ou partido. Mas isto mostra-nos apenas um determinado desvio em relação à (vamos chamar-lhe assim) "média", e não em relação à " realidade". O que é a realidade? Ninguém sabe. Mas o que o Nate Silver faz é tomar a prestação passada dos institutos de sondagens como indicador da sua aproximação a essa realidade, presumir que essa aproximação é um bom indicador da sua aproximação à realidade presente, e ponderar os resultados das sondagens na base disso. Aqui estão os indicadores do "track record" de cada instituto que o FiveThirtyEight usa nessas ponderações. É a abordagem mais "sofisticada" (mas também com alguns riscos. Nada garante que desempenho passado seja bom desempenho futuro, especialmente se as circunstâncias políticas e sociais mudarem. O próprio Nate Silver dá um exemplo). O Pollster.com e o RCP são mais agnósticos, o que também não é necessariamente boa ideia.
2ª A média das amostras penso que andam em cerca de 2000 pessoas por sondagem a nível nacional. Não será este um número demasiado baixo para um país de 300 milhões? Penso que 2000 é o número usado regularmente em Portugal, estou certo?
Não, não, e também não (sorry). Não sei o número médio, mas é fácil calcular olhando para esta lista. Sobre o - sempre intrigante - fenómeno de a dimensão do universo ser (quase completamente irrelevante para o erro amostral, ver aqui. Em Portugal, as amostras andam entre os 600 e os 1200. Só na véspera das eleições se costuma usar amostras maiores.
3º Esta já é de leitura de sondagens. Há já sondagens (em número e qualidade) suficientes para falarmos de uma tendência após o último debate presidencial, principalmente nos estados mais decisivos?
Sim, e parece que não teve efeitos.
1. Trata-se da fiabilidade das sondagens que são agregadas nos principais sites como o RCP, Pollster ou 538. No mesmo dia ou espaço curto de tempo, cerca de meia dúzia sondagens são capazes de ter 6 ou 8 pontos percentuais de diferença nos resultados (relativamente à distância entre candidatos), acontecendo isto com muita regularidade. Isto não compromete a confiança das sondagens?
Não devemos ficar surpreendidos com o facto de diferentes sondagens, conduzidas no mesmo momento, exibirem resultados cujas diferenças estão acima do que seria autorizado pelo erro amostral. Há uma multiplicidade de opções técnicas - amostragem, modelos de votantes prováveis, ponderadores, formato das perguntas, etc, etc, etc - que produzem essas diferenças. Há um livro muito bom de um antigo professor meu cujo título resume isso muito bem: The Total Survey Error Approach, em que "total" significa o erro amostral mais todas as outras fontes de erro. Como lidar com isto? Por um lado, importa procurar estimar em que medida há enviesamentos característicos trazidos por cada conjunto de opções metodológicas. Como essas opções tendem a ser estáveis em cada instituto, é possível estimar aquilo que se chama "house effects", ou seja, a tendência de cada instituto para favorecer/desfavorecer cada candidato ou partido. Mas isto mostra-nos apenas um determinado desvio em relação à (vamos chamar-lhe assim) "média", e não em relação à " realidade". O que é a realidade? Ninguém sabe. Mas o que o Nate Silver faz é tomar a prestação passada dos institutos de sondagens como indicador da sua aproximação a essa realidade, presumir que essa aproximação é um bom indicador da sua aproximação à realidade presente, e ponderar os resultados das sondagens na base disso. Aqui estão os indicadores do "track record" de cada instituto que o FiveThirtyEight usa nessas ponderações. É a abordagem mais "sofisticada" (mas também com alguns riscos. Nada garante que desempenho passado seja bom desempenho futuro, especialmente se as circunstâncias políticas e sociais mudarem. O próprio Nate Silver dá um exemplo). O Pollster.com e o RCP são mais agnósticos, o que também não é necessariamente boa ideia.
2ª A média das amostras penso que andam em cerca de 2000 pessoas por sondagem a nível nacional. Não será este um número demasiado baixo para um país de 300 milhões? Penso que 2000 é o número usado regularmente em Portugal, estou certo?
Não, não, e também não (sorry). Não sei o número médio, mas é fácil calcular olhando para esta lista. Sobre o - sempre intrigante - fenómeno de a dimensão do universo ser (quase completamente irrelevante para o erro amostral, ver aqui. Em Portugal, as amostras andam entre os 600 e os 1200. Só na véspera das eleições se costuma usar amostras maiores.
3º Esta já é de leitura de sondagens. Há já sondagens (em número e qualidade) suficientes para falarmos de uma tendência após o último debate presidencial, principalmente nos estados mais decisivos?
Sim, e parece que não teve efeitos.
quinta-feira, outubro 23, 2008
Ainda sobre os efeitos da "raça" no comportamento eleitoral nestas presidenciais.
Há muita gente (alguma dela particularmente competente) que se tem pronunciado sobre este assunto. Larry Bartels, por exemplo, usando dados do American National Election Survey de 2004, sugere que esse efeito pode andar por um custo de 3,7% para Obama.
Mas vejamos a questão por outro lado. Há meses que circulam modelos econométricos que prevêem, na base dos tais "fundamentals" - economia, cansaço/aprovação do incumbent, etc. - a percentagem de votos para candidatos do Partido Republicano (o incumbent). Estes modelos são "cegos" em relação à "raça" dos candidatos. Alguns deles podem tê-la indirectamente, se usarem sondagens sobre os candidatos -mesmo que distantes no tempo em relação às eleições - mas a maioria não tem. Os resultados estão no Pollyvote:
A vantagem máxima para o candidato Democrata é de 16 pontos, a mínima é de 0,2 pontos. Mas a média é de 5,4 pontos.
Agora olhem para aqui:
A estimativa actual da vantagem de Obama, excluídos indecisos e 3ºs candidatos, é de 8,3 pontos. Por outras palavras a vantagem de Obama é maior do que se poderia esperar "given the fundamentals". Claro que: ainda não é dia 4, e mesmo até à véspera do dia 4, as sondagens podem vir a revelar-se erradas. Mas se há alguma coisa que se possa dizer "given the fundamentals", é que o facto de Obama ser negro o favorece eleitoralmente. Absurdo, não é? Sim, mas o contrário, na base disto, também é.
quarta-feira, outubro 22, 2008
O Bartoon explica.
Este debate é interessante, e eu já tinha prometido que ia falar nisto. Um pretexto, então.
Também não gostei especialmente de ver Ronald Dworkin, depois de descrever (correctamente) as consequências (catastróficas) que uma vitória dos Republicanos e a designação de juízes para o Supremo com o perfil prometido por McCain teriam para a interpretação da Constituição Americana, terminar dizendo que "if a remarkably distinguished candidate like Obama loses, this can be for only one reason." Mas as razões porque não gostei são, eventualmente, diferentes das de Miguel Morgado:
1. Primeiro, não há nunca "only one reason".
2. Segundo, ao contrário do que também diz Mark Danner - e retoma João Galamba - , não me parece nada que, "given the 'fundamentals', (...) the contest is so close". So close? Dia 4 cá estaremos para ver. Mas isto não me parece nada close. Vantagens de 6-8 pontos no voto popular não é coisa de somenos e não aparecem todos os dias. Nixon ganhou a McGovern por 23 pontos em 1972, mas.. McGovern? De resto, esta vantagem - ou até bastante menos - é precisamente da ordem do que se poderia esperar given the fundamentals. Esta ideia de que Obama deveria estar a arrasar mas só não está por causa da raça perde sentido logo na parte do "arrasar", porque negligencia a actual polarização do eleitorado americano e tudo aquilo que dá estabilidade ao seu comportamento, independentemente de factores de mais curto-prazo, tais como a economia ou desempenho do incumbent (mas dia 4 espero de não ter de engolir isto tudo).
3. Finalmente, não gostei porque este discurso é exactamente o contrário daquele que Obama tem tido e exactamente o contrário daquilo que lhe convém ter. Ainda bem que a NYRB só é lida por intelectualóides como eu e vocês que estão a ler isto.
Claro que importa perceber por que razão "este discurso é exactamente o contrário daquele que Obama tem tido e exactamente o contrário daquilo que lhe convém ter." É porque, precisamente, o problema existe. Há quilómetros de estantes com coisas sérias escritas sobre o assunto: "Black and white voters do seem to prefer candidates of their own race in biracial elections and, consequently, it is exceedingly rare for black candidates to be elected outside of majority-minority political jurisdictions (Barker et al.1999, Canon 1999, Walton & Smith 2000)". De resto, o grande mérito estratégico da candidatura de Obama e o seu enorme pragmatismo tem residido em fazer com que o problema pareça não existir, desactivando-o como um elemento legítimo de contestação política e retirando-lhe saliência. Claro que os Republicanos têm tentando activá-lo subtilmente, como outros textos na NYRB sugerem (o de Andrew Delbanco, por exemplo). Mas não o podem activar explicitamente: Obama não lhes deu a oportunidade, e fazê-lo por iniciativa própria seria suicídio. Daí que Jeremiah Wright tenha estado ausente da galeria de ataques a Obama, e só surgirá, se surgir, como táctica última de desespero total por parte dos Republicanos.
Quanto ao resto, os meus textos preferidos neste NYRB são os de Joan Didion e de Paul Krugman. Didion, como sempre, para além da elegantíssima escrita, tem um dedo especial para desenterrar a forma como os temas reais e mais importantes na vida americana são retirados do debate político e mediático e substituídos ou misturados com temas fictícios:
Não acontece muitas vezes que a mensagem política "certa" seja "certa" de duas maneiras: por descrever correcta e profundamente a realidade, e por ser a mais adequada eleitoralmente. Mas desta vez aconteceu. Os Republicanos andam a agitar a frase "spread the wealth" que Obama disse a "Joe the Plumber", como se isso o fizesse perder votos. Um erro, parece-me. O Bartoon de hoje explica tudo isto muito bem.
Também não gostei especialmente de ver Ronald Dworkin, depois de descrever (correctamente) as consequências (catastróficas) que uma vitória dos Republicanos e a designação de juízes para o Supremo com o perfil prometido por McCain teriam para a interpretação da Constituição Americana, terminar dizendo que "if a remarkably distinguished candidate like Obama loses, this can be for only one reason." Mas as razões porque não gostei são, eventualmente, diferentes das de Miguel Morgado:
1. Primeiro, não há nunca "only one reason".
2. Segundo, ao contrário do que também diz Mark Danner - e retoma João Galamba - , não me parece nada que, "given the 'fundamentals', (...) the contest is so close". So close? Dia 4 cá estaremos para ver. Mas isto não me parece nada close. Vantagens de 6-8 pontos no voto popular não é coisa de somenos e não aparecem todos os dias. Nixon ganhou a McGovern por 23 pontos em 1972, mas.. McGovern? De resto, esta vantagem - ou até bastante menos - é precisamente da ordem do que se poderia esperar given the fundamentals. Esta ideia de que Obama deveria estar a arrasar mas só não está por causa da raça perde sentido logo na parte do "arrasar", porque negligencia a actual polarização do eleitorado americano e tudo aquilo que dá estabilidade ao seu comportamento, independentemente de factores de mais curto-prazo, tais como a economia ou desempenho do incumbent (mas dia 4 espero de não ter de engolir isto tudo).
3. Finalmente, não gostei porque este discurso é exactamente o contrário daquele que Obama tem tido e exactamente o contrário daquilo que lhe convém ter. Ainda bem que a NYRB só é lida por intelectualóides como eu e vocês que estão a ler isto.
Claro que importa perceber por que razão "este discurso é exactamente o contrário daquele que Obama tem tido e exactamente o contrário daquilo que lhe convém ter." É porque, precisamente, o problema existe. Há quilómetros de estantes com coisas sérias escritas sobre o assunto: "Black and white voters do seem to prefer candidates of their own race in biracial elections and, consequently, it is exceedingly rare for black candidates to be elected outside of majority-minority political jurisdictions (Barker et al.1999, Canon 1999, Walton & Smith 2000)". De resto, o grande mérito estratégico da candidatura de Obama e o seu enorme pragmatismo tem residido em fazer com que o problema pareça não existir, desactivando-o como um elemento legítimo de contestação política e retirando-lhe saliência. Claro que os Republicanos têm tentando activá-lo subtilmente, como outros textos na NYRB sugerem (o de Andrew Delbanco, por exemplo). Mas não o podem activar explicitamente: Obama não lhes deu a oportunidade, e fazê-lo por iniciativa própria seria suicídio. Daí que Jeremiah Wright tenha estado ausente da galeria de ataques a Obama, e só surgirá, se surgir, como táctica última de desespero total por parte dos Republicanos.
Quanto ao resto, os meus textos preferidos neste NYRB são os de Joan Didion e de Paul Krugman. Didion, como sempre, para além da elegantíssima escrita, tem um dedo especial para desenterrar a forma como os temas reais e mais importantes na vida americana são retirados do debate político e mediático e substituídos ou misturados com temas fictícios:
"The presence of Barack Obama in the electoral process allowed us to talk as if "the race issue" had reached a happy ending. We did not need to talk about how the question of race has been and continues to be used to exacerbate the real issue in American life, which is class, or absence of equal opportunity."
E Krugman:
"For a while, however, Democrats in general, and Barack Obama in particular, seemed to have lost the plot. Instead of running against the Republican economic record, Obama spent the primary season and the first few weeks of the general election campaign portraying himself as a "post-partisan" politician, someone who transcended the traditional party divide. In his speeches, he tended to hold both parties equally culpable for the country's woes, denouncing the failed policies of right and left equally. (...) But all of that has changed in the past few weeks. (...) These days, Obama doesn't try to place blame equally on right and left, he denounces "an economic philosophy that says we should give more and more to those with the most and hope that prosperity trickles down to everyone else," and describes the crisis as "a final verdict on this failed philosophy." He sounds, in other words, a lot like Bill Clinton in 1992. And that's a good thing."
Não acontece muitas vezes que a mensagem política "certa" seja "certa" de duas maneiras: por descrever correcta e profundamente a realidade, e por ser a mais adequada eleitoralmente. Mas desta vez aconteceu. Os Republicanos andam a agitar a frase "spread the wealth" que Obama disse a "Joe the Plumber", como se isso o fizesse perder votos. Um erro, parece-me. O Bartoon de hoje explica tudo isto muito bem.
terça-feira, outubro 21, 2008
Podemos acreditar no que estamos a ver? Depende.
Os textos no post abaixo sobre as possibilidades de recuperação de McCain pressupõem que aquilo que as sondagens nos estão a dizer é, "na média", verdade. Que Obama tem uma vantagem de mais de 5 pontos sobre McCain, que Obama subiu drasticamente desde a crise financeira, que McCain vem recuperando nos últimos dias.
Mas se isto tudo, ou parte disto, for mentira? E se houver um enviesamento sistemático nos resultados? Uma das fontes de enviesamento já aqui muito discutida é o chamado Bradley Effect, através do qual a vantagem de Obama sobre McCain poderá estar a ser sobrestimada. A segunda é o recurso a telefones fixos, através do qual a vantagem de Obama sobre McCain poderá estar a ser sistematicamente subestimada.
James Stimson, da UNC em Chapel Hill, recorda-nos um terceiro possível enviesamento, que desta vez tem repercussões naquilo que julgamos estar a observar nos últimos dias: as pressuposições sobre os votantes prováveis que estão inseridas nos modelos.
The entry of new tracking polls (with likely voter estimates) and the changeover of existing ones to likely voter estimates are confusing the situation this week. Because Republicans traditionally turn out at higher rates than do Democrats, the likely voter estimates shift the composition of samples in the Republican direction, producing better numbers for McCain. This is creating what appears to be an illusory trend toward McCain support, an apparent decline in the Obama lead. This is seen most clearly in the Gallup organization's now triple daily reports. With a pleasing transparency, Gallup is reporting registered voters numbers (as before) and two different likely voter estimates. One Gallup calls the traditional filter assumes that historic turnout patterns will prevail and thus African-Americans and young people, for example, are assumed to turn out at relatively low rates (compared to the perennial turnout champs, the middle-aged and middle class.) Knowing that such assumptions are likely to be inaccurate this year, Gallup is also using a filter (called Expanded) that is based only on what respondents say about voting intentions. I commend Gallup for leaving us free to make our own assumptions about turnout, rather than imposing its own on us (and usually without any information about what they are.) From its latest release (10/19) Gallup shows an Obama lead of 10 points (52-42) among registered voters, 7 points (51-44) among the Expanded likely voter set and only 3 points (49-46) with the Traditional likely voter filter. It makes quite a difference which one gets reported. There is no trend in the registered voter estimates. But if you compare the older registered voter numbers with the newer likely voter numbers the illusion of trend appears.
Mas se isto tudo, ou parte disto, for mentira? E se houver um enviesamento sistemático nos resultados? Uma das fontes de enviesamento já aqui muito discutida é o chamado Bradley Effect, através do qual a vantagem de Obama sobre McCain poderá estar a ser sobrestimada. A segunda é o recurso a telefones fixos, através do qual a vantagem de Obama sobre McCain poderá estar a ser sistematicamente subestimada.
James Stimson, da UNC em Chapel Hill, recorda-nos um terceiro possível enviesamento, que desta vez tem repercussões naquilo que julgamos estar a observar nos últimos dias: as pressuposições sobre os votantes prováveis que estão inseridas nos modelos.
The entry of new tracking polls (with likely voter estimates) and the changeover of existing ones to likely voter estimates are confusing the situation this week. Because Republicans traditionally turn out at higher rates than do Democrats, the likely voter estimates shift the composition of samples in the Republican direction, producing better numbers for McCain. This is creating what appears to be an illusory trend toward McCain support, an apparent decline in the Obama lead. This is seen most clearly in the Gallup organization's now triple daily reports. With a pleasing transparency, Gallup is reporting registered voters numbers (as before) and two different likely voter estimates. One Gallup calls the traditional filter assumes that historic turnout patterns will prevail and thus African-Americans and young people, for example, are assumed to turn out at relatively low rates (compared to the perennial turnout champs, the middle-aged and middle class.) Knowing that such assumptions are likely to be inaccurate this year, Gallup is also using a filter (called Expanded) that is based only on what respondents say about voting intentions. I commend Gallup for leaving us free to make our own assumptions about turnout, rather than imposing its own on us (and usually without any information about what they are.) From its latest release (10/19) Gallup shows an Obama lead of 10 points (52-42) among registered voters, 7 points (51-44) among the Expanded likely voter set and only 3 points (49-46) with the Traditional likely voter filter. It makes quite a difference which one gets reported. There is no trend in the registered voter estimates. But if you compare the older registered voter numbers with the newer likely voter numbers the illusion of trend appears.
As possibilidades de McCain
The State of the Race, por Jay Cost: "This makes a comeback for McCain quite difficult, but not inconceivable."
Today's Polls, 10/20, por Nate Silver: "McCain needs to get those numbers down about twice as quickly as Obama got them up, and he does not have any debates or other major public events to assist him."
Today's Polls, 10/20, por Nate Silver: "McCain needs to get those numbers down about twice as quickly as Obama got them up, and he does not have any debates or other major public events to assist him."
segunda-feira, outubro 20, 2008
O fim da "chatice"
Diogo Belford Henriques respondeu ao post abaixo. Espero não ser injusto se vir a coisa assim: DBH não gostou de uma sondagem pré-eleitoral da Eurosondagem que dava 4,8% ao CDS. Após as eleições, tendo o CDS-PP obtido 8,7%, exprimiu esse descontentamento, mas não tinha mais para argumentar que a simples constatação da discrepância. Mas lendo posteriormente o meu post onde descrevia alguns dos constrangimentos e dificuldades ligadas à realização de sondagens dos Açores, DBH descobriu um ângulo para criticar a sondagem que tanto o apoquentara, mesmo que vários aspectos do que descrevi nem sequer se apliquem ao estudo telefónico da Eurosondagem. E toca de transformar esses constrangimentos em omissões graves, acabando por acusar todos os que fizeram sondagens nos Açores de serem preguiçosos e incompetentes. E ainda houve tempo para levantar a hipótese de que tanta preguiça e incompetência não passassem de uma desconsideração aos açorianos.
Neste último post, o ângulo é algo diferente. DBH acha "grave" que as sondagens à boca das urnas nos Açores não tenham trabalho de campo em todas as ilhas e que o serviço público de televisão não pague tudo o que for preciso para garantir isso. Mas o que importa perceber é que todas as sondagens e todos os estudos deste género resultam de compromissos entre o ideal e o possível. Amostras de 15.000 inquiridos em vez de 5.000, ir a todos os locais de voto de uma freguesia ou ir a todas as freguesias em vez de ir apenas a algumas, incluir telefones celulares em sondagens telefónicas em vez de apenas telefones fixos, fazer 15 ou 20 tentativas de encontrar um inquirido aleatoriamente numa casa em vez de apenas 4 ou 5, dar um mês em vez de uma semana de formação aos inquiridores, etc, etc, etc, a lista do "ideal" nas sondagens é interminável e inatingível. O importante é garantir que aquilo que se sacrifica não é suficientemente "grave" para impedir boas inferências. E manifestamente não foi, o que não nos impede de reconhecer e tentar descobrir os custos que esses sacrifícios podem ter imposto, até para se perceber que sacrifícios são legítimos da próxima vez.
Eu acho que este tipo de discussão até pode ser, em geral, saudável, e só acontece porque há cada vez mais transparência na maneira como se fazem sondagens. Sabem-se coisas intrigantes de que dantes nem se fazia ideia, aparecem novas perguntas, e conversa-se. Acho, se calhar com alguma pretensão, que não dei um contributo completamente irrelevante para isso.
Mas acho também que há dois tipos de discussão sobre sondagens e duas opções para as pessoas, como DBH, que exercem funções políticas. Podem aprender alguma coisa sobre sondagens e passam a poder fazer questões e críticas interessantes a quem trabalha nisto. Eu conheço algumas pessoas assim em quase todos os partidos (uma delas tem um blogue e outra até foi Primeiro-Ministro). Mas também se podem limitar a ter um discurso estritamente político sobre sondagens. O segundo é perfeitamente legítimo, mas serve apenas para conversarem uns com os outros. Não serve para mais.
A "chatice"
Diogo Belford Henriques (DBH) comenta, num post no 31 da Armada, este meu post sobre as sondagens à boca das urnas nos Açores.
DBH confunde várias coisas, a saber:
1. "Porque (sic) foram os resultados das eleições de ontem diferentes da sondagem (Eurosondagem, não CESOP)?"
O meu post não tem a ver com esse assunto. O meu post tem a ver com o facto da realização de sondagens nos Açores introduzir dificuldades diferentes (e superiores) à realização de outro tipo de sondagens eleitorais, mesmo que sejam sondagens à boca das urnas (e, por isso, livres dos problemas trazidos pela abstenção não declarada e pela medição de intenções e não comportamentos).
2. "Ao contrário do que diz o Pedro Magalhães, é possível ir a todas as ilhas"
Ao contrário do que sugere DBH, nenhum meio de comunicação social está disposto a pagar o que seria necessário pagar para que um instituto de sondagens pudesse realizar trabalho de campo presencial em todas as ilhas dos Açores, dispondo assim de uma amostra representativa dos - neste caso - votantes em todo o arquipélago e evitando assim ter de estimar alguns resultados por extrapolação, com todo o risco e incerteza que isso implica. A não ser que DBH esteja a querer dizer que é possível ir a todas as ilhas, ou seja, que há meios de transporte para lá chegar caso se queira lá ir. Mas se é isso, La Palisse estará contente na sua tumba.
3. "É possível telefonar (se não puder ir) a eleitores em todas as ilhas"
Quando DBH me explicar como é que se fazem sondagens à boca das urnas pelo telefone, eu ficar-lhe-ei eternamente grato.
4. "É possível ler na internet os jornais e rádios de cada ilha e conhecer as notícias e a política local (...) Mas implica trabalho."
Não, não vou dizer que não é possível ler rádios. Mas vou dizer que qualquer organização tem de ponderar os recursos de que dispõe e os benefícios que tenciona recolher do seu investimento. E vou dizer também que, por muito investimento que se faça, é muito mais fácil a alguém que conhece a política nacional e algumas "políticas locais" saber onde procurar informação e interpretá-la correctamente do que a alguém que não as conhece. O meu post era uma confissão de ignorância. Fizemos investimento para compensar essa ignorância (que nos permitiu perceber, entre muitas outras coisas, que os resultados que estávamos a captar do CDS eram credíveis) mas esse investimento daria sempre, em comparação com o que fizéssemos noutros contextos com os quais temos maior familiaridade, menos retornos.
5. "É possível que os "pequenos partidos" decidam livremente e consigam ter bons candidatos em nove ilhas."
Sim, é possível. E?
E parece que a palavra "chatice" também foi mal interpretada. Foi usada no sentido de dizer que as eleições nos Açores, por razões que já devem ser óbvias, nos colocam problemas maiores que as outras. Mas não é "chato" trabalhar nos Açores. Faz-se o que se gosta e, ainda por cima, aprende-se. E não é chato ir aos Açores. São lindos. Têm uma pessoa ou outra um bocado obtusa. Mas isso é coisa que também há (se calhar até mais) no Continente.
P.S- Dou-me conta que a única parte do post que não comentei foi o parágrafo final. Mas essa é a única parte do texto que me parece verdadeiramente mal-intencionada, pelo que nem vale a pena comentar.
DBH confunde várias coisas, a saber:
1. "Porque (sic) foram os resultados das eleições de ontem diferentes da sondagem (Eurosondagem, não CESOP)?"
O meu post não tem a ver com esse assunto. O meu post tem a ver com o facto da realização de sondagens nos Açores introduzir dificuldades diferentes (e superiores) à realização de outro tipo de sondagens eleitorais, mesmo que sejam sondagens à boca das urnas (e, por isso, livres dos problemas trazidos pela abstenção não declarada e pela medição de intenções e não comportamentos).
2. "Ao contrário do que diz o Pedro Magalhães, é possível ir a todas as ilhas"
Ao contrário do que sugere DBH, nenhum meio de comunicação social está disposto a pagar o que seria necessário pagar para que um instituto de sondagens pudesse realizar trabalho de campo presencial em todas as ilhas dos Açores, dispondo assim de uma amostra representativa dos - neste caso - votantes em todo o arquipélago e evitando assim ter de estimar alguns resultados por extrapolação, com todo o risco e incerteza que isso implica. A não ser que DBH esteja a querer dizer que é possível ir a todas as ilhas, ou seja, que há meios de transporte para lá chegar caso se queira lá ir. Mas se é isso, La Palisse estará contente na sua tumba.
3. "É possível telefonar (se não puder ir) a eleitores em todas as ilhas"
Quando DBH me explicar como é que se fazem sondagens à boca das urnas pelo telefone, eu ficar-lhe-ei eternamente grato.
4. "É possível ler na internet os jornais e rádios de cada ilha e conhecer as notícias e a política local (...) Mas implica trabalho."
Não, não vou dizer que não é possível ler rádios. Mas vou dizer que qualquer organização tem de ponderar os recursos de que dispõe e os benefícios que tenciona recolher do seu investimento. E vou dizer também que, por muito investimento que se faça, é muito mais fácil a alguém que conhece a política nacional e algumas "políticas locais" saber onde procurar informação e interpretá-la correctamente do que a alguém que não as conhece. O meu post era uma confissão de ignorância. Fizemos investimento para compensar essa ignorância (que nos permitiu perceber, entre muitas outras coisas, que os resultados que estávamos a captar do CDS eram credíveis) mas esse investimento daria sempre, em comparação com o que fizéssemos noutros contextos com os quais temos maior familiaridade, menos retornos.
5. "É possível que os "pequenos partidos" decidam livremente e consigam ter bons candidatos em nove ilhas."
Sim, é possível. E?
E parece que a palavra "chatice" também foi mal interpretada. Foi usada no sentido de dizer que as eleições nos Açores, por razões que já devem ser óbvias, nos colocam problemas maiores que as outras. Mas não é "chato" trabalhar nos Açores. Faz-se o que se gosta e, ainda por cima, aprende-se. E não é chato ir aos Açores. São lindos. Têm uma pessoa ou outra um bocado obtusa. Mas isso é coisa que também há (se calhar até mais) no Continente.
P.S- Dou-me conta que a única parte do post que não comentei foi o parágrafo final. Mas essa é a única parte do texto que me parece verdadeiramente mal-intencionada, pelo que nem vale a pena comentar.
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