quinta-feira, dezembro 29, 2005
Obrigado
Ao Abrupto, ao Sob a Estrela do Norte e à Tasca da Cultura (e ao Insurgente e ao Portugal dos Pequeninos).
terça-feira, dezembro 27, 2005
In the future, everybody will be a polling expert for fifteen minutes
De Mark Blumenthal, o Mystery Pollster cuja existência inspirou a criação desta modesta casa, um artigo (de acesso livre) na Public Opinion Quarterly, sobre o papel da internet em geral e da blogosfera em particular na difusão, discussão e melhoria dos métodos das sondagens, num número todo ele dedicado ao tema. Sinto-me como um filho orgulhoso dos feitos do pai.
Congratulations!
Congratulations!
Mourinho na London Review of Books
segunda-feira, dezembro 26, 2005
Tendências
É possível, contudo, que parte do que estamos a observar em termos de diferenças entre as sondagens se deva não apenas ao erro amostral ou a discrepâncias entre os instrumentos usados pelos diferentes institutos nos diferentes momentos, mas sim a uma real mudança nas intenções de voto válidas ao longo do tempo (causadas quer por mudanças de intenção de voto de um candidato para outro quer pela "entrada" ou "saída" de indivíduos das categorias de "indecisão" ou "abstenção).
Os gráficos seguintes permitem-nos apreciar visualmente a plausibilidade desta hipótese genérica. Vou manter isto também simples, para benefício de todos incluindo eu próprio, que tenho lacunas importantes de formação técnica quando de trata de analisar séries temporais.
A linha sólida é a que melhor se ajusta aos dados na pressuposição de uma relação linear entre a passagem do tempo e o resultado das sondagens. A vantagem desta análise consiste em que podemos ver até que ponto as diferenças entre sondagens podem ser tratadas mero "ruído" em relação a uma tendência geral. A desvantagem, claro, é a pressuposição de uma relação de linearidade entre a passagem do tempo e as intenções de voto, pressuposição essa que pode ocultar outro tipo de tendências. A curva tracejada resulta de uma regressão polinomial ponderada loess (ou "regressão local") aos dados, em que os pontos da curva são previstos pelas observações imediatamente adjacentes (e não por todas as observações, o que resultaria numa linha igual à da regressão linear). Vantagens e desvantagens são simétricas em relação as associadas à pressuposição de linearidade: sensibilidade a evoluções não lineares, mas excessiva sensibilidade a mudanças de curto prazo e "outliers".
A tendência de subida de Soares desde meados de Outubro é muito clara. A passagem do tempo explica mais de metade da variância nos resultados e, apesar das diferenças claras entre institutos (Eurosondagem sempre mais lisonjeira, Marktest e Aximage sempre menos), a subida é constante para todos.
Alegre desce. Os efeitos da passagem do tempo são menores que no caso de Soares e os dados ajustam-se menos bem à pressuposição de linearidade, mas a tendência está lá e também é estatisticamente significativa.
Jerónimo e Louçã estão estáveis, apesar de, como já sabemos, os resultados de Louçã exibirem maior dispersão. Mas essa dispersão terá de ter outra explicação que não o factor tempo.
Os resultados de Cavaco são os mais intrigantes. Grande dispersão, compreensível tendo em conta as maiores margens de erro. Linearmente, uma descida mas, no máximo, ultra-lenta e, na verdade, carecendo de significância estatística (até agora). Mas grandes outliers: Eurosondagem (em Novembro e agora esta última), Aximage (Outubro e esta última), o IPAM (na sondagem para o Diário de Coimbra). Inconsistência de tendências no interior de cada instituto: descida seguida de subida na Aximage, subida seguida de descida na Eurosondagem, descida seguida de subida na Marktest.
As dúvidas não são resolvidas olhando para os resultados brutos. Em regra, não olho para eles porque creio que há opções técnicas que influenciam dramaticamente a percentagem de indecisos e abstencionistas captados pelas diferentes sondagens, quer entre institutos quer entre sondagens feitas pelos mesmos institutos. Contudo, ignorando isso, a análise deste quadro mostra as "intenções directas" de voto a descerem continuamente na Marktest, a descerem e depois a subirem na Aximage e a subirem para logo depois descerem na Eurosondagem.
Assim, em síntese:
1. Sinais muito claros de subida para Soares, com dispersão grandemente explicada pela passagem do tempo;
2. Sinais claros de descida para Alegre;
3. Estabilidade genérica para Jerónimo e Louçã, mas maior incerteza para o segundo;
4. Incógnita (e, à falta de melhor, estabilidade) para Cavaco.
Em Janeiro voltamos a falar.
Os gráficos seguintes permitem-nos apreciar visualmente a plausibilidade desta hipótese genérica. Vou manter isto também simples, para benefício de todos incluindo eu próprio, que tenho lacunas importantes de formação técnica quando de trata de analisar séries temporais.
A linha sólida é a que melhor se ajusta aos dados na pressuposição de uma relação linear entre a passagem do tempo e o resultado das sondagens. A vantagem desta análise consiste em que podemos ver até que ponto as diferenças entre sondagens podem ser tratadas mero "ruído" em relação a uma tendência geral. A desvantagem, claro, é a pressuposição de uma relação de linearidade entre a passagem do tempo e as intenções de voto, pressuposição essa que pode ocultar outro tipo de tendências. A curva tracejada resulta de uma regressão polinomial ponderada loess (ou "regressão local") aos dados, em que os pontos da curva são previstos pelas observações imediatamente adjacentes (e não por todas as observações, o que resultaria numa linha igual à da regressão linear). Vantagens e desvantagens são simétricas em relação as associadas à pressuposição de linearidade: sensibilidade a evoluções não lineares, mas excessiva sensibilidade a mudanças de curto prazo e "outliers".
A tendência de subida de Soares desde meados de Outubro é muito clara. A passagem do tempo explica mais de metade da variância nos resultados e, apesar das diferenças claras entre institutos (Eurosondagem sempre mais lisonjeira, Marktest e Aximage sempre menos), a subida é constante para todos.
Alegre desce. Os efeitos da passagem do tempo são menores que no caso de Soares e os dados ajustam-se menos bem à pressuposição de linearidade, mas a tendência está lá e também é estatisticamente significativa.
Jerónimo e Louçã estão estáveis, apesar de, como já sabemos, os resultados de Louçã exibirem maior dispersão. Mas essa dispersão terá de ter outra explicação que não o factor tempo.
Os resultados de Cavaco são os mais intrigantes. Grande dispersão, compreensível tendo em conta as maiores margens de erro. Linearmente, uma descida mas, no máximo, ultra-lenta e, na verdade, carecendo de significância estatística (até agora). Mas grandes outliers: Eurosondagem (em Novembro e agora esta última), Aximage (Outubro e esta última), o IPAM (na sondagem para o Diário de Coimbra). Inconsistência de tendências no interior de cada instituto: descida seguida de subida na Aximage, subida seguida de descida na Eurosondagem, descida seguida de subida na Marktest.
As dúvidas não são resolvidas olhando para os resultados brutos. Em regra, não olho para eles porque creio que há opções técnicas que influenciam dramaticamente a percentagem de indecisos e abstencionistas captados pelas diferentes sondagens, quer entre institutos quer entre sondagens feitas pelos mesmos institutos. Contudo, ignorando isso, a análise deste quadro mostra as "intenções directas" de voto a descerem continuamente na Marktest, a descerem e depois a subirem na Aximage e a subirem para logo depois descerem na Eurosondagem.
Assim, em síntese:
1. Sinais muito claros de subida para Soares, com dispersão grandemente explicada pela passagem do tempo;
2. Sinais claros de descida para Alegre;
3. Estabilidade genérica para Jerónimo e Louçã, mas maior incerteza para o segundo;
4. Incógnita (e, à falta de melhor, estabilidade) para Cavaco.
Em Janeiro voltamos a falar.
Dispersão
Uma das maneiras de interpretar os resultados de diferentes sondagens é olhar para a sua dispersão. Deste ponto de vista, o analista não faz qualquer pressuposição sobre a existência de efeitos sobre as estimativas resultantes da passagem do tempo, dos eventos políticos ou de qualquer outra dinâmica da campanha. No máximo, pressupõe que esses efeitos são erráticos, impossíveis de determinar ou negligenciáveis em relação às restantes fontes de erro, fontes essas ligadas quer ao facto de se usarem amostras para fazer inferências sobre o universo quer à miríade de factores (questionários usados, ordem das perguntas, etc, etc, etc) que podem produzir erro não amostral. Assim, o analista limita-se a constatar que há estimativas diferentes que resultam da medição da intenção de voto nas presidenciais e interpreta a sua maior ou menor dispersão como medida de uma maior ou menor incerteza acerca das intenções de voto num determinado candidato.
Quero manter isto o mais simples possível, e por isso abordo a questão da dispersão dos resultados para cada candidato consiste calculando simplesmente a amplitude (a diferença entre os resultados máximos e mínimo) e o desvio-padrão (distância em relação ao valor médio dentro da qual se encontram 68% das observações). Como se vê no gráfico seguinte, os resultados que vêm exibindo maior dispersão são os atribuidos pelas sondagens a Cavaco Silva e Mário Soares.
Contudo, feita assim, a comparação entre os candidatos é enganadora. Por exemplo, seria sempre de esperar que a dispersão obtida para os resultados de Cavaco Silva fosse elevada em comparação com a obtida para os restantes candidatos, dado que a margem de erro amostral é tanto maior quanto mais próximos os resultados estejam de 50%.
Logo, uma maneira melhor de comparar a dispersão dos resultados é comparar aquela que se verifica nos resultados com a que deveria ser esperada se a única fonte de diferenças entre as sondagens fosse a margem de erro amostral. Para esse efeito, calculei a amplitude esperada em torno da estimativa média para cada candidato causada pelo erro amostral para uma amostra de 945 (a média da dimensão das amostras nas 14 sondagens publicadas até ao momento) e, de seguida, dividi a amplitude real por essa amplitude esperada para cada candidato:
Como se interpreta este gráfico? A diferença entre os resultados máximo e mínimo obtidos pelas sondagens para Mário Soares é 2,3 vezes superior ao que seria de esperar caso a única fonte de discrepâncias entre as sondagens fosse o erro amostral. No extremo oposto, temos Jerónimo de Sousa, cujos resultados nas 14 sondagens publicadas até ao momento têm estado quase todos dentro das variações expectáveis tendo em conta o erro amostral.
Por outras palavras: na hipótese de que não se consiga apoiar com os dados disponíveis qualquer teoria plausível sobre como a passagem do tempo está a determinar variações entre os resultados obtidos para cada candidato ou sobre como a utilização de determinadas opções técnicas está a conduzir a enviesamentos em relação à realidade, o maior nível de incerteza existe em relação às intenções válidas de voto em Mário Soares, cujos resultados exibem disparidades muito superiores ao que seria de esperar tendo apenas em conta o erro amostral associado às várias estimativas. Apesar da variação nos resultados de Cavaco Silva ser, em absoluto, igualmente grande, ela é bastante menos significativa, tendo em conta que se estão a estimar resultados mais próximos dos 50%.
Quero manter isto o mais simples possível, e por isso abordo a questão da dispersão dos resultados para cada candidato consiste calculando simplesmente a amplitude (a diferença entre os resultados máximos e mínimo) e o desvio-padrão (distância em relação ao valor médio dentro da qual se encontram 68% das observações). Como se vê no gráfico seguinte, os resultados que vêm exibindo maior dispersão são os atribuidos pelas sondagens a Cavaco Silva e Mário Soares.
Contudo, feita assim, a comparação entre os candidatos é enganadora. Por exemplo, seria sempre de esperar que a dispersão obtida para os resultados de Cavaco Silva fosse elevada em comparação com a obtida para os restantes candidatos, dado que a margem de erro amostral é tanto maior quanto mais próximos os resultados estejam de 50%.
Logo, uma maneira melhor de comparar a dispersão dos resultados é comparar aquela que se verifica nos resultados com a que deveria ser esperada se a única fonte de diferenças entre as sondagens fosse a margem de erro amostral. Para esse efeito, calculei a amplitude esperada em torno da estimativa média para cada candidato causada pelo erro amostral para uma amostra de 945 (a média da dimensão das amostras nas 14 sondagens publicadas até ao momento) e, de seguida, dividi a amplitude real por essa amplitude esperada para cada candidato:
Como se interpreta este gráfico? A diferença entre os resultados máximo e mínimo obtidos pelas sondagens para Mário Soares é 2,3 vezes superior ao que seria de esperar caso a única fonte de discrepâncias entre as sondagens fosse o erro amostral. No extremo oposto, temos Jerónimo de Sousa, cujos resultados nas 14 sondagens publicadas até ao momento têm estado quase todos dentro das variações expectáveis tendo em conta o erro amostral.
Por outras palavras: na hipótese de que não se consiga apoiar com os dados disponíveis qualquer teoria plausível sobre como a passagem do tempo está a determinar variações entre os resultados obtidos para cada candidato ou sobre como a utilização de determinadas opções técnicas está a conduzir a enviesamentos em relação à realidade, o maior nível de incerteza existe em relação às intenções válidas de voto em Mário Soares, cujos resultados exibem disparidades muito superiores ao que seria de esperar tendo apenas em conta o erro amostral associado às várias estimativas. Apesar da variação nos resultados de Cavaco Silva ser, em absoluto, igualmente grande, ela é bastante menos significativa, tendo em conta que se estão a estimar resultados mais próximos dos 50%.
Actualização
Quadro com sondagem SIC/Eurosondagem:
Título da notícia: Vitória à primeira garantida.
É extraordinário como, neste título com apenas quatro palavras, se consegue, pegando numa sondagem feita a um mês da eleição, interpretar a estimativa pontual obtida como indicando um "resultado eleitoral garantido", e ainda por cima não perceber que aquilo que a sondagem diz é que, tendo apenas em conta a margem de erro amostral, a inferência para o universo é que Cavaco terá neste momento entre 49% e 55% de intenções de votos válidas.
Título da notícia: Vitória à primeira garantida.
É extraordinário como, neste título com apenas quatro palavras, se consegue, pegando numa sondagem feita a um mês da eleição, interpretar a estimativa pontual obtida como indicando um "resultado eleitoral garantido", e ainda por cima não perceber que aquilo que a sondagem diz é que, tendo apenas em conta a margem de erro amostral, a inferência para o universo é que Cavaco terá neste momento entre 49% e 55% de intenções de votos válidas.
Sim e sim
Sobre os efeitos dos debates:
No Blogo Existo:
Como se torna evidente quando ouvimos as pessoas discutir o debate, uma pergunta dessas pode ser entendida de várias maneiras. Eis algumas:
1. Quem acha que revelou maior capacidade de argumentação?
2. Quem acha que foi mais convincente?
3. Quem acha que se defendeu melhor?
4. Quem o convenceu a si?
5. Quem acha que convenceu os outros?
6. Quem conseguiu alterar a seu favor a opinião do eleitorado?
Ontem, logo após o debate, o Director do Público opinou que a vitória táctica foi de Soares, mas a vitória estratégica foi de Cavaco. Entendo perfeitamente o que ele quer dizer, mas fico a pensar como responderia JM Fernandes à sondagem realizada.A ideia de perguntar às pessoas se mudaram de opinião em função do debate parece boa, mas tampouco funciona. Poucas pessoas estarão disponíveis para admitir que um mero debate inflectiu o seu sentido de voto, porque isso fá-las parecer algo volúveis, ou mesmo tontas.
De um leitor do Bloguítica:
Procurando acrescentar um dado adicional à questão, refiro que o resultado de um debate pode alterar-se de dia para dia. Isto é, na noite do debate pode ser um determinado resultado, no dia seguinte outro e assim sucessivamente. Nos estudos que costumo promover, só me "decido" acerca do resultado de um debate (por exemplo) ao fim de 4 ou 5 dias, isto é, enquanto avalio se as opiniões dos inquiridos não foram alteradas por outros acontecimentos. Os resultados vão-se alterando de dia para dia, em parte certamente pelas circunstâncias do próprio estudo, mas em parte também pelos comentários entretanto produzidos, pelas repercussões nos outros media, pelas repetições do best of nas várias televisões. Mas, em parte também porque o racional vai-se sobrepondo ao emocional, isto é, as pessoas deixam de olhar para o debate pelo debate propriamente dito e passam a reflectir sobre o debate em função dos seus objectivos políticos – intenções de voto.
No Blogo Existo:
Como se torna evidente quando ouvimos as pessoas discutir o debate, uma pergunta dessas pode ser entendida de várias maneiras. Eis algumas:
1. Quem acha que revelou maior capacidade de argumentação?
2. Quem acha que foi mais convincente?
3. Quem acha que se defendeu melhor?
4. Quem o convenceu a si?
5. Quem acha que convenceu os outros?
6. Quem conseguiu alterar a seu favor a opinião do eleitorado?
Ontem, logo após o debate, o Director do Público opinou que a vitória táctica foi de Soares, mas a vitória estratégica foi de Cavaco. Entendo perfeitamente o que ele quer dizer, mas fico a pensar como responderia JM Fernandes à sondagem realizada.A ideia de perguntar às pessoas se mudaram de opinião em função do debate parece boa, mas tampouco funciona. Poucas pessoas estarão disponíveis para admitir que um mero debate inflectiu o seu sentido de voto, porque isso fá-las parecer algo volúveis, ou mesmo tontas.
De um leitor do Bloguítica:
Procurando acrescentar um dado adicional à questão, refiro que o resultado de um debate pode alterar-se de dia para dia. Isto é, na noite do debate pode ser um determinado resultado, no dia seguinte outro e assim sucessivamente. Nos estudos que costumo promover, só me "decido" acerca do resultado de um debate (por exemplo) ao fim de 4 ou 5 dias, isto é, enquanto avalio se as opiniões dos inquiridos não foram alteradas por outros acontecimentos. Os resultados vão-se alterando de dia para dia, em parte certamente pelas circunstâncias do próprio estudo, mas em parte também pelos comentários entretanto produzidos, pelas repercussões nos outros media, pelas repetições do best of nas várias televisões. Mas, em parte também porque o racional vai-se sobrepondo ao emocional, isto é, as pessoas deixam de olhar para o debate pelo debate propriamente dito e passam a reflectir sobre o debate em função dos seus objectivos políticos – intenções de voto.
sexta-feira, dezembro 23, 2005
O debate
Na sondagem da Aximage, cujo universo é o dos eleitores residentes em Portugal em lares com telefone fixo, 82,5% dos inquiridos manifestam uma opinião sobre "quem esteve melhor" no debate Soares/Cavaco (com manifesta vantagem para Cavaco, 58,3% contra 24,1%). A acreditar nos dados da audiometria, que apontam para 14,6% de audiência média, e mesmo contando com o facto de esta última se reportar, suponho, ao total da população (incluindo não eleitores), isto só pode significar que a maioria dos eleitores formou uma opinião sobre quem esteve melhor no debate sem sequer lhe ter assistido. E pensando bem, por que não?
As sondagens de hoje: resultados e dúvidas
Foi divulgada ontem uma sondagem da Intercampus para a TVI, seguida de outra hoje da Aximage para o Correio da Manhã. Confesso-vos que eu próprio já não me consigo ler nem ouvir a escrever ou a falar sobre estas coisas, e não estranharei se a vossa paciência já se tiver esgotado há muito. Mas vejamos:
1. Intercampus, TVI, 22 de Dezembro: temos os resultados brutos. Os "não sabe/não responde" e dos "não vou votar" são agregados numa mesma categoria (14,5%). Depois apresentam-se os resultados após uma redistribuição de indecisos onde são tratados como abstencionistas. As minhas contas dão uma diferença de uma décima em dois dos candidatos, mas tudo bem: está tudo claro e bem explicado.
Mais confuso é o tratamento da notícia pela TVI. Escreve-se o seguinte:
De acordo com a sondagem Intercampus/TVI, se as eleições fossem hoje e tendo em conta os indecisos, o candidato da direita venceria com 45,6 por cento dos votos, um resultado que não chega para se eleito Presidente da República.
Bem, mas logo a seguir escreve-se:
Na verdade, e de acordo com a sondagem Intercampus/TVI, retirando os indecisos, Cavaco Silva obtém 53,3 por cento dos votos, um resultado que tendo em conta a margem de erro da sondagem garante a eleição à primeira volta.
Que confusão. Outro problema é que a TVI continua a não informar na ficha técnica como selecciona os locais do país onde escolhe alojamentos, como escolhe esses alojamentos onde faz inquéritos nem como selecciona os inquiridos dentro de cada alojamento, ou seja, não descreve o método de amostragem. Como calculo que não seja nada que não se possa explicar de forma relativamente simples, não seria melhor fazê-lo? Já agora, interpreto "entrevista directa e pessoal" como significando que foi um inquérito face-a-face, presencial. A ser assim, trata-se do primeiro do género divulgado na comunicação social desde que todos os principais candidatos estão confirmados.
2. Aximage, CM, 23 de Dezembro: Temos, na página 8, um gráfico de "tarte" com os resultados brutos, a saber:
Cavaco Silva: 56,5%
Mário Soares: 11,4%
Manuel Alegre: 10,3%
Jerónimo de Sousa: 3,7%
Francisco Louçã: 3,4%
Outros: 0,9%
Indecisos: 13,8%
A soma disto dá 100%. São apresentadas também estimativas para, cito, os "votos sem indecisos". Não se faz menção a qualquer método específico de redistribuição, pelo que a primeira interpretação possível é a de que as percentagens foram recalculadas redistribuindo proporcionalmente os indecisos pelos votos válidos, ou seja, tratando-os como abstencionistas. Os resultados apresentados no jornal são os seguintes:
Cavaco Silva: 61%
Mário Soares: 17,1%
Manuel Alegre: 13,1%
Jerónimo de Sousa: 4%
Francisco Louçã: 3,8%
Outros: 1%
Como se chegou a estes números? Não sei, mas sei outra coisa: de certeza que não foi redistribuindo os 13,8% indecisos proporcionalmente pelas restantes opções. Se assim tivesse sido, os resultados teriam sido estes:
Cavaco Silva: 65,5%
Mário Soares: 13,2%
Manuel Alegre: 11,9%
Jerónimo de Sousa: 4,3%
Francisco Louçã: 3,9%
Outros: 1,0%
Não passa de uma regra de três simples, simples mesmo: no caso de Cavaco, 56,5 está para 86,2 (100-13,8) como x está para 100. X é igual a 56,5*100/86,2=65,5. Para os outros é só repetir a operação. É possível que esteja a ver a coisa mal mas, sinceramente, não creio. Logo, das duas uma: ou a Aximage e/ou o Correio da Manhã se enganaram nas contas, ou usam um método de redistribuição diferente deste, mas que não é explicado.
Vou supor que estamos perante o segundo caso, aceitando como "bons" - respeitando as decisões de quem apresenta os dados - os resultados "sem indecisos" apresentados pelo jornal. Contudo, sendo assim, acho que teria sido melhor ter-se explicado o método de redistribuição de indecisos usado.
E mais uma vez, desculpem o que pode parecer excesso de zelo, mas eu só quero perceber bem o que é feito para obter estes resultados, e assim não se vai lá.
1. Intercampus, TVI, 22 de Dezembro: temos os resultados brutos. Os "não sabe/não responde" e dos "não vou votar" são agregados numa mesma categoria (14,5%). Depois apresentam-se os resultados após uma redistribuição de indecisos onde são tratados como abstencionistas. As minhas contas dão uma diferença de uma décima em dois dos candidatos, mas tudo bem: está tudo claro e bem explicado.
Mais confuso é o tratamento da notícia pela TVI. Escreve-se o seguinte:
De acordo com a sondagem Intercampus/TVI, se as eleições fossem hoje e tendo em conta os indecisos, o candidato da direita venceria com 45,6 por cento dos votos, um resultado que não chega para se eleito Presidente da República.
Bem, mas logo a seguir escreve-se:
Na verdade, e de acordo com a sondagem Intercampus/TVI, retirando os indecisos, Cavaco Silva obtém 53,3 por cento dos votos, um resultado que tendo em conta a margem de erro da sondagem garante a eleição à primeira volta.
Que confusão. Outro problema é que a TVI continua a não informar na ficha técnica como selecciona os locais do país onde escolhe alojamentos, como escolhe esses alojamentos onde faz inquéritos nem como selecciona os inquiridos dentro de cada alojamento, ou seja, não descreve o método de amostragem. Como calculo que não seja nada que não se possa explicar de forma relativamente simples, não seria melhor fazê-lo? Já agora, interpreto "entrevista directa e pessoal" como significando que foi um inquérito face-a-face, presencial. A ser assim, trata-se do primeiro do género divulgado na comunicação social desde que todos os principais candidatos estão confirmados.
2. Aximage, CM, 23 de Dezembro: Temos, na página 8, um gráfico de "tarte" com os resultados brutos, a saber:
Cavaco Silva: 56,5%
Mário Soares: 11,4%
Manuel Alegre: 10,3%
Jerónimo de Sousa: 3,7%
Francisco Louçã: 3,4%
Outros: 0,9%
Indecisos: 13,8%
A soma disto dá 100%. São apresentadas também estimativas para, cito, os "votos sem indecisos". Não se faz menção a qualquer método específico de redistribuição, pelo que a primeira interpretação possível é a de que as percentagens foram recalculadas redistribuindo proporcionalmente os indecisos pelos votos válidos, ou seja, tratando-os como abstencionistas. Os resultados apresentados no jornal são os seguintes:
Cavaco Silva: 61%
Mário Soares: 17,1%
Manuel Alegre: 13,1%
Jerónimo de Sousa: 4%
Francisco Louçã: 3,8%
Outros: 1%
Como se chegou a estes números? Não sei, mas sei outra coisa: de certeza que não foi redistribuindo os 13,8% indecisos proporcionalmente pelas restantes opções. Se assim tivesse sido, os resultados teriam sido estes:
Cavaco Silva: 65,5%
Mário Soares: 13,2%
Manuel Alegre: 11,9%
Jerónimo de Sousa: 4,3%
Francisco Louçã: 3,9%
Outros: 1,0%
Não passa de uma regra de três simples, simples mesmo: no caso de Cavaco, 56,5 está para 86,2 (100-13,8) como x está para 100. X é igual a 56,5*100/86,2=65,5. Para os outros é só repetir a operação. É possível que esteja a ver a coisa mal mas, sinceramente, não creio. Logo, das duas uma: ou a Aximage e/ou o Correio da Manhã se enganaram nas contas, ou usam um método de redistribuição diferente deste, mas que não é explicado.
Vou supor que estamos perante o segundo caso, aceitando como "bons" - respeitando as decisões de quem apresenta os dados - os resultados "sem indecisos" apresentados pelo jornal. Contudo, sendo assim, acho que teria sido melhor ter-se explicado o método de redistribuição de indecisos usado.
E mais uma vez, desculpem o que pode parecer excesso de zelo, mas eu só quero perceber bem o que é feito para obter estes resultados, e assim não se vai lá.
quarta-feira, dezembro 21, 2005
Actualização
Como prometido, a actualização dos resultados na base dos dados que me foram enviados ontem pela Marktest. Para além disso, incluo uma nova sondagem, de cuja publicação não me tinha apercebido, realizada pela GEMEO/IPAM e publicada no Diário de Coimbra.
A evolução da "poll of polls" (média móvel das últimas três sondagens) fica assim:
Sobre os debates:
1. Sondagem Eurosondagem, Telefónica, 780 entrevistas:
Mário Soares: 25%
Cavaco Silva: 23,7%
Não sabe/Não responde/ não assistiu: 51,3%
2. O post do Bloguítica sobre os debates e as sondagens exprime dúvidas sobre a utilidade da informação sobre o "vencedor" do debate, afirmando que o interessante seria saber "independentemente de quem foi o vencedor, na sequência dos debates, no universo dos sondados, quem é que mudou de orientação de voto? Mudou como? Que percentagem?".
Estou completamente de acordo, como aliás se depreende do que escrevi aqui, aqui e aqui. E para que a sondagem fosse mais útil, nem se tratava exactamente de fazer o que diz aqui o Ivan - "estratificar" a amostra por identificação partidária ou posicionamento ideológico - mas, tão só ... de perguntar qual essa identificação e posicionamento. A partir daí, teria sido possível ficar a conhecer que amostra temos desse ponto de vista, e a forma diferencial como a direita e a esquerda e os eleitores dos diversos partidos viram o debate.
Um exemplo, muito simplista mas que pode servir: estes resultados agregados obtidos na sondagem sobre o "vencedor" do debate podem ter acontecido porque a esmagadora maioria dos eleitores do PS e a maior parte dos eleitores sem identificação partidária ou "centristas" deram a vitória a Mário Soares. Isso significaria um excelente resultado para esse candidato, dado que é esse eleitorado que tem tido dificuldade em hegemonizar (os eleitores do PS, havendo uma parte deles que tem afirmado tencionar votar Cavaco) ou sequer atingir (os eleitores sem simpatias partidárias claras).
Mas os mesmos resultados na sondagem podem ter ocorrido apenas porque os actuais eleitores de Soares e dos restantes candidatos de esquerda deram a vitória a Soares por mera hostilidade genérica a Cavaco, sem que isso implique a capacidade de atingir o eleitorado que pode fazer a diferença. Mas nada sabemos sobre isto, porque a sondagem nada mais perguntou, aparentemente, do que "quem ganhou".
Dito isto, é evidente que o resultado, em si mesmo, enquanto facto político, pode não ser destituído de consequências, servindo potencialmente para galvanizar a candidatura de Soares e os seus apoiantes ou, por exemplo, para aumentar a percepção entre os eleitores de esquerda de que é o único adversário viável de Cavaco (minando assim, especialmente, a candidatura de Alegre). Mas isso seria ainda mais difícil de medir e apreciar.
A evolução da "poll of polls" (média móvel das últimas três sondagens) fica assim:
Sobre os debates:
1. Sondagem Eurosondagem, Telefónica, 780 entrevistas:
Mário Soares: 25%
Cavaco Silva: 23,7%
Não sabe/Não responde/ não assistiu: 51,3%
2. O post do Bloguítica sobre os debates e as sondagens exprime dúvidas sobre a utilidade da informação sobre o "vencedor" do debate, afirmando que o interessante seria saber "independentemente de quem foi o vencedor, na sequência dos debates, no universo dos sondados, quem é que mudou de orientação de voto? Mudou como? Que percentagem?".
Estou completamente de acordo, como aliás se depreende do que escrevi aqui, aqui e aqui. E para que a sondagem fosse mais útil, nem se tratava exactamente de fazer o que diz aqui o Ivan - "estratificar" a amostra por identificação partidária ou posicionamento ideológico - mas, tão só ... de perguntar qual essa identificação e posicionamento. A partir daí, teria sido possível ficar a conhecer que amostra temos desse ponto de vista, e a forma diferencial como a direita e a esquerda e os eleitores dos diversos partidos viram o debate.
Um exemplo, muito simplista mas que pode servir: estes resultados agregados obtidos na sondagem sobre o "vencedor" do debate podem ter acontecido porque a esmagadora maioria dos eleitores do PS e a maior parte dos eleitores sem identificação partidária ou "centristas" deram a vitória a Mário Soares. Isso significaria um excelente resultado para esse candidato, dado que é esse eleitorado que tem tido dificuldade em hegemonizar (os eleitores do PS, havendo uma parte deles que tem afirmado tencionar votar Cavaco) ou sequer atingir (os eleitores sem simpatias partidárias claras).
Mas os mesmos resultados na sondagem podem ter ocorrido apenas porque os actuais eleitores de Soares e dos restantes candidatos de esquerda deram a vitória a Soares por mera hostilidade genérica a Cavaco, sem que isso implique a capacidade de atingir o eleitorado que pode fazer a diferença. Mas nada sabemos sobre isto, porque a sondagem nada mais perguntou, aparentemente, do que "quem ganhou".
Dito isto, é evidente que o resultado, em si mesmo, enquanto facto político, pode não ser destituído de consequências, servindo potencialmente para galvanizar a candidatura de Soares e os seus apoiantes ou, por exemplo, para aumentar a percepção entre os eleitores de esquerda de que é o único adversário viável de Cavaco (minando assim, especialmente, a candidatura de Alegre). Mas isso seria ainda mais difícil de medir e apreciar.
terça-feira, dezembro 20, 2005
Marktest, resultados brutos
Neste post, mencionei de passagem que "a Marktest, sempre tão certinha na apresentação completa dos resultados brutos, esqueceu-se de o fazer desta vez."
Recebi dois e-mails, ambos muito amáveis. Um, de Luis Queirós, da Marktest, que me envia a ficha técnica completa depositada na AACS. Outro, de João Fernandes, do DN, onde se me rectifica a informação, dizendo que "os resultados brutos estão no DN".
Das duas uma: ou eu me enganei (e já não tenho comigo o DN para confirmar) ou então não me fiz entender. O que vi no DN foi um gráfico com os resultados brutos, mas não completos, ou seja, faltando-lhes a percentagem de inquiridos que declararam não tencionar votar e que declararam tencionar votar em branco (e/ou nulo). Daí que tenha deixado ambos os campos no meu quadro com um ponto de interrogação.
Desculpem o excesso de zelo, mas só acontece porque a Marktest nos habituou a fichas técnicas impecáveis. Mas é possível que não tenha visto bem. Será?
Seja como for, aqui vai o que faltava:
Não voto: 4,2%
Voto em branco:2,6%
E se quiserem a desgregação dos "ns/nr":
Ns:16,9%
Nr:4,7%
Amanhã actualizo o quadro.
Recebi dois e-mails, ambos muito amáveis. Um, de Luis Queirós, da Marktest, que me envia a ficha técnica completa depositada na AACS. Outro, de João Fernandes, do DN, onde se me rectifica a informação, dizendo que "os resultados brutos estão no DN".
Das duas uma: ou eu me enganei (e já não tenho comigo o DN para confirmar) ou então não me fiz entender. O que vi no DN foi um gráfico com os resultados brutos, mas não completos, ou seja, faltando-lhes a percentagem de inquiridos que declararam não tencionar votar e que declararam tencionar votar em branco (e/ou nulo). Daí que tenha deixado ambos os campos no meu quadro com um ponto de interrogação.
Desculpem o excesso de zelo, mas só acontece porque a Marktest nos habituou a fichas técnicas impecáveis. Mas é possível que não tenha visto bem. Será?
Seja como for, aqui vai o que faltava:
Não voto: 4,2%
Voto em branco:2,6%
E se quiserem a desgregação dos "ns/nr":
Ns:16,9%
Nr:4,7%
Amanhã actualizo o quadro.
Petição
O autor deste blogue pede, ou melhor, implora à SIC e à Eurosondagem que, dado terem decido empregar os seus recursos técnicos e financeiros na realização de sondagens após o debates com o fim de determinar quem foi o vencedor, não se esqueçam hoje de colocar alguma pergunta que permita caracterizar e desagregar a amostra do ponto de vista político ou ideológico, de forma a se poder saber, no mínimo dos mínimos, as percepções dos eleitores por identificação partidária, posicionamento ideológico, ou qualquer coisa do género. Aquela coisa da semana passada do "esquerda", "centro-esquerda", etc, já não era mau. É só uma pergunta. Vá lá.
Assinado,
A Gerência
Assinado,
A Gerência
Notas soltas sobre a sondagem Marktest
Algumas notas adicionais sobre esta sondagem, aproveitando comentários que já circulam na blogosfera:
1. Quem por aqui passa sabe que raramente cito as sondagens presidenciais que vão sendo divulgadas. Trata-se de uma questão de prudência e nada mais. Não posso, no entanto, deixar de ecoar os resultados da mais recente sondagem DN/TSF que dá 16% a Manuel Alegre e 13% a Mário Soares (Lusa, 20.12.2005).Depois dos polémicos -- ou talvez não, veremos... -- valores da Eurosondagem de Rui Oliveira e Costa, resta aguardar pelos próximos resultados, desta vez julgo que fornecidos pela sondagem da Universidade Católica (in Bloguítica)
Por lapso, o Paulo Gorjão colocou resultados errados no seu post. Os correctos são, arrendondando, 16% para Manuel Alegre e 15% para Mário Soares. Quanto ao resto, não creio que a sondagem da Católica seja a próxima a ser divulgada: em princípio, segundo entendi na SIC Notícias na passada 6ª feira, haverá mais uma sondagem no Expresso no próximo Sábado. E A Católica é depois disso...
2. Os números em bruto desta sondagem mostram uma subida do número de indecisos, que este mês atingem 21,6% dos inquiridos (in Super Mário).
Não creio que esses valores sejam comparáveis aos da sondagem anterior. A sondagem anterior foi feita no quadro do Barómetro Marktest, um inquérito longo que, imagino, gera uma elevada taxa de recusas à partida - recusas de inquiridos em fazerem parte da amostra - e que, por isso, surge com um baixa percentagem de inquiridos "ns/nr" (porque muitos já foram excluídos à partida). Esta sondagem, pelo contrário, parece ser, pela ficha técnica, uma sondagem curta e dedicada exclusivamente ao tema "presidenciais". Isso deverá ter levado a uma maior taxa de resposta ao inquérito mas, depois, a uma comparativamente mais elevada percentagem de inquiridos que recusam responder à pergunta sobre intenção de voto. É a minha suposição, mas só a Marktest poderá responder cabalmente a isto. Já agora, a Marktest, sempre tão certinha na apresentação completa dos resultados brutos, esqueceu-se de o fazer desta vez...
3. Discrepâncias entre sondagens, para aqueles que com elas se inquietam. A minha sugestão é que leiam o que se segue, se puderem várias vezes, e assim escusam de me ouvir perorar novamente - e com muito menos competência - sobre o assunto:
All polls are subject to sampling errors, so two polls taken under identical conditions will vary by a highly predictable amount. That variation depends on the sample size (and sample design) and the variability in the population. Polls also vary due to non-sampling errors. These come from question wording, order of questions in the survey, "house" effects due to different procedures across polling organizations, response errors and "everything else" that can lead to error in a poll. The combination of sampling and non-sampling error is often referred to as "total survey error". The problem is that we have well established formulas for calculating sampling error, but the modeling of non-sampling errors is much harder and lacks the formal properties that sampling errors possess. Sampling error reflects the variation in polls we'd find if there were no non-sampling errors. Total survey error reflects the actual variability we see.
(...)
Every polling organization can produce results that are outliers. What is important is spotting them and putting them in proper perspective. That is far more desirable than suppressing the results or pointing to them as examples of "bias". What matters is performance over the long term, not in any single sample.
1. Quem por aqui passa sabe que raramente cito as sondagens presidenciais que vão sendo divulgadas. Trata-se de uma questão de prudência e nada mais. Não posso, no entanto, deixar de ecoar os resultados da mais recente sondagem DN/TSF que dá 16% a Manuel Alegre e 13% a Mário Soares (Lusa, 20.12.2005).Depois dos polémicos -- ou talvez não, veremos... -- valores da Eurosondagem de Rui Oliveira e Costa, resta aguardar pelos próximos resultados, desta vez julgo que fornecidos pela sondagem da Universidade Católica (in Bloguítica)
Por lapso, o Paulo Gorjão colocou resultados errados no seu post. Os correctos são, arrendondando, 16% para Manuel Alegre e 15% para Mário Soares. Quanto ao resto, não creio que a sondagem da Católica seja a próxima a ser divulgada: em princípio, segundo entendi na SIC Notícias na passada 6ª feira, haverá mais uma sondagem no Expresso no próximo Sábado. E A Católica é depois disso...
2. Os números em bruto desta sondagem mostram uma subida do número de indecisos, que este mês atingem 21,6% dos inquiridos (in Super Mário).
Não creio que esses valores sejam comparáveis aos da sondagem anterior. A sondagem anterior foi feita no quadro do Barómetro Marktest, um inquérito longo que, imagino, gera uma elevada taxa de recusas à partida - recusas de inquiridos em fazerem parte da amostra - e que, por isso, surge com um baixa percentagem de inquiridos "ns/nr" (porque muitos já foram excluídos à partida). Esta sondagem, pelo contrário, parece ser, pela ficha técnica, uma sondagem curta e dedicada exclusivamente ao tema "presidenciais". Isso deverá ter levado a uma maior taxa de resposta ao inquérito mas, depois, a uma comparativamente mais elevada percentagem de inquiridos que recusam responder à pergunta sobre intenção de voto. É a minha suposição, mas só a Marktest poderá responder cabalmente a isto. Já agora, a Marktest, sempre tão certinha na apresentação completa dos resultados brutos, esqueceu-se de o fazer desta vez...
3. Discrepâncias entre sondagens, para aqueles que com elas se inquietam. A minha sugestão é que leiam o que se segue, se puderem várias vezes, e assim escusam de me ouvir perorar novamente - e com muito menos competência - sobre o assunto:
All polls are subject to sampling errors, so two polls taken under identical conditions will vary by a highly predictable amount. That variation depends on the sample size (and sample design) and the variability in the population. Polls also vary due to non-sampling errors. These come from question wording, order of questions in the survey, "house" effects due to different procedures across polling organizations, response errors and "everything else" that can lead to error in a poll. The combination of sampling and non-sampling error is often referred to as "total survey error". The problem is that we have well established formulas for calculating sampling error, but the modeling of non-sampling errors is much harder and lacks the formal properties that sampling errors possess. Sampling error reflects the variation in polls we'd find if there were no non-sampling errors. Total survey error reflects the actual variability we see.
(...)
Every polling organization can produce results that are outliers. What is important is spotting them and putting them in proper perspective. That is far more desirable than suppressing the results or pointing to them as examples of "bias". What matters is performance over the long term, not in any single sample.
Marktest, Presidenciais, 20 de Dezembro
Divulgada hoje a sondagem Marktest para o DN e a TSF:
A evolução da média móvel das últimas três sondagens fica assim:
Em relação às sondagens anteriores, duas confirmações: uma sobre tendências, e outra sobre a impossibilidade de inferências.
A tendência já tinha sido assinalada aqui e aqui: a subida de Soares e a descida de Alegre. Ela vê-se na comparação das sondagens Aximage entre si (Alegre de 19% para 14%, Soares de 12% para 17%), Eurosondagem (Alegre de 16,9% para 12,5%, Soares de 18% para 20,4%) e, agora, Marktest (Alegre de 19% para 16,2%, Soares de 13% para 14,8%). É demasiada regularidade para ser coincidência.
A impossibilidade de inferência já tinha sido assinalada aqui: "em rigor, acho que ninguém pode dizer com segurança quem recolhe, neste momento, mais intenções válidas de voto, Alegre ou Soares." É certo que, se a tendência anterior continuar, esta questão poderá resolver-se em breve. Mas as diferenças entre os resultados dos diferentes institutos continuam a ser muito grandes e, nalguns casos, em sentidos contraditórios, para além do facto de esta sondagem da Marktest ser, das cinco sondagens mais recentes, a terceira que coloca os dois candidatos a uma diferença inferior à margem de erro amostral.
Lá em "cima", tudo na mesma...
A evolução da média móvel das últimas três sondagens fica assim:
Em relação às sondagens anteriores, duas confirmações: uma sobre tendências, e outra sobre a impossibilidade de inferências.
A tendência já tinha sido assinalada aqui e aqui: a subida de Soares e a descida de Alegre. Ela vê-se na comparação das sondagens Aximage entre si (Alegre de 19% para 14%, Soares de 12% para 17%), Eurosondagem (Alegre de 16,9% para 12,5%, Soares de 18% para 20,4%) e, agora, Marktest (Alegre de 19% para 16,2%, Soares de 13% para 14,8%). É demasiada regularidade para ser coincidência.
A impossibilidade de inferência já tinha sido assinalada aqui: "em rigor, acho que ninguém pode dizer com segurança quem recolhe, neste momento, mais intenções válidas de voto, Alegre ou Soares." É certo que, se a tendência anterior continuar, esta questão poderá resolver-se em breve. Mas as diferenças entre os resultados dos diferentes institutos continuam a ser muito grandes e, nalguns casos, em sentidos contraditórios, para além do facto de esta sondagem da Marktest ser, das cinco sondagens mais recentes, a terceira que coloca os dois candidatos a uma diferença inferior à margem de erro amostral.
Lá em "cima", tudo na mesma...
segunda-feira, dezembro 19, 2005
Antes da gritaria
O que fazer quando uma sondagem apresenta um resultado desviante em relação à maioria dos restantes estudos publicados? Em Portugal, grita-se muito. Noutros sítios, estuda-se e trabalha-se. Dois exemplos da segunda modalidade, aqui, no sítio cada vez mais do costume, e aqui, num que vai passar a ser. Vou ver se aprendo mais qualquer coisa.
Ainda sobre a última sondagem
Pergunta-se no Insurgente:
Será lícito dar conhecimento antecipado a terceiros de uma sondagem encomendada por entidades privadas (SIC, Expresso e Rádio Renascença)?
Não sendo jurista, a minha interpretação é esta:
1. Quando a sondagem eleitoral é realizada para "pessoas colectivas públicas ou sociedades de capitais exclusiva ou maioritariamente públicos", dar conhecimento dos resultados e de toda a ficha técnica a "terceiros" (os definidos na lei) é mais do que lícito: é um dever.
Lei 10/2000, Art. 12.º Comunicação da sondagem aos interessados. Sempre que a sondagem de opinião seja realizada para pessoas colectivas públicas ou sociedades de capitais exclusiva ou maioritariamente públicos, as informações constantes da ficha técnica prevista no artigo 6.º devem ser comunicadas aos órgãos, entidades ou candidaturas directamente envolvidos nos resultados apresentados.
2. A lei não contém nem um dever nem uma proibição de divulgação a terceiros de sondagens eleitorais realizadas para entidades privadas. O que terá certamente de suceder sempre é que:
- essa sondagem, se for publicamente divulgada, terá de ter sido previamente depositada na AACS;
- essa sondagem, se for publicamente divulgada, não o pode ser mais do que 15 dias depois da realização do respectivo trabalho de campo.
Lei 10/2000, Art. 5.º Depósito. A publicação ou difusão pública de qualquer sondagem de opinião apenas é permitida após o depósito desta, junto da Alta Autoridade para a Comunicação Social, acompanhada da ficha técnica a que se refere o artigo seguinte.
Lei 10/2000, Art. Artigo 10.º, nº 3: Nos dois meses que antecedem a realização de qualquer acto eleitoral relacionado com os órgãos abrangidos pelo disposto no n.º 1 do artigo 1.º e da votação para referendo nacional, regional ou local, a primeira publicação ou difusão pública de sondagens de opinião deve ocorrer até 15 dias a contar da data em que terminaram os trabalhos de recolha de informação.
3. No entanto, a lei menciona também que "as entidades credenciadas devem garantir que os técnicos que, sob a sua responsabilidade ou por sua conta, realizem sondagens de opinião ou inquéritos e interpretem tecnicamente os resultados obtidos observam os códigos de conduta da profissão internacionalmente reconhecidos," nomeadamente o código de conduta da ESOMAR (que pode ser descarregado aqui). Nesse código diz-se o seguinte:
"20. The following records remain the property of the client and must not be disclosed by the researcher to any third party without the client's permission:
(...)
b) the research data and findings from a marketing research project"
Pelo que se conclui que os resultados de uma sondagem não podem ser transmitidos a terceiros pela empresa/instituto que faz a sondagem sem o consentimento do cliente, mas que, obviamente, o podem ser desde que esse consentimento exista. E que, como é óbvio, podem ser transmitidos pelo cliente a terceiros se assim o entender.
Um elemento adicional: assim que os resultados de uma sondagem começam a circular por redacções de órgãos de comunicação, a probabilidade de que cheguem rapidamente às mãos de partidos ou candidatos é elevadíssima, mesmo que não haja uma decisão da direcção do órgão de comunicação social nesse sentido...
Será lícito dar conhecimento antecipado a terceiros de uma sondagem encomendada por entidades privadas (SIC, Expresso e Rádio Renascença)?
Não sendo jurista, a minha interpretação é esta:
1. Quando a sondagem eleitoral é realizada para "pessoas colectivas públicas ou sociedades de capitais exclusiva ou maioritariamente públicos", dar conhecimento dos resultados e de toda a ficha técnica a "terceiros" (os definidos na lei) é mais do que lícito: é um dever.
Lei 10/2000, Art. 12.º Comunicação da sondagem aos interessados. Sempre que a sondagem de opinião seja realizada para pessoas colectivas públicas ou sociedades de capitais exclusiva ou maioritariamente públicos, as informações constantes da ficha técnica prevista no artigo 6.º devem ser comunicadas aos órgãos, entidades ou candidaturas directamente envolvidos nos resultados apresentados.
2. A lei não contém nem um dever nem uma proibição de divulgação a terceiros de sondagens eleitorais realizadas para entidades privadas. O que terá certamente de suceder sempre é que:
- essa sondagem, se for publicamente divulgada, terá de ter sido previamente depositada na AACS;
- essa sondagem, se for publicamente divulgada, não o pode ser mais do que 15 dias depois da realização do respectivo trabalho de campo.
Lei 10/2000, Art. 5.º Depósito. A publicação ou difusão pública de qualquer sondagem de opinião apenas é permitida após o depósito desta, junto da Alta Autoridade para a Comunicação Social, acompanhada da ficha técnica a que se refere o artigo seguinte.
Lei 10/2000, Art. Artigo 10.º, nº 3: Nos dois meses que antecedem a realização de qualquer acto eleitoral relacionado com os órgãos abrangidos pelo disposto no n.º 1 do artigo 1.º e da votação para referendo nacional, regional ou local, a primeira publicação ou difusão pública de sondagens de opinião deve ocorrer até 15 dias a contar da data em que terminaram os trabalhos de recolha de informação.
3. No entanto, a lei menciona também que "as entidades credenciadas devem garantir que os técnicos que, sob a sua responsabilidade ou por sua conta, realizem sondagens de opinião ou inquéritos e interpretem tecnicamente os resultados obtidos observam os códigos de conduta da profissão internacionalmente reconhecidos," nomeadamente o código de conduta da ESOMAR (que pode ser descarregado aqui). Nesse código diz-se o seguinte:
"20. The following records remain the property of the client and must not be disclosed by the researcher to any third party without the client's permission:
(...)
b) the research data and findings from a marketing research project"
Pelo que se conclui que os resultados de uma sondagem não podem ser transmitidos a terceiros pela empresa/instituto que faz a sondagem sem o consentimento do cliente, mas que, obviamente, o podem ser desde que esse consentimento exista. E que, como é óbvio, podem ser transmitidos pelo cliente a terceiros se assim o entender.
Um elemento adicional: assim que os resultados de uma sondagem começam a circular por redacções de órgãos de comunicação, a probabilidade de que cheguem rapidamente às mãos de partidos ou candidatos é elevadíssima, mesmo que não haja uma decisão da direcção do órgão de comunicação social nesse sentido...
sábado, dezembro 17, 2005
Eurosondagem, Presidenciais, 17 Dezembro
Cá está ela, fonte de controvérsia antecipada. Foi telefónica, realizada entre 11 e 14 de Dezembro, 2069 inquéritos, selecção aleatória estratificada por região de domicílios e aleatória de inquiridos em cada domicílio.
Cavaco Silva: 55,5%
Mário Soares: 20,4%
Manuel Alegre: 12,5%
Jerónimo de Sousa: 5,7%
Francisco Louçã: 4,8%
Outros:1,1%
Ao que parece, a candidatura da Manuel Alegre decidiu fazer uma participação à Comissão Nacional de Eleições e à Alta Autoridade para a Comunicação Social devido ao facto de, na anterior sondagem, a Eurosondagem não ter contemplado o cenário de desistência dos restantes candidatos de esquerda para Manuel Alegre. O dono da Eurosondagem, Rui Oliveira e Costa, pondera um processo judicial. Mas claro que isto só vem agora ao de cima devido à divulgação desta sondagem, cujos resultados são assim indirectamente contestados por Manuel Alegre (que ontem afirmava à imprensa que a Eurosondagem se "especializa" em colocá-lo em 3ª lugar), numa controvérsia para a qual as declarações algo estranhas de Jorge Coelho (que há dias anunciava o 2º lugar de Mário Soares nas sondagens que seriam divulgadas "nas próximas semanas") terá dado inestimável contributo.
Enfim, a confusão do costume. O que posso dizer é o mesmo que qualquer observador exterior a isto tudo poderia: quando olhamos para os resultados desta sondagem e os confrontamos com as anteriores, não se detecta nada de estranho. Pelo contrário. O que ela faz é, aparentemente, adicionar uma observação confirmatória de uma tendência já anteriormente detectada: a diminuição das intenções válidas de voto em Manuel Alegre e correspondente aumento das intenções válidas de voto em Mário Soares. É isso que as últimas sondagens da Católica e da Intercampus já estavam a dizer (ao colocarem os dois candidatos praticamente empatados, em contraste com quase todas as sondagens anteriores) e que a última da Aximage confirmou (ao colocar já Soares à frente de Alegre). Tanto barulho por nada. Abaixo, podem examinar o gráfico com a média móvel dos resultados das últimas três sondagens para cada candidato:
Cavaco Silva: 55,5%
Mário Soares: 20,4%
Manuel Alegre: 12,5%
Jerónimo de Sousa: 5,7%
Francisco Louçã: 4,8%
Outros:1,1%
Ao que parece, a candidatura da Manuel Alegre decidiu fazer uma participação à Comissão Nacional de Eleições e à Alta Autoridade para a Comunicação Social devido ao facto de, na anterior sondagem, a Eurosondagem não ter contemplado o cenário de desistência dos restantes candidatos de esquerda para Manuel Alegre. O dono da Eurosondagem, Rui Oliveira e Costa, pondera um processo judicial. Mas claro que isto só vem agora ao de cima devido à divulgação desta sondagem, cujos resultados são assim indirectamente contestados por Manuel Alegre (que ontem afirmava à imprensa que a Eurosondagem se "especializa" em colocá-lo em 3ª lugar), numa controvérsia para a qual as declarações algo estranhas de Jorge Coelho (que há dias anunciava o 2º lugar de Mário Soares nas sondagens que seriam divulgadas "nas próximas semanas") terá dado inestimável contributo.
Enfim, a confusão do costume. O que posso dizer é o mesmo que qualquer observador exterior a isto tudo poderia: quando olhamos para os resultados desta sondagem e os confrontamos com as anteriores, não se detecta nada de estranho. Pelo contrário. O que ela faz é, aparentemente, adicionar uma observação confirmatória de uma tendência já anteriormente detectada: a diminuição das intenções válidas de voto em Manuel Alegre e correspondente aumento das intenções válidas de voto em Mário Soares. É isso que as últimas sondagens da Católica e da Intercampus já estavam a dizer (ao colocarem os dois candidatos praticamente empatados, em contraste com quase todas as sondagens anteriores) e que a última da Aximage confirmou (ao colocar já Soares à frente de Alegre). Tanto barulho por nada. Abaixo, podem examinar o gráfico com a média móvel dos resultados das últimas três sondagens para cada candidato:
sexta-feira, dezembro 16, 2005
"Nas próximas semanas"...
Não assisti à Quadratura do Círculo e não encontro transcrições, mas segundo a TSF Jorge Coelho terá invocado "as sondagens já publicadas ou a publicar 'nas próximas semanas' e que colocam o ex-Presidente em segundo lugar" como fundamento da desistência dos restantes candidatos de esquerda.
Confesso que acho censuráveis - e já o escrevi aqui - algumas das acusações de "manipulação" das sondagens que têm emanado da candidatura de Manuel Alegre. Mas quando se fala em "sondagens a publicar nas próximas semanas" como se já se conhecessem os seus resultados, então já não se pode estranhar que Manuel Alegre venha depois falar em "sondagens falsificadas", "jogo sujo" e "manipulação".
Para já não falar do facto de estas declarações serem em si mesmas um erro político, dado que, com elas, Jorge Coelho terá diminuído o potencial impacto favorável à candidatura de Soares da sondagem que deverá sair amanhã, e cujos resultados, na base destas conversas, já todos conseguiremos adivinhar.
Enfim, palavras para quê, são artistas portugueses.
Confesso que acho censuráveis - e já o escrevi aqui - algumas das acusações de "manipulação" das sondagens que têm emanado da candidatura de Manuel Alegre. Mas quando se fala em "sondagens a publicar nas próximas semanas" como se já se conhecessem os seus resultados, então já não se pode estranhar que Manuel Alegre venha depois falar em "sondagens falsificadas", "jogo sujo" e "manipulação".
Para já não falar do facto de estas declarações serem em si mesmas um erro político, dado que, com elas, Jorge Coelho terá diminuído o potencial impacto favorável à candidatura de Soares da sondagem que deverá sair amanhã, e cujos resultados, na base destas conversas, já todos conseguiremos adivinhar.
Enfim, palavras para quê, são artistas portugueses.
quinta-feira, dezembro 15, 2005
Debates e sondagens
Há dias, na RTP-N, Manuel Villaverde Cabral lamentava a falta de sondagens que nos pudessem ajudar a aferir o impacto dos debates. Tem toda a razão. E a verdade é que, em rigor, já existem sondagens sobre os debates. Duas, que eu saiba, até ao momento:
1. Eurosondagem, 5 Dezembro, N=769, Telefónica
Quem ganhou o debate Alegre-Cavaco?
Cavaco: 27,3%
Alegre: 15,7%
Não viu/não sabe/não responde: 57%
2. Eurosondagem, 14 Dezembro, N=757, Telefónica
Quem ganhou o debate Alegre-Soares?
Alegre: 20,7%
Soares: 19,3%
Não viu/não sabe/não responde: 60%
Agora não entendam mal o que vou escrever de seguida. Acho que o esforço financeiro feito pela SIC e o esforço técnico feito pela Eurosondagem para conseguirem conduzir trabalhos como estes em tão pouco espaço de tempo merecem elogios. Mas há alguns problemas.
Em primeiro lugar, quando se fazem inferências para a população, estes resultados sugerem que, por exemplo na sondagem do dia 5, pelo menos cerca de 40% dos portugueses com 18 ou mais anos assitiram ao debate Cavaco-Alegre. Isto não é, nem pouco mais ou menos, credível. Segundo os dados da telemetria - extrapolados para o universo - o debate Alegre-Cavaco teve 1,5 milhões de espectadores. Mesmo que todos eles tivessem mais de 18 anos, isto representa menos de 20% do universo relevante. Estas amostras sub-representam os eleitores que não assitistiram aos debates ou (pior) estão a recolher opiniões de pessoas que, de facto, não lhes assistiram.
Partamos do princípio, no entanto, que essa distorção da amostra não representa um enviesamento da distribuição de opiniões válidas. Mas permanece um problema: que conclusões tirar de semelhante informação? Certamente por razões de tempo, a sondagem nada nos diz sobre a composição política, ideológica ou a mera intenção de voto pré-e pós-debate daqueles que nos deram opiniões sobre "quem ganhou". E isto seria crucial para apreciar quaisquer efeitos do debate.
Com medição "pré/pós-debate" poder-se-ia aferir em que medida os inquiridos relatam uma mudança na sua intenção de voto após o debate. E mesmo sem este design mais complicado - que exigiria uma vaga de inquéritos antes do debate e outra depois dele e, provavelmente, não detectaria muitas mudanças declaradas - poder-se-ia pelo menos determinar qual a correlação entre preferências políticas e opiniões sobre o debate.
Por exemplo: se aqueles que declararam ter assistido ao debate Cavaco/Alegre correspondessem ao eleitorado de ambos os candidatos estimado pelas mais recentes sondagens (onde Cavaco tem mais eleitores que Alegre à razão de 3 para 1), um score 27/16 a favor de Cavaco teria sido nada menos que desastroso para o primeiro, dado significar que uma parte significativa daqueles que tenciona(va)m votar Cavaco acharam que Alegre ganhou o debate. Contudo, nada sabemos sobre quem deu opiniões sobre quem ganhou o debate a não ser...quem acham que ganhou o debate.
Por muito que se desejem sondagens, estudos como estes dão uma quantidade de informação insignificante em relação ao custo e esforço que certamente implicam. É certo que produzem um item noticioso, e é provavelmente por isso que são feitas. Mas pouco mais são do que isso. Fazer mais e melhor sai muito mais caro e não creio que os meios de comunicação social portugueses disponham de recursos para tal...
1. Eurosondagem, 5 Dezembro, N=769, Telefónica
Quem ganhou o debate Alegre-Cavaco?
Cavaco: 27,3%
Alegre: 15,7%
Não viu/não sabe/não responde: 57%
2. Eurosondagem, 14 Dezembro, N=757, Telefónica
Quem ganhou o debate Alegre-Soares?
Alegre: 20,7%
Soares: 19,3%
Não viu/não sabe/não responde: 60%
Agora não entendam mal o que vou escrever de seguida. Acho que o esforço financeiro feito pela SIC e o esforço técnico feito pela Eurosondagem para conseguirem conduzir trabalhos como estes em tão pouco espaço de tempo merecem elogios. Mas há alguns problemas.
Em primeiro lugar, quando se fazem inferências para a população, estes resultados sugerem que, por exemplo na sondagem do dia 5, pelo menos cerca de 40% dos portugueses com 18 ou mais anos assitiram ao debate Cavaco-Alegre. Isto não é, nem pouco mais ou menos, credível. Segundo os dados da telemetria - extrapolados para o universo - o debate Alegre-Cavaco teve 1,5 milhões de espectadores. Mesmo que todos eles tivessem mais de 18 anos, isto representa menos de 20% do universo relevante. Estas amostras sub-representam os eleitores que não assitistiram aos debates ou (pior) estão a recolher opiniões de pessoas que, de facto, não lhes assistiram.
Partamos do princípio, no entanto, que essa distorção da amostra não representa um enviesamento da distribuição de opiniões válidas. Mas permanece um problema: que conclusões tirar de semelhante informação? Certamente por razões de tempo, a sondagem nada nos diz sobre a composição política, ideológica ou a mera intenção de voto pré-e pós-debate daqueles que nos deram opiniões sobre "quem ganhou". E isto seria crucial para apreciar quaisquer efeitos do debate.
Com medição "pré/pós-debate" poder-se-ia aferir em que medida os inquiridos relatam uma mudança na sua intenção de voto após o debate. E mesmo sem este design mais complicado - que exigiria uma vaga de inquéritos antes do debate e outra depois dele e, provavelmente, não detectaria muitas mudanças declaradas - poder-se-ia pelo menos determinar qual a correlação entre preferências políticas e opiniões sobre o debate.
Por exemplo: se aqueles que declararam ter assistido ao debate Cavaco/Alegre correspondessem ao eleitorado de ambos os candidatos estimado pelas mais recentes sondagens (onde Cavaco tem mais eleitores que Alegre à razão de 3 para 1), um score 27/16 a favor de Cavaco teria sido nada menos que desastroso para o primeiro, dado significar que uma parte significativa daqueles que tenciona(va)m votar Cavaco acharam que Alegre ganhou o debate. Contudo, nada sabemos sobre quem deu opiniões sobre quem ganhou o debate a não ser...quem acham que ganhou o debate.
Por muito que se desejem sondagens, estudos como estes dão uma quantidade de informação insignificante em relação ao custo e esforço que certamente implicam. É certo que produzem um item noticioso, e é provavelmente por isso que são feitas. Mas pouco mais são do que isso. Fazer mais e melhor sai muito mais caro e não creio que os meios de comunicação social portugueses disponham de recursos para tal...
sexta-feira, dezembro 09, 2005
Balão de oxigénio para Bush
Os números de popularidade de George W. Bush mostram sinais de recuperação ou, pelo menos, sugerem que a sangria dos últimos meses se encontra estancada. Para uma análise sistemática dos últimos resultados vale a pena ir aos sítios do costume: aqui e aqui.
P.S.- Só uma pequena correcção ao Acidental, já que este post foi lá citado. Escreve-se ali que "George Bush está em fase de recuperação de popularidade, nomeadamente no que diz respeito à intervenção no Iraque". A primeira parte é correcta, a segunda não sabemos. Enquanto que a primeira resulta da análise de oito sondagens e mostra uma tendência estatisticamente significativa, a segunda resulta apenas da sondagem CBS, onde, de resto, a taxa de "desaprovação" baixou apenas 3 pontos (dentro, por isso, da margem de erro amostral). Desculpem a minudência mas é só porque tem implicações substantivas: na verdade, um factor muito mais plausível para a inversão na tendência de declínio da popularidade de Bush é, tão só, a baixa no preço dos combustíveis...
P.S.- Só uma pequena correcção ao Acidental, já que este post foi lá citado. Escreve-se ali que "George Bush está em fase de recuperação de popularidade, nomeadamente no que diz respeito à intervenção no Iraque". A primeira parte é correcta, a segunda não sabemos. Enquanto que a primeira resulta da análise de oito sondagens e mostra uma tendência estatisticamente significativa, a segunda resulta apenas da sondagem CBS, onde, de resto, a taxa de "desaprovação" baixou apenas 3 pontos (dentro, por isso, da margem de erro amostral). Desculpem a minudência mas é só porque tem implicações substantivas: na verdade, um factor muito mais plausível para a inversão na tendência de declínio da popularidade de Bush é, tão só, a baixa no preço dos combustíveis...
quarta-feira, dezembro 07, 2005
Um desastre
Para ler e meditar, os resultados de seis sondagens conduzidas na Jordânia, Líbano, Marrocos, Arábia Saudita, Egipto e Emiratos Árabes Unidos, sobre a percepção dos cidadãos acerca das motivações da política externa norte-americana em relação ao Médio Oriente, os planos nucleares do Irão, as perspectivas de democratização na região e outros temas relacionados.
Note-se como é praticamente nulo o capital político de que os Estados Unidos dispõem neste momento para aparecerem, aos olhos dos cidadãos no Médio Oriente, como uma potência benigna capaz de promover a democracia e o bem-estar. Alternativa: a França. Em resumo: um desastre.
Sondagens realizadas pela Universidade de Maryland e a Zogby International, aqui (pdf).
Note-se como é praticamente nulo o capital político de que os Estados Unidos dispõem neste momento para aparecerem, aos olhos dos cidadãos no Médio Oriente, como uma potência benigna capaz de promover a democracia e o bem-estar. Alternativa: a França. Em resumo: um desastre.
Sondagens realizadas pela Universidade de Maryland e a Zogby International, aqui (pdf).
terça-feira, dezembro 06, 2005
Os efeitos dos debates
Nos últimos dias, há que diga que não têm, há quem diga que têm, tudo na base de dados recolhidos com um instrumento de medida habitualmente usado nestes coisas: o "palpitómetro". O "palpitómetro" tem vantagens e desvantagens. Por um lado, é de utilização fácil e e produz resultados imediatos. Por outro lado, esses resultados tendem misteriosamente a coincidir com as preferências políticas e interesses pessoais do utilizador. Mas não se pode ter tudo.
Longe de mim querer desincentivar as práticas tradicionais da cultura opinativa indígena. Contudo, caso haja alguém que tenha a intenção de saber alguma coisa sobre o assunto antes ou depois (de preferência, antes) de usar o "palpitómetro", deixaria aqui uma única sugestão de leitura, relativamente recente e que sintetiza quarenta anos de investigação sobre o tema nos Estados Unidos:
A meta-analysis of the effects of viewing U.S. presidential debates.
Algumas conclusões:
- os efeitos dos debates na percepção das qualidades pessoais dos candidatos são grandes, mas os efeitos na percepção da competência dos candidatos é reduzida. Há quem chame a isto efeitos na percepção dos atributos estilísticos em vez dos atributos políticos*;
- através dos mecanismos anteriores, os debates influenciam o comportamento de voto, especialmente quando as diferenças entre os candidatos do ponto de vista político e ideológico são reduzidas;
- efeitos maiores quando nenhum dos candidatos é o "incumbent" (já que, para este, os eleitores já tiveram tempo para formar uma imagem mais cristalizada).
Pode sempre dizer-se que isto é nos Estados Unidos e não aqui. Mas entre isto e o "palpitómetro", eu arriscava-me a dizer (usando, reconheço, o meu próprio "palpitómetro") que as condições são de molde a que os debates possam ter um efeito não irrelevante nas decisões de voto dos eleitores, tendo em conta:
- as pequenas diferenças ideológicas visíveis entre Jerónimo de Sousa e Francisco Louçã, por um lado, e Cavaco Silva,Mário Soares e Manuel Alegre, por outro;
- o facto de um dos factores que mais determina a exposição e percepção selectivas - a identificação partidária - ser, apesar de tudo, menos relevante nestas eleições do que nas legislativas;
- o facto de não estar a concorrer um Presidente para reeleição.
P.S. - Para uma bibliografia assustadoramente exaustiva sobre o tema nos Estados Unidos (não conheço nem um vigésimo das referências), ver aqui.
* Nimmo, D. & Savage, R. L. (1976). Candidates and their images: Concepts, methods, and findings. Santa Monica, CA: Goodyear.
Longe de mim querer desincentivar as práticas tradicionais da cultura opinativa indígena. Contudo, caso haja alguém que tenha a intenção de saber alguma coisa sobre o assunto antes ou depois (de preferência, antes) de usar o "palpitómetro", deixaria aqui uma única sugestão de leitura, relativamente recente e que sintetiza quarenta anos de investigação sobre o tema nos Estados Unidos:
A meta-analysis of the effects of viewing U.S. presidential debates.
Algumas conclusões:
- os efeitos dos debates na percepção das qualidades pessoais dos candidatos são grandes, mas os efeitos na percepção da competência dos candidatos é reduzida. Há quem chame a isto efeitos na percepção dos atributos estilísticos em vez dos atributos políticos*;
- através dos mecanismos anteriores, os debates influenciam o comportamento de voto, especialmente quando as diferenças entre os candidatos do ponto de vista político e ideológico são reduzidas;
- efeitos maiores quando nenhum dos candidatos é o "incumbent" (já que, para este, os eleitores já tiveram tempo para formar uma imagem mais cristalizada).
Pode sempre dizer-se que isto é nos Estados Unidos e não aqui. Mas entre isto e o "palpitómetro", eu arriscava-me a dizer (usando, reconheço, o meu próprio "palpitómetro") que as condições são de molde a que os debates possam ter um efeito não irrelevante nas decisões de voto dos eleitores, tendo em conta:
- as pequenas diferenças ideológicas visíveis entre Jerónimo de Sousa e Francisco Louçã, por um lado, e Cavaco Silva,Mário Soares e Manuel Alegre, por outro;
- o facto de um dos factores que mais determina a exposição e percepção selectivas - a identificação partidária - ser, apesar de tudo, menos relevante nestas eleições do que nas legislativas;
- o facto de não estar a concorrer um Presidente para reeleição.
P.S. - Para uma bibliografia assustadoramente exaustiva sobre o tema nos Estados Unidos (não conheço nem um vigésimo das referências), ver aqui.
* Nimmo, D. & Savage, R. L. (1976). Candidates and their images: Concepts, methods, and findings. Santa Monica, CA: Goodyear.
Aximage, Presidenciais, 6 de Dezembro
Com a sondagem Aximage/Correio da Manhã divulgada hoje, ficamos com o seguinte quadro:
Nada de novo com as intenções de voto válidas em Cavaco, que exibem uma estabilidade crescente. Cada vez mais estáveis e convergentes são também os resultados de Jerónimo de Sousa (6-5%) e Francisco Louçã (5-4%).
O mesmo não sucede, contudo, com Alegre e Soares. São, como sempre, sondagens em número inferior ao que seria necessário para detectar tendências claras, mas a luta pelo segundo lugar parece estar a ficar cada vez mais renhida, como se verifica no gráfico seguinte onde se apresentam as médias móveis das últimas três sondagens:
Seja como for, análises como esta ou esta, perfeitamente compreensíveis no plano político, parecem contudo não fazer muito sentido em face dos dados disponíveis. Se é verdade que, das oito sondagens divulgadas na comunicação social após a confirmação de todas as principais candidaturas, Alegre aparece à frente de Soares em seis delas, dois desses casos, precisamente os mais recentes, consistem em margens insignificantes (Católica e Intercampus). Mais preocupante ainda para as expectativas dos apoiantes de Manuel Alegre é o facto de, quando olhamos para as sondagens da Aximage ao longo do tempo (mantendo constantes as opções técnicas e metodológicas adoptadas), Alegre passar de uma vantagem de 6 pontos sobre Soares para uma desvantagem de 3.
Em rigor, acho que ninguém pode dizer com segurança quem recolhe, neste momento, mais intenções válidas de voto, Alegre ou Soares. O resto é política. Seria preferível, contudo, que as acusações feitas a responsáveis de institutos de sondagens passassem da insinuação à fundamentação. Ou que, no mínimo, tivessem alguma espécie de congruência com os próprios resultados das diferentes sondagens.
Nada de novo com as intenções de voto válidas em Cavaco, que exibem uma estabilidade crescente. Cada vez mais estáveis e convergentes são também os resultados de Jerónimo de Sousa (6-5%) e Francisco Louçã (5-4%).
O mesmo não sucede, contudo, com Alegre e Soares. São, como sempre, sondagens em número inferior ao que seria necessário para detectar tendências claras, mas a luta pelo segundo lugar parece estar a ficar cada vez mais renhida, como se verifica no gráfico seguinte onde se apresentam as médias móveis das últimas três sondagens:
Seja como for, análises como esta ou esta, perfeitamente compreensíveis no plano político, parecem contudo não fazer muito sentido em face dos dados disponíveis. Se é verdade que, das oito sondagens divulgadas na comunicação social após a confirmação de todas as principais candidaturas, Alegre aparece à frente de Soares em seis delas, dois desses casos, precisamente os mais recentes, consistem em margens insignificantes (Católica e Intercampus). Mais preocupante ainda para as expectativas dos apoiantes de Manuel Alegre é o facto de, quando olhamos para as sondagens da Aximage ao longo do tempo (mantendo constantes as opções técnicas e metodológicas adoptadas), Alegre passar de uma vantagem de 6 pontos sobre Soares para uma desvantagem de 3.
Em rigor, acho que ninguém pode dizer com segurança quem recolhe, neste momento, mais intenções válidas de voto, Alegre ou Soares. O resto é política. Seria preferível, contudo, que as acusações feitas a responsáveis de institutos de sondagens passassem da insinuação à fundamentação. Ou que, no mínimo, tivessem alguma espécie de congruência com os próprios resultados das diferentes sondagens.
quarta-feira, novembro 30, 2005
Intercampus, Presidenciais, 25 de Novembro
Sei que já tem uns dias, mas tenho andado ocupado. Seja como for, não há novidades.
P.S. - Começa a tornar-se um hábito que a Intercampus - ou os órgãos de comunicação que divulgam as suas sondagens - não explique na ficha técnica os critérios de selecção dos domicílios ou dos inquiridos.
P.S. - Começa a tornar-se um hábito que a Intercampus - ou os órgãos de comunicação que divulgam as suas sondagens - não explique na ficha técnica os critérios de selecção dos domicílios ou dos inquiridos.
domingo, novembro 27, 2005
Conflitos de interesses
Eduardo Pitta, no Da Literatura, insurge-se contra o facto de eu, ao mesmo tempo que colaboro com um instituto de sondagens, ter também um blogue sobre sondagens e opinião pública, e ver esse blogue citado no jornal para o qual o instituto com que colaboro faz sondagens. Segundo Eduardo Pitta,
Era como se os juízes viessem comentar nos seus blogues os processos que estão a julgar. Aparentemente, muita gente considera o procedimento benigno. Por este andar, vamos ter analistas a comentar nos jornais que encomendam as amostragens, os «resultados» da concorrência, contextualizando-os de forma a levar água ao moinho de eleição.
Não é nada que não me tivesse ocorrido. Há cerca de um ano, quando pensava se havia de começar este blogue ou não, questionei-me se isso representava um conflito de interesses. Pensei em vários exemplos. Poderá um novelista/poeta, especialmente um que escreva sobre literatura num blogue, criticar livros dos seus colegas de ofício em revistas literárias onde mantenha uma colaboração regular? Enfim, exemplos desse género. Nunca me ocorreu comparar as sondagens divulgadas na comunicação social e obrigatoriamente depositadas na Alta Autoridade para a Comunicação Social com matéria em segredo de justiça, mas se calhar foi falta de lembrança.
Creio que deverão ser os leitores a ajuízar. Sei que nunca ocultei onde trabalho. Cheguei mesmo a avisar que, tendo em conta que as opções metodológicas tomadas pelas sondagens da Católica são, em parte, da minha responsabilidade, tenderia a defendê-las pelo simples facto de que as defendo em abstracto, seja onde for que trabalhe, e por isso mesmo as ponho em prática. Interpreto os dados de que disponho, e nessas interpretações serei sempre, inevitavelmente, falível e subjectivo. Mas nunca interpreto dados que não coloque imediatamente aos dispor daqueles que lêem o que escrevo, para que todos possam fazer os seus próprios juízos e avaliar até que ponto sou ou não objectivo e isento. E procuro sempre sê-lo. Mas mais uma vez, terá de ser o leitor a dizer se isto chega.
Registo apenas que, mesmo tendo lido este blogue e especialmente este post, Eduardo Pitta não se tenha disposto a corrigir no seu blogue um único dos muitos erros que cometeu nesta sua análise dos resultados das sondagens de 5ª feira. Pelos vistos, questionar as coisas que escrevi não lhe interessa; o que lhe interessa é questionar o meu direito de as escrever.
Era como se os juízes viessem comentar nos seus blogues os processos que estão a julgar. Aparentemente, muita gente considera o procedimento benigno. Por este andar, vamos ter analistas a comentar nos jornais que encomendam as amostragens, os «resultados» da concorrência, contextualizando-os de forma a levar água ao moinho de eleição.
Não é nada que não me tivesse ocorrido. Há cerca de um ano, quando pensava se havia de começar este blogue ou não, questionei-me se isso representava um conflito de interesses. Pensei em vários exemplos. Poderá um novelista/poeta, especialmente um que escreva sobre literatura num blogue, criticar livros dos seus colegas de ofício em revistas literárias onde mantenha uma colaboração regular? Enfim, exemplos desse género. Nunca me ocorreu comparar as sondagens divulgadas na comunicação social e obrigatoriamente depositadas na Alta Autoridade para a Comunicação Social com matéria em segredo de justiça, mas se calhar foi falta de lembrança.
Creio que deverão ser os leitores a ajuízar. Sei que nunca ocultei onde trabalho. Cheguei mesmo a avisar que, tendo em conta que as opções metodológicas tomadas pelas sondagens da Católica são, em parte, da minha responsabilidade, tenderia a defendê-las pelo simples facto de que as defendo em abstracto, seja onde for que trabalhe, e por isso mesmo as ponho em prática. Interpreto os dados de que disponho, e nessas interpretações serei sempre, inevitavelmente, falível e subjectivo. Mas nunca interpreto dados que não coloque imediatamente aos dispor daqueles que lêem o que escrevo, para que todos possam fazer os seus próprios juízos e avaliar até que ponto sou ou não objectivo e isento. E procuro sempre sê-lo. Mas mais uma vez, terá de ser o leitor a dizer se isto chega.
Registo apenas que, mesmo tendo lido este blogue e especialmente este post, Eduardo Pitta não se tenha disposto a corrigir no seu blogue um único dos muitos erros que cometeu nesta sua análise dos resultados das sondagens de 5ª feira. Pelos vistos, questionar as coisas que escrevi não lhe interessa; o que lhe interessa é questionar o meu direito de as escrever.
quinta-feira, novembro 24, 2005
Numeracia, precisa-se (continuação)
De um leitor:
Dizer que os jornalistas deviam ser melhores (mais consistentes, mais fundamentados, mais enquadrados) mediadores de informação é apenas parte da solução para um problema complexo.Uma outra parte da solução deverá - creio que concorda - ser conseguida com uma maior literacia mediática de quem elabora os estudos. Quando queremos que a nossa mensagem passe de forma clara devemos, a montante, fazer todo o possível para assegurar que dela não podem ser tiradas conclusões erradas ou - o que acontece no mais das vezes - visões parcelares. E, no caso em apreço, ajudaria também acordar entre os principais operadores uma tipologia de comportamento idêntica, sobretudo quando os estudos são alvo de tanta atenção.
E de outro:
Não será que as empresas de sondagens poderiam definir uma metodologia comum (ou com ou sem ponderação de indecisos)? É que, tal como aconteceu hoje, basta chegar ao quiosque para se ficar perplexo. (...) Qual é o papel das empresas de sondagens nesta questão? Eu acho que não se podem demitir...
Gostava que ficasse claro que estou inteiramente de acordo com o que se diz nestas mensagens. Aliás, na próxima 4ª feira, no programa Clube de Jornalistas (gravado antes dos acontencimentos de hoje), ouvir-me-ão defender isto mesmo: quem faz as sondagens deve exercer, junto de quem as divulga, uma função pedagógica, esclarecendo os "clientes" sobre o que as sondagens "dizem" e "não dizem".
Mais: tal como defendi aqui e aqui há quase um ano (peço-vos a paciência de relerem), quem faz as sondagens, independentemente ou não de exercer essa "função pedagógica", deve à partida apresentar os resultados de forma a que este tipo de confusões nem tenham oportunidade de suceder. Não de trata de usar metodologias comuns, que quanto a isso cada um terá as suas opções, mas sim de apresentar sempre os resultados de formas comparáveis, esclarecendo as virtudes e limites de cada forma de os apresentar.
E mais ainda: estou perfeitamente convencido que, muito mais até do que através de qualquer imposição externa, a melhor maneira de resolver este tipo de problemas seria através de uma instância de auto-regulação, à semelhança do que existe nos Estados Unidos ou no Reino Unido, tal como defendi aqui.
Finalmente soube entretanto que a discussão ocorrida durante o Fórum TSF (que não ouvi), serviu, em grande medida, para esclarecer algumas das confusões criadas.
A responsabilidade é de todos, institutos de sondagens e jornalistas incluídos. Entendamo-nos, então.
Dizer que os jornalistas deviam ser melhores (mais consistentes, mais fundamentados, mais enquadrados) mediadores de informação é apenas parte da solução para um problema complexo.Uma outra parte da solução deverá - creio que concorda - ser conseguida com uma maior literacia mediática de quem elabora os estudos. Quando queremos que a nossa mensagem passe de forma clara devemos, a montante, fazer todo o possível para assegurar que dela não podem ser tiradas conclusões erradas ou - o que acontece no mais das vezes - visões parcelares. E, no caso em apreço, ajudaria também acordar entre os principais operadores uma tipologia de comportamento idêntica, sobretudo quando os estudos são alvo de tanta atenção.
E de outro:
Não será que as empresas de sondagens poderiam definir uma metodologia comum (ou com ou sem ponderação de indecisos)? É que, tal como aconteceu hoje, basta chegar ao quiosque para se ficar perplexo. (...) Qual é o papel das empresas de sondagens nesta questão? Eu acho que não se podem demitir...
Gostava que ficasse claro que estou inteiramente de acordo com o que se diz nestas mensagens. Aliás, na próxima 4ª feira, no programa Clube de Jornalistas (gravado antes dos acontencimentos de hoje), ouvir-me-ão defender isto mesmo: quem faz as sondagens deve exercer, junto de quem as divulga, uma função pedagógica, esclarecendo os "clientes" sobre o que as sondagens "dizem" e "não dizem".
Mais: tal como defendi aqui e aqui há quase um ano (peço-vos a paciência de relerem), quem faz as sondagens, independentemente ou não de exercer essa "função pedagógica", deve à partida apresentar os resultados de forma a que este tipo de confusões nem tenham oportunidade de suceder. Não de trata de usar metodologias comuns, que quanto a isso cada um terá as suas opções, mas sim de apresentar sempre os resultados de formas comparáveis, esclarecendo as virtudes e limites de cada forma de os apresentar.
E mais ainda: estou perfeitamente convencido que, muito mais até do que através de qualquer imposição externa, a melhor maneira de resolver este tipo de problemas seria através de uma instância de auto-regulação, à semelhança do que existe nos Estados Unidos ou no Reino Unido, tal como defendi aqui.
Finalmente soube entretanto que a discussão ocorrida durante o Fórum TSF (que não ouvi), serviu, em grande medida, para esclarecer algumas das confusões criadas.
A responsabilidade é de todos, institutos de sondagens e jornalistas incluídos. Entendamo-nos, então.
Ponto de situação
1. Se bem que haja sondagens onde a existência de uma maioria absoluta de intenções válidas de voto para Cavaco Silva é incerta (Eurosondagem), todas as estimativas de todas as sondagens apontam para essa maioria absoluta. Ou seja, a probabilidade de que essa maioria absoluta seja fruto de erro amostral é cada vez mais diminuta. Pode mais, sim, ser fruto de um qualquer enviesamento comum a todos os estudos, mas não há sinais sobre que enviesamento poderá ser esse. Convém esperar pelas primeiras sondagens presenciais para discutir melhor esta questão.
2. Cinco das seis sondagens apontam para mais intenções de voto em Alegre do que em Soares, pelo que o raciocínio no ponto anterior se pode aplicar: é cada vez mais provável que, no universo, haja mais eleitores de Alegre do que de Soares. Contudo, ao contrário com o que sucede com a votação de Cavaco Silva, tem havido uma grande instabilidade nas estimativas atribuídas a Mário Soares, que oscilaram entre 11% e 18%, ou seja, uma amplitude de nada menos que 7 pontos (mais de metade que a sua estimativa mais baixa). É certo que as estimativas de Cavaco oscilam entre 52,6 e 62 (9,4 pontos), mas do ponto de vista relativo (em relação ao total de intenções de voto) essa dispersão é muito menos significativa do que se passa com Soares. Logo, creio que temos menos razões para estarmos seguros da existência actual de uma vantagem clara de Alegre sobre Soares do que sobre a existência actual de uma vantagem clara das intenções de voto em Cavaco em relação à barreira dos 50%.
3. Quanto a Francisco Louçã e Jerónimo de Sousa, quem disser que sabe qual deles têm actualmente mais apoio eleitoral não saberá o que está a dizer.
4. Na sondagem da Católica, alguns resultados interessantes:
- Eleitorado do PS é o mais dividido, não só entre Soares e Alegre, mas também (mais grave para as perspectivas da esquerda) entre Cavaco e a abstenção;
- Cavaco mobiliza o eleitorado sem simpatias partidárias com maior eficácia do que qualquer outro candidato;
- Entre que tencionam votar mas se dizem "indecisos" sobre em quem votar, o eleitorado do PS encontra-se ligeiramente sobrerepresentado, o que sugere algum (modesto) potencial de crescimento para os candidatos à esquerda de Cavaco. Contudo, o eleitorado do PS encontra-se fortemente sobrerepresentado entre os dizem ter a certeza que não irão votar. Aqui, o potential de crescimento será praticamente nulo, sabendo nós que as sondagens subestimam (em vez de sobreestimarem) os abstencionistas;
- Perante cenários hipotéticos de uma 2ª volta, Cavaco tem acima de 60% (tal como em todas as sondagens até agora) de intenções válidas de voto. Mas Alegre sai-se, neste momento e perante o cenário de uma 2ª volta, melhor do que Soares. Porque Soares tem muito maiores dificuldades em atrair numa 2ª volta os votantes dos restantes candidatos da esquerda, perdendo muitos para a abstenção;
- Mais de metade dos que se declaram eleitores de Manuel Alegre na 1ª volta acham que Soares é o candidato que pode obter melhores resultados perante Cavaco Silva. Leram bem? Repito: mais de metade dos que se declaram eleitores de Manuel Alegre na 1ª volta acham que Soares é o candidato que pode obter melhores resultados perante Cavaco Silva. Logo, o seu voto não decorre (se é que alguma vez decorreu) de uma decisão estratégica sobre "quem pode derrotar Cavaco Silva", mas sim da expressão de uma posição política independente do desfecho concreto da eleição.
Em resumo, na base destes dados, apesar de a maioria dos portugueses achar que é Mário Soares quem tem melhor hipóteses de contrariar a vitória de Cavaco Silva, a situação é-lhe muito pouco propícia. À parte a possibilidade de roubar eleitores ao próprio Cavaco Silva, que não pode ser excluída (Cavaco parte de um ponto tão alto que dificilmente poderá subir, apenas descer), o potencial de crescimento do eleitorado de Soares à esquerda parece depender em grande medida da captação de pessoas que, a esta hora, já serão dificilmente convertíveis:
- os que já dizem à partida que não tencionam votar, especialmente o eleitorado desmobilizado do PS;
- e os eleitores de Manuel Alegre, maioritariamente compostos por pessoas que declaram tencionar votar em Alegre apesar de acharem que Soares é quem tem hipóteses de obter um melhor resultado contra Cavaco Silva, o que mostra que a argumentação "estratégica" - o voto em Soares como única maneira de derrotar Cavaco - não deverá ser suficiente para os converter.
2. Cinco das seis sondagens apontam para mais intenções de voto em Alegre do que em Soares, pelo que o raciocínio no ponto anterior se pode aplicar: é cada vez mais provável que, no universo, haja mais eleitores de Alegre do que de Soares. Contudo, ao contrário com o que sucede com a votação de Cavaco Silva, tem havido uma grande instabilidade nas estimativas atribuídas a Mário Soares, que oscilaram entre 11% e 18%, ou seja, uma amplitude de nada menos que 7 pontos (mais de metade que a sua estimativa mais baixa). É certo que as estimativas de Cavaco oscilam entre 52,6 e 62 (9,4 pontos), mas do ponto de vista relativo (em relação ao total de intenções de voto) essa dispersão é muito menos significativa do que se passa com Soares. Logo, creio que temos menos razões para estarmos seguros da existência actual de uma vantagem clara de Alegre sobre Soares do que sobre a existência actual de uma vantagem clara das intenções de voto em Cavaco em relação à barreira dos 50%.
3. Quanto a Francisco Louçã e Jerónimo de Sousa, quem disser que sabe qual deles têm actualmente mais apoio eleitoral não saberá o que está a dizer.
4. Na sondagem da Católica, alguns resultados interessantes:
- Eleitorado do PS é o mais dividido, não só entre Soares e Alegre, mas também (mais grave para as perspectivas da esquerda) entre Cavaco e a abstenção;
- Cavaco mobiliza o eleitorado sem simpatias partidárias com maior eficácia do que qualquer outro candidato;
- Entre que tencionam votar mas se dizem "indecisos" sobre em quem votar, o eleitorado do PS encontra-se ligeiramente sobrerepresentado, o que sugere algum (modesto) potencial de crescimento para os candidatos à esquerda de Cavaco. Contudo, o eleitorado do PS encontra-se fortemente sobrerepresentado entre os dizem ter a certeza que não irão votar. Aqui, o potential de crescimento será praticamente nulo, sabendo nós que as sondagens subestimam (em vez de sobreestimarem) os abstencionistas;
- Perante cenários hipotéticos de uma 2ª volta, Cavaco tem acima de 60% (tal como em todas as sondagens até agora) de intenções válidas de voto. Mas Alegre sai-se, neste momento e perante o cenário de uma 2ª volta, melhor do que Soares. Porque Soares tem muito maiores dificuldades em atrair numa 2ª volta os votantes dos restantes candidatos da esquerda, perdendo muitos para a abstenção;
- Mais de metade dos que se declaram eleitores de Manuel Alegre na 1ª volta acham que Soares é o candidato que pode obter melhores resultados perante Cavaco Silva. Leram bem? Repito: mais de metade dos que se declaram eleitores de Manuel Alegre na 1ª volta acham que Soares é o candidato que pode obter melhores resultados perante Cavaco Silva. Logo, o seu voto não decorre (se é que alguma vez decorreu) de uma decisão estratégica sobre "quem pode derrotar Cavaco Silva", mas sim da expressão de uma posição política independente do desfecho concreto da eleição.
Em resumo, na base destes dados, apesar de a maioria dos portugueses achar que é Mário Soares quem tem melhor hipóteses de contrariar a vitória de Cavaco Silva, a situação é-lhe muito pouco propícia. À parte a possibilidade de roubar eleitores ao próprio Cavaco Silva, que não pode ser excluída (Cavaco parte de um ponto tão alto que dificilmente poderá subir, apenas descer), o potencial de crescimento do eleitorado de Soares à esquerda parece depender em grande medida da captação de pessoas que, a esta hora, já serão dificilmente convertíveis:
- os que já dizem à partida que não tencionam votar, especialmente o eleitorado desmobilizado do PS;
- e os eleitores de Manuel Alegre, maioritariamente compostos por pessoas que declaram tencionar votar em Alegre apesar de acharem que Soares é quem tem hipóteses de obter um melhor resultado contra Cavaco Silva, o que mostra que a argumentação "estratégica" - o voto em Soares como única maneira de derrotar Cavaco - não deverá ser suficiente para os converter.
Numeracia, precisa-se
As primeiras páginas do Público e do Diário de Notícias de hoje, assim como os noticiários da TSF sobre as sondagens presidenciais, constituem magníficos exemplos da forma como os resultados de sondagens NÃO devem ser divulgados, e terão lançado, de forma totalmente evitável, uma enorme confusão entre a opinião pública.
O Público coloca na primeira página o título Cavaco aumenta vantagem para vitória à primeira. Já o DN coloca na primeira página o título Cavaco Silva mais longe da vitória à primeira volta. Confusos? Não precisam de estar. Vamos por partes.
O Público devia, desde logo, ter evitado falar de "aumento de vantagem". Por alguma razão, na documentação que recebeu do Centro de Sondagens da Católica, os resultados da sondagem hoje divulgada não foram comparados com os resultados da sondagem de Setembro. Porquê? Porque nessa sondagem, Alegre nem sequer era ainda candidato, e Cavaco ainda não tinha oficializado a sua candidatura. Os resultados da sondagem de hoje e da sondagem de Setembro não são directamente comparáveis. Falar de "aumento de vantagem" em relação a uma sondagem em que o menu de candidatos nem sequer era o mesmo é, no mínimo, insensato.
Contudo, o que se passou no DN e na TSF hoje foi bastante mais grave. Fala-se na notícia do facto de Cavaco Silva ter perdido terreno (de 48,8% para 44%), o que já me parece correcto, dado que se toma como referência uma sondagem da Marktest do mês passado onde todas as candidaturas já eram contempladas. Contudo, toda a cobertura da sondagem por parte do DN e da TSF se orienta para a ideia de que, com este resultado, Cavaco Silva ficou mais longe de ultrapassar a barreira de 50% que lhe daria a vitória à primeira volta. Mais: à hora que escrevo isto, decorre um "Fórum TSF" cujo tema, cito de cor, é o seguinte disparate:
"Será que o vencedor das presidenciais é uma incógnita, como sugere a sondagem DN/TSF/Marktest de hoje, ou que a vitória de Cavaco Silva é uma certeza, como sugere outra sondagem divulgada hoje"
Já nem falo do absurdo que constitui dizer-se que uma qualquer sondagem, sejam quais forem os seus resultados, dá certezas seja do que for sobre eleições que vão ter lugar daqui a dois meses. Mas o pior é isto: estão a comparar-se coisas totalmente incomparáveis. Os resultados divulgados na primeira página do Público apresentam os resultados da sondagem como se fossem resultados de eleições, excluindo indecisos, abstencionistas e votos brancos e nulos, única maneira de se dizer se as intenções válidas de voto em Cavaco Silva estarão, neste momento, acima dos 50%. Mas os resultados da sondagem divulgada no DN e na TSF estão a ser tratados como se pudessem ser comparados como resultados de eleições e com os resultados da Católica, quando não podem, porque são calculados em relação a uma base que inclui abstencionistas, votos em branco e respostas "não sabe/não responde".
E o mais irónico de tudo é isto:
Quando se tornam as sondagens comparáveis - seja porque na sondagem Marktest redistribuímos proporcionalmente as opções "não válidas" de voto pelas opções válidas/ equivalentes a resultados eleitorais, seja porque na sondagem da Católica se adopta o procedimento habitual para esse fim (redistribuir indecisos na base de uma squeeze question sobre inclinação de voto e redistribuir proporcionalmente as restantes opções não válidas pelas válidas) - os resultados são muito semelhantes: 56/57 para Cavaco, 19/17 para Alegre e 5/6 para Jerónimo de Sousa. As diferenças só são maiores nos casos de Soares (13/16) e Louçã (6/4), confirmando aliás um padrão anterior de maior instabilidade nas estimativas para estes candidatos nas sondagens feitas até ao momento.
Será isto tão difícil de entender? Será assim tão difícil às direcções editorais imporem requisitos mínimos de numeracia a quem trata estas notícias? Será assim tão difícil evitar lançar a opinião pública na confusão total quanto aos resultados das sondagens? Há dias em que, confesso, me apetece mudar de ramo...
O Público coloca na primeira página o título Cavaco aumenta vantagem para vitória à primeira. Já o DN coloca na primeira página o título Cavaco Silva mais longe da vitória à primeira volta. Confusos? Não precisam de estar. Vamos por partes.
O Público devia, desde logo, ter evitado falar de "aumento de vantagem". Por alguma razão, na documentação que recebeu do Centro de Sondagens da Católica, os resultados da sondagem hoje divulgada não foram comparados com os resultados da sondagem de Setembro. Porquê? Porque nessa sondagem, Alegre nem sequer era ainda candidato, e Cavaco ainda não tinha oficializado a sua candidatura. Os resultados da sondagem de hoje e da sondagem de Setembro não são directamente comparáveis. Falar de "aumento de vantagem" em relação a uma sondagem em que o menu de candidatos nem sequer era o mesmo é, no mínimo, insensato.
Contudo, o que se passou no DN e na TSF hoje foi bastante mais grave. Fala-se na notícia do facto de Cavaco Silva ter perdido terreno (de 48,8% para 44%), o que já me parece correcto, dado que se toma como referência uma sondagem da Marktest do mês passado onde todas as candidaturas já eram contempladas. Contudo, toda a cobertura da sondagem por parte do DN e da TSF se orienta para a ideia de que, com este resultado, Cavaco Silva ficou mais longe de ultrapassar a barreira de 50% que lhe daria a vitória à primeira volta. Mais: à hora que escrevo isto, decorre um "Fórum TSF" cujo tema, cito de cor, é o seguinte disparate:
"Será que o vencedor das presidenciais é uma incógnita, como sugere a sondagem DN/TSF/Marktest de hoje, ou que a vitória de Cavaco Silva é uma certeza, como sugere outra sondagem divulgada hoje"
Já nem falo do absurdo que constitui dizer-se que uma qualquer sondagem, sejam quais forem os seus resultados, dá certezas seja do que for sobre eleições que vão ter lugar daqui a dois meses. Mas o pior é isto: estão a comparar-se coisas totalmente incomparáveis. Os resultados divulgados na primeira página do Público apresentam os resultados da sondagem como se fossem resultados de eleições, excluindo indecisos, abstencionistas e votos brancos e nulos, única maneira de se dizer se as intenções válidas de voto em Cavaco Silva estarão, neste momento, acima dos 50%. Mas os resultados da sondagem divulgada no DN e na TSF estão a ser tratados como se pudessem ser comparados como resultados de eleições e com os resultados da Católica, quando não podem, porque são calculados em relação a uma base que inclui abstencionistas, votos em branco e respostas "não sabe/não responde".
E o mais irónico de tudo é isto:
Quando se tornam as sondagens comparáveis - seja porque na sondagem Marktest redistribuímos proporcionalmente as opções "não válidas" de voto pelas opções válidas/ equivalentes a resultados eleitorais, seja porque na sondagem da Católica se adopta o procedimento habitual para esse fim (redistribuir indecisos na base de uma squeeze question sobre inclinação de voto e redistribuir proporcionalmente as restantes opções não válidas pelas válidas) - os resultados são muito semelhantes: 56/57 para Cavaco, 19/17 para Alegre e 5/6 para Jerónimo de Sousa. As diferenças só são maiores nos casos de Soares (13/16) e Louçã (6/4), confirmando aliás um padrão anterior de maior instabilidade nas estimativas para estes candidatos nas sondagens feitas até ao momento.
Será isto tão difícil de entender? Será assim tão difícil às direcções editorais imporem requisitos mínimos de numeracia a quem trata estas notícias? Será assim tão difícil evitar lançar a opinião pública na confusão total quanto aos resultados das sondagens? Há dias em que, confesso, me apetece mudar de ramo...
segunda-feira, novembro 21, 2005
Revisitar as sondagens presidenciais
Sugere-me um leitor que revisite as sondagens para as presidenciais de 1986 e 1996.
Tenho hesitado em fazê-lo (ao contrário do que fiz aqui, aqui, aqui ou aqui para as legislativas). O que se passa é que me falta informação metodológica importante, especialmente em relação aos resultados das últimas sondagens publicadas por cada órgão de comunicação social. Para além disso, baseio-me nalguns casos em fontes indirectas, ou seja, artigos de jornal sobre as sondagens publicados após as eleições, especialmente em 1996 (quando nem sequer estava no país). Tudo isto retira alguma utilidade ao exercício.
Contudo, se o exercício é inútil quanto às diferenças metodológicas entre as sondagens e suas consequências, é particularmente útil no que respeita às diferenças entre eleições e entre a regulação da actividade das sondagens que prevalecia à data dessas eleições. Já veremos como.
Junto portanto os resultados de 1996 e 2001. Eleições antes dessas é inútil, dado que só durante 1991 se tornou possível divulgar resultados uma semana antes das eleições. Claro que toda a gente se lembra das sondagens de 1986. Mas o que eventualmente muitos não recordam é que as sondagens que foram conhecidas foram publicadas um mês antes das eleições, ou seja, antes da campanha começar! Qualquer comparação delas com os resultados eleitorais é inútil do ponto de vista da apreciação da qualidade da informação prestada à opinião pública (se bem que não do ponto de vista das dinâmicas de campanha).
Em 1996, foram estes os últimos resultados divulgados antes das eleições:
Seguem-se as projecções divulgadas na noite eleitoral em 1996 (não lhes chamo sondagens à boca das urnas porque, em rigor, não o eram, dada a proibição de fazer inquéritos à saída dos locais de voto; os institutos usavam soluções mais ou menos criativas para contornar o problema):
Em 2001, as pré-eleitorais:
E as (agora sim) sondagens à boca das urnas:
As lacunas na informação metodológica impedem grandes reflexões sobre estas sondagens, e recordo mais uma vez que, especialmente em relação a 1996, alguma da informação que recolhi foi indirecta, o que levanta a possibilidade de imprecisões. Mas é possível dizer-se rapidamente o seguinte:
1. Mais abstenção, maior distância entre sondagens pré-eleitorais e resultados eleitorais: restam-me poucas dúvidas que o severo encurtamento da vantagem de Jorge Sampaio em 2001, na comparação entre sondagens e resultados, se deveu em parte a elevadíssima abstenção e, especialmente, a desmobilização dos eleitores do actual Presidente;
2. A diferença que fazem as sondagens à boca das urnas: a precisão das "projecções" na noite eleitoral em 2001 foi muito grande e, na altura, muito maior do que a atingida em qualquer eleição anterior, presidential ou outra. É impossível não relacionar isto com a mudança da legislação em 2000, que permitiu a realização de verdadeiras sondagens à boca das urnas.
Tenho hesitado em fazê-lo (ao contrário do que fiz aqui, aqui, aqui ou aqui para as legislativas). O que se passa é que me falta informação metodológica importante, especialmente em relação aos resultados das últimas sondagens publicadas por cada órgão de comunicação social. Para além disso, baseio-me nalguns casos em fontes indirectas, ou seja, artigos de jornal sobre as sondagens publicados após as eleições, especialmente em 1996 (quando nem sequer estava no país). Tudo isto retira alguma utilidade ao exercício.
Contudo, se o exercício é inútil quanto às diferenças metodológicas entre as sondagens e suas consequências, é particularmente útil no que respeita às diferenças entre eleições e entre a regulação da actividade das sondagens que prevalecia à data dessas eleições. Já veremos como.
Junto portanto os resultados de 1996 e 2001. Eleições antes dessas é inútil, dado que só durante 1991 se tornou possível divulgar resultados uma semana antes das eleições. Claro que toda a gente se lembra das sondagens de 1986. Mas o que eventualmente muitos não recordam é que as sondagens que foram conhecidas foram publicadas um mês antes das eleições, ou seja, antes da campanha começar! Qualquer comparação delas com os resultados eleitorais é inútil do ponto de vista da apreciação da qualidade da informação prestada à opinião pública (se bem que não do ponto de vista das dinâmicas de campanha).
Em 1996, foram estes os últimos resultados divulgados antes das eleições:
Seguem-se as projecções divulgadas na noite eleitoral em 1996 (não lhes chamo sondagens à boca das urnas porque, em rigor, não o eram, dada a proibição de fazer inquéritos à saída dos locais de voto; os institutos usavam soluções mais ou menos criativas para contornar o problema):
Em 2001, as pré-eleitorais:
E as (agora sim) sondagens à boca das urnas:
As lacunas na informação metodológica impedem grandes reflexões sobre estas sondagens, e recordo mais uma vez que, especialmente em relação a 1996, alguma da informação que recolhi foi indirecta, o que levanta a possibilidade de imprecisões. Mas é possível dizer-se rapidamente o seguinte:
1. Mais abstenção, maior distância entre sondagens pré-eleitorais e resultados eleitorais: restam-me poucas dúvidas que o severo encurtamento da vantagem de Jorge Sampaio em 2001, na comparação entre sondagens e resultados, se deveu em parte a elevadíssima abstenção e, especialmente, a desmobilização dos eleitores do actual Presidente;
2. A diferença que fazem as sondagens à boca das urnas: a precisão das "projecções" na noite eleitoral em 2001 foi muito grande e, na altura, muito maior do que a atingida em qualquer eleição anterior, presidential ou outra. É impossível não relacionar isto com a mudança da legislação em 2000, que permitiu a realização de verdadeiras sondagens à boca das urnas.
Sobre sondagens
A ler, um artigo de Tiago Mendes no Diário Económico.
Sobre a interdependência entre as sondagens e os resultados eleitorais, só me resta remeter para este post.
E se o autor me permite uma correcção, importa notar que uma sondagem à boca das urnas não é uma previsão. Uma sondagem à boca das urnas mede comportamentos já ocorridos (questionando eleitores à saída das urnas, após o voto), permitindo que se faça, na base da amostra, uma inferência acerca daquilo que ocorreu (pretérito) no universo dos eleitores.
Pode-se dizer, sim, que precisamente por não ser (nem poder ser encarada como) uma previsão, uma sondagem à boca das urnas elimina algumas das fontes de incerteza associadas a qualquer estimativa pré-eleitoral de resultados eleitorais (tais como a instabilidade nas intenções de voto, a abstenção diferencial, etc.), seja ela baseada numa sondagem pré-eleitoral propriamente dita ou em outros preditores para além das intenções de voto (estado da economia, popularidade dos líderes, etc.), para além de ter a vantagem de contar, geralmente, com amostras de maior dimensão do que as usadas em sondagens pré-eleitorais.
Sobre a interdependência entre as sondagens e os resultados eleitorais, só me resta remeter para este post.
E se o autor me permite uma correcção, importa notar que uma sondagem à boca das urnas não é uma previsão. Uma sondagem à boca das urnas mede comportamentos já ocorridos (questionando eleitores à saída das urnas, após o voto), permitindo que se faça, na base da amostra, uma inferência acerca daquilo que ocorreu (pretérito) no universo dos eleitores.
Pode-se dizer, sim, que precisamente por não ser (nem poder ser encarada como) uma previsão, uma sondagem à boca das urnas elimina algumas das fontes de incerteza associadas a qualquer estimativa pré-eleitoral de resultados eleitorais (tais como a instabilidade nas intenções de voto, a abstenção diferencial, etc.), seja ela baseada numa sondagem pré-eleitoral propriamente dita ou em outros preditores para além das intenções de voto (estado da economia, popularidade dos líderes, etc.), para além de ter a vantagem de contar, geralmente, com amostras de maior dimensão do que as usadas em sondagens pré-eleitorais.
A exposição dos candidatos nos media
As observações de Jorge Candeias fazem sentido. Por um lado, a questão de medição. O que significa "notícias protagonizadas por cada personalidade"? Suponho que uma notícia é contada como tal quando os candidatos são explicitamente objecto de notícia, mas não posso estar seguro. Não descobri no site da Marktest a definição operacional desta variável.
Por outro lado, o período coberto. Observa-se na Lâmpada Mágica:
E também pergunto a mim próprio por que motivo foi escolhido o período de tempo que foi. É que desde 22 de Agosto até hoje houve as eleições autárquicas e uma campanha eleitoral (e uma longa pré-campanha) em que os líderes dos partidos se fartaram de aparecer, por inerência de cargo. E adivinhem quem são os líderes partidários que se candidataram a Belém? Nem mais: Louçã e Jerónimo, os dois mais "protagonistas" entre os "protagonistas". Dá-me a sensação de que aqui estamos a comparar coisas que não são comparáveis, o que é capaz de criar enviezamentos no método e, portanto, nos resultados.
A data de início deve-se, creio, ao lançamento das primeiras candidaturas, mas o problema mantém-se. Mas resolve-se. Basta ir aqui e tomar como âmbito temporal um período mais curto. Olhemos, por exemplo, para o que se passou desde a semana 42 (uma semana depois das autárquicas) até à semana 45 (que terminou no dia 13 de Novembro):
Mário Soares: 79 notícias, 215 minutos;
Cavaco Silva: 54 notícias, 163 minutos;
Manuel Alegre: 55 notícias, 147 minutos;
Jerónimo de Sousa: 52 notícias, 139 minutos;
Francisco Louçã: 51 notícias, 139 minutos.
De facto, faz diferença a exclusão do período das autárquicas. Após este período, Mário Soares conseguiu aparecer nas televisões com uma frequência e duração superior à dos restantes candidatos. Cavaco Silva surge em segundo lugar, mas muito por força daquele dia em que as televisões acompanharam o lançamento da sua candidatura, o que levou a notícias com muito longa duração.
Isto mede aquilo que mede. Não mede conteúdo/enviesamento da notícia, não mede o seu posicionamento na hierarquia do alinhamento noticioso, nem deve contar com notícias indirectamente relacionadas com os candidatos. Vale o que vale, como se diz das sondagens...
Por outro lado, o período coberto. Observa-se na Lâmpada Mágica:
E também pergunto a mim próprio por que motivo foi escolhido o período de tempo que foi. É que desde 22 de Agosto até hoje houve as eleições autárquicas e uma campanha eleitoral (e uma longa pré-campanha) em que os líderes dos partidos se fartaram de aparecer, por inerência de cargo. E adivinhem quem são os líderes partidários que se candidataram a Belém? Nem mais: Louçã e Jerónimo, os dois mais "protagonistas" entre os "protagonistas". Dá-me a sensação de que aqui estamos a comparar coisas que não são comparáveis, o que é capaz de criar enviezamentos no método e, portanto, nos resultados.
A data de início deve-se, creio, ao lançamento das primeiras candidaturas, mas o problema mantém-se. Mas resolve-se. Basta ir aqui e tomar como âmbito temporal um período mais curto. Olhemos, por exemplo, para o que se passou desde a semana 42 (uma semana depois das autárquicas) até à semana 45 (que terminou no dia 13 de Novembro):
Mário Soares: 79 notícias, 215 minutos;
Cavaco Silva: 54 notícias, 163 minutos;
Manuel Alegre: 55 notícias, 147 minutos;
Jerónimo de Sousa: 52 notícias, 139 minutos;
Francisco Louçã: 51 notícias, 139 minutos.
De facto, faz diferença a exclusão do período das autárquicas. Após este período, Mário Soares conseguiu aparecer nas televisões com uma frequência e duração superior à dos restantes candidatos. Cavaco Silva surge em segundo lugar, mas muito por força daquele dia em que as televisões acompanharam o lançamento da sua candidatura, o que levou a notícias com muito longa duração.
Isto mede aquilo que mede. Não mede conteúdo/enviesamento da notícia, não mede o seu posicionamento na hierarquia do alinhamento noticioso, nem deve contar com notícias indirectamente relacionadas com os candidatos. Vale o que vale, como se diz das sondagens...
sexta-feira, novembro 18, 2005
Tudo o que precisa de saber...
(Não, não, o josé da Grande Loja não vai precisar do Xanax porque não vou outra vez falar de justiça.)
Tudo o que precisa de saber sobre...as presidenciais, aqui, na Marktest, que reincide no serviço público já prestado nas autárquicas. Sondagens, resultados de anteriores eleições e cobertura noticiosa.
Uma curiosidade: qual é o candidato presidencial com maior exposição nas televisões desde Agosto?
Quanto às notícias protagonizadas por estes candidatos às próximas eleições presidenciais, é Jerónimo de Sousa aquele que mais vezes e por mais tempo surgiu nos écrãs da RTP1, 2:, SIC e TVI, em programas regulares de informação (exclui por isso entrevistas aprofundadas ou outros programas especiais sobre o assunto). De 22 de Agosto a 13 de Novembro de 2005, Jerónimo de Sousa foi protagonista de 227 notícias que tiveram uma duração total superior a oito horas. Francisco Louçã foi o segundo mais referido nas notícias destes canais, com 189 peças que estiveram próximas das sete horas de duração total. Cavaco Silva, pelo contrário, protagonizou o menor número de notícias, com 85 peças de cerca de 3 horas e 45 minutos de duração.
À atenção da Lâmpada Mágica...
Tudo o que precisa de saber sobre...as presidenciais, aqui, na Marktest, que reincide no serviço público já prestado nas autárquicas. Sondagens, resultados de anteriores eleições e cobertura noticiosa.
Uma curiosidade: qual é o candidato presidencial com maior exposição nas televisões desde Agosto?
Quanto às notícias protagonizadas por estes candidatos às próximas eleições presidenciais, é Jerónimo de Sousa aquele que mais vezes e por mais tempo surgiu nos écrãs da RTP1, 2:, SIC e TVI, em programas regulares de informação (exclui por isso entrevistas aprofundadas ou outros programas especiais sobre o assunto). De 22 de Agosto a 13 de Novembro de 2005, Jerónimo de Sousa foi protagonista de 227 notícias que tiveram uma duração total superior a oito horas. Francisco Louçã foi o segundo mais referido nas notícias destes canais, com 189 peças que estiveram próximas das sete horas de duração total. Cavaco Silva, pelo contrário, protagonizou o menor número de notícias, com 85 peças de cerca de 3 horas e 45 minutos de duração.
À atenção da Lâmpada Mágica...
quarta-feira, novembro 16, 2005
Plus ça change...
1. Entre 53% e 63% dos franceses (dependendo da formulação da pergunta) aprovam a actuação de (ou têm confiança em) Sarkozy em face da violência urbana (BVA, 10 Novemebro, em .pdf; IFOP, 13 de Novembro, aqui e aqui; IPSOS, 16 de Novembro, aqui);
2. 61% dos franceses declaram que, caso Sarkozy se apresente às eleições presidenciais, votarão certamente (19%) ou possivelmente (42%) nele, mantendo-o acima de qualquer outro candidato potencial (IPSOS, aqui);
3. As soluções mais apontadas pelos franceses para resolver a "crise dos banlieus" a médio prazo consistem em "dar mais meios para a educação" (47%), "assegurar uma melhor mixité social(como traduzir?) (45%) e "desenvolver policiamento de proximidade" (40%) - CSA, 8 Novembro, aqui.
P.S. - Os resultados descritos nos pontos 1 e 2 ganham novo sentido se lidos à luz de uma crónica, onde (para variar em relação a um seu recente registo jornalístico mais, digamos, engagé) Rui Ramos faz uma interessante análise da "alta política" por detrás da violência urbana em França.
2. 61% dos franceses declaram que, caso Sarkozy se apresente às eleições presidenciais, votarão certamente (19%) ou possivelmente (42%) nele, mantendo-o acima de qualquer outro candidato potencial (IPSOS, aqui);
3. As soluções mais apontadas pelos franceses para resolver a "crise dos banlieus" a médio prazo consistem em "dar mais meios para a educação" (47%), "assegurar uma melhor mixité social(como traduzir?) (45%) e "desenvolver policiamento de proximidade" (40%) - CSA, 8 Novembro, aqui.
P.S. - Os resultados descritos nos pontos 1 e 2 ganham novo sentido se lidos à luz de uma crónica, onde (para variar em relação a um seu recente registo jornalístico mais, digamos, engagé) Rui Ramos faz uma interessante análise da "alta política" por detrás da violência urbana em França.
terça-feira, novembro 15, 2005
Off topic: está-se sempre a aprender
A ler em conjunto:
1: Becker
2. Posner
3. Canhoto
Os dois primeiros via o (cada vez mais indispensável) Pura Economia.
O único comentário (banalíssimo) que me ocorre é que, quando se vê alguém como Posner defender o valor social da discriminação positiva (apesar de lamentar a sua contradição com os valores meritocráticos) e o Canhoto defender a flexibilização das leis laborais (é certo que em troca de maior protecção social da empregabilidade e dos rendimentos dos desempregados involuntários), isto deverá querer dizer que as soluções reais para os problemas reais já não andarão certamente pelos sítios habituais.
(Não sou especialista, longe disso, mas sobre os argumentos defendidos pelo Canhoto, vale a pena ler isto, especialmente o capítulo "Recasting Welfare Regimes for a Postindustrial Era").
1: Becker
2. Posner
3. Canhoto
Os dois primeiros via o (cada vez mais indispensável) Pura Economia.
O único comentário (banalíssimo) que me ocorre é que, quando se vê alguém como Posner defender o valor social da discriminação positiva (apesar de lamentar a sua contradição com os valores meritocráticos) e o Canhoto defender a flexibilização das leis laborais (é certo que em troca de maior protecção social da empregabilidade e dos rendimentos dos desempregados involuntários), isto deverá querer dizer que as soluções reais para os problemas reais já não andarão certamente pelos sítios habituais.
(Não sou especialista, longe disso, mas sobre os argumentos defendidos pelo Canhoto, vale a pena ler isto, especialmente o capítulo "Recasting Welfare Regimes for a Postindustrial Era").
Quem são os indecisos?
De um e-mail de um leitor:
Penso que neste caso específico a redistribuição proporcional dos indecisos não será uma boa opção. Parece-me que o facto de a candidatura de Cavaco ser bastante consensual à direita (ninguém de direita manifesta qualquer intenção de se candidatar para além de Cavaco) reduz muito a indecisão nesse eleitorado. Já no caso da esquerda, a existência de tantos candidatos é geradora de uma maior indecisão. As candidaturas de Alegre e Soares são importantes fontes de indefinição no eleitorado de esquerda.
Esta situação leva-me a pensar que a esmagadora maioria dos ainda indecisos se irá distribuir pelos candidatos da esquerda (e eventualmente pela abstenção) e muito spoucos por Cavaco. Esperar, como se deduz pela redistribuição dos indecisos na sondagem da Euroexpansão, que cerca de 8% dos 15% de indecisos vão optar por votar Cavaco parece-me francamente exagerado. Os indecisos estão à esquerda e se esta os souber conquistar, Cavaco não ganha as eleições. Ou seja, Cavaco não vai ganhar as eleições, a esquerda é que as poderá perder.
Parece-me plausível a ideia de que a indecisão é maior entre o eleitorado potencial dos candidatos de esquerda, especialmente o eleitorado do PS, como sugeri aqui. Mas para apreciar a validade da ideia, seria importante ver quais as identificações partidárias ou posicionamentos ideológicos (aqueles que os têm e declaram) dos que agora se dizem "indecisos", e apurar se a sua distribuição está significativamente mais "à esquerda" do que a da restante população que indica uma intenção válida de voto. A ficha técnica da Eurosondagem dá ideia que esse tipo de questões não foi colocada. No caso da Aximage, fica claro que essas questões são colocadas, mas não me recordo de alguma vez ver essa análise. Outro ponto importante, claro, é que estas percentagens de "indecisos" muito provavelmente subestimam a percentagem real de eleitores que não têm uma decisão tomada acerca de em quem irão votar. Isso sucede porque há uma parte "submersa" do eleitorado que não surge nas sondagens: as recusas, ou seja, aqueles que recusam fazer parte da amostra.
Mas por outro lado, nada garante que a "indecisão", seja a medida nas sondagens seja a "real", se converta em "voto" à última da hora. Muita dessa "indecisão" acaba por desembocar em abstenção. Assim foi, por exemplo, nas legislativas de 2005: um estudo de painel feito pela Católica para o Público, a RTP, a RDP e o ICS mostra que mais de um terço das respostas "não sabe/não responde" à pergunta sobre intenção de voto em Janeiro de 2005 acabaram por redundar, em Fevereiro (e na base das declarações dos próprios) em abstenção.
Penso que neste caso específico a redistribuição proporcional dos indecisos não será uma boa opção. Parece-me que o facto de a candidatura de Cavaco ser bastante consensual à direita (ninguém de direita manifesta qualquer intenção de se candidatar para além de Cavaco) reduz muito a indecisão nesse eleitorado. Já no caso da esquerda, a existência de tantos candidatos é geradora de uma maior indecisão. As candidaturas de Alegre e Soares são importantes fontes de indefinição no eleitorado de esquerda.
Esta situação leva-me a pensar que a esmagadora maioria dos ainda indecisos se irá distribuir pelos candidatos da esquerda (e eventualmente pela abstenção) e muito spoucos por Cavaco. Esperar, como se deduz pela redistribuição dos indecisos na sondagem da Euroexpansão, que cerca de 8% dos 15% de indecisos vão optar por votar Cavaco parece-me francamente exagerado. Os indecisos estão à esquerda e se esta os souber conquistar, Cavaco não ganha as eleições. Ou seja, Cavaco não vai ganhar as eleições, a esquerda é que as poderá perder.
Parece-me plausível a ideia de que a indecisão é maior entre o eleitorado potencial dos candidatos de esquerda, especialmente o eleitorado do PS, como sugeri aqui. Mas para apreciar a validade da ideia, seria importante ver quais as identificações partidárias ou posicionamentos ideológicos (aqueles que os têm e declaram) dos que agora se dizem "indecisos", e apurar se a sua distribuição está significativamente mais "à esquerda" do que a da restante população que indica uma intenção válida de voto. A ficha técnica da Eurosondagem dá ideia que esse tipo de questões não foi colocada. No caso da Aximage, fica claro que essas questões são colocadas, mas não me recordo de alguma vez ver essa análise. Outro ponto importante, claro, é que estas percentagens de "indecisos" muito provavelmente subestimam a percentagem real de eleitores que não têm uma decisão tomada acerca de em quem irão votar. Isso sucede porque há uma parte "submersa" do eleitorado que não surge nas sondagens: as recusas, ou seja, aqueles que recusam fazer parte da amostra.
Mas por outro lado, nada garante que a "indecisão", seja a medida nas sondagens seja a "real", se converta em "voto" à última da hora. Muita dessa "indecisão" acaba por desembocar em abstenção. Assim foi, por exemplo, nas legislativas de 2005: um estudo de painel feito pela Católica para o Público, a RTP, a RDP e o ICS mostra que mais de um terço das respostas "não sabe/não responde" à pergunta sobre intenção de voto em Janeiro de 2005 acabaram por redundar, em Fevereiro (e na base das declarações dos próprios) em abstenção.
segunda-feira, novembro 14, 2005
Eurosondagem, Presidenciais, 12 Novembro (continuação)
Primeiro os dados:
Algumas notas:
1. A sondagem divulgada há menos tempo (a do Expresso/RR/SIC) não é a última da lista porque as sondagens estão colocadas por ordem crescente da data de trabalho de campo, e não de divulgação.
2. Há discrepâncias de não mais de 0,1% entre os resultados apresentados pela Eurosondagem após a redistribuição de indecisos e aqueles que eu apresento. A razão é simples: respeitando a decisão da empresa de apresentar esses dados com uma casa decimal, fiz o cálculo da redistribuição dos indecisos (15%) pelas restantes opções válidas. Os meus resultados não coincidem com os da Eurosondagem. Nada disto, contudo, tem qualquer importância, como se verá no ponto seguinte.
3. Há por aí alguma discussão sobre o que estes resultados estão a dizer assim que se considera a margem de erro amostral. O que eles estão a dizer é o seguinte:
"Se a amostra obtida da população eleitora residente em domicílios com telefone no Continente tivesse sido aleatória, haveria 95% de probabilidades que as intenções de voto em cada um dos candidatos - redistribuindo proporcionalmente os indecisos - se situassem entre os valores máximos e mínimos do seguinte quadro:
Logo, na base destes resultados, não podemos dizer, nem só com 95% de confiança, se, entre a população eleitora residente em domicílios com telefone fixo no Continente:
a. As intenções de voto em Cavaco Silva são neste momento superiores a 50%;
b. Soares tem mais intenções de voto que Alegre ou vice-versa;
c. Louçã tem mais intenções de voto que Jerónimo ou vice-versa.
Acresce a isto que a amostra da Eurosondagem - tal como todas as feitas por qualquer sondagem em qualquer sítio no Mundo - pode ter sido seleccionada com procedimentos aleatórios, mas não é nunca uma sondagem cujos membros da amostra tenham sido seleccionados com probabibilidade igual a todos os outros (devido à incapacidade de contactar membros do universo seleccionados aleatoriamente, recusas em pertencer à amostra, etc.). É por tudo isto que a afirmação "Cavaco deve ganhar à primeira volta" não faz sentido (para já não falar do facto de usar intenções de voto recolhidas a três meses das eleições como elemento que permite prever o que vai suceder no dia das eleições).
4. A diferença entre os resultados da última (Aximage) e da penúltima (Eurosondagem) sondagens dificilmente terão a ver com mudanças nas intenções de voto dos eleitores ao longo do tempo, dado que os trabalhos de campo foram conduzidos quase simultaneamente. Restam as opções metodológicas e o erro amostral como explicação das diferenças. O segundo, por enquanto, ainda as justifica. Mas se começarmos a detectar de forma sistemática que as amostras por quotas produzem melhores resultados para Cavaco e Alegre do que as amostras aleatórias, importa começar a considerar as opções metodológicas como fonte destas discrepâncias. Por enquanto é cedo.
5. A vantagem de Cavaco Silva sobre os restantes candidatos está a diminuir? Para percebermos se a passagem do tempo está a produzir efeitos nesse sentido, a melhor maneira é manter constantes as opções metodológicas e esperar que a confirmação de tendências dentro de cada instituto diminua a probabilidade das discrepâncias serem mero ruído aleatório. Logo, só com mais sondagens de cada instituto haverá respostas mais credíveis. É preciso esperar para ver.
Algumas notas:
1. A sondagem divulgada há menos tempo (a do Expresso/RR/SIC) não é a última da lista porque as sondagens estão colocadas por ordem crescente da data de trabalho de campo, e não de divulgação.
2. Há discrepâncias de não mais de 0,1% entre os resultados apresentados pela Eurosondagem após a redistribuição de indecisos e aqueles que eu apresento. A razão é simples: respeitando a decisão da empresa de apresentar esses dados com uma casa decimal, fiz o cálculo da redistribuição dos indecisos (15%) pelas restantes opções válidas. Os meus resultados não coincidem com os da Eurosondagem. Nada disto, contudo, tem qualquer importância, como se verá no ponto seguinte.
3. Há por aí alguma discussão sobre o que estes resultados estão a dizer assim que se considera a margem de erro amostral. O que eles estão a dizer é o seguinte:
"Se a amostra obtida da população eleitora residente em domicílios com telefone no Continente tivesse sido aleatória, haveria 95% de probabilidades que as intenções de voto em cada um dos candidatos - redistribuindo proporcionalmente os indecisos - se situassem entre os valores máximos e mínimos do seguinte quadro:
Logo, na base destes resultados, não podemos dizer, nem só com 95% de confiança, se, entre a população eleitora residente em domicílios com telefone fixo no Continente:
a. As intenções de voto em Cavaco Silva são neste momento superiores a 50%;
b. Soares tem mais intenções de voto que Alegre ou vice-versa;
c. Louçã tem mais intenções de voto que Jerónimo ou vice-versa.
Acresce a isto que a amostra da Eurosondagem - tal como todas as feitas por qualquer sondagem em qualquer sítio no Mundo - pode ter sido seleccionada com procedimentos aleatórios, mas não é nunca uma sondagem cujos membros da amostra tenham sido seleccionados com probabibilidade igual a todos os outros (devido à incapacidade de contactar membros do universo seleccionados aleatoriamente, recusas em pertencer à amostra, etc.). É por tudo isto que a afirmação "Cavaco deve ganhar à primeira volta" não faz sentido (para já não falar do facto de usar intenções de voto recolhidas a três meses das eleições como elemento que permite prever o que vai suceder no dia das eleições).
4. A diferença entre os resultados da última (Aximage) e da penúltima (Eurosondagem) sondagens dificilmente terão a ver com mudanças nas intenções de voto dos eleitores ao longo do tempo, dado que os trabalhos de campo foram conduzidos quase simultaneamente. Restam as opções metodológicas e o erro amostral como explicação das diferenças. O segundo, por enquanto, ainda as justifica. Mas se começarmos a detectar de forma sistemática que as amostras por quotas produzem melhores resultados para Cavaco e Alegre do que as amostras aleatórias, importa começar a considerar as opções metodológicas como fonte destas discrepâncias. Por enquanto é cedo.
5. A vantagem de Cavaco Silva sobre os restantes candidatos está a diminuir? Para percebermos se a passagem do tempo está a produzir efeitos nesse sentido, a melhor maneira é manter constantes as opções metodológicas e esperar que a confirmação de tendências dentro de cada instituto diminua a probabilidade das discrepâncias serem mero ruído aleatório. Logo, só com mais sondagens de cada instituto haverá respostas mais credíveis. É preciso esperar para ver.
sábado, novembro 12, 2005
Eurosondagem, Presidenciais, 12 de Novembro
Por enquanto a, notícia. Análise mais desenvolvida 2ª feira.
Contudo, para já, importa só assinalar que, com estes resultados, a afirmação do Expresso de que "Cavaco deve ganhar à 1ª volta" é absurda a pelo menos dois níveis. Quando será que deixaremos de falar sobre sondagens como se fossem o horóscopo da Maya? E quando será que os jornalistas começarão a interiorizar o conceito de margem de erro amostral (que, para uma sondagem aleatória como a dimensão desta, tem um valor máximo de 2,5%)? Enfim, o costume.
Resultados:
Cavaco Silva: 52,5%
Mário Soares: 18%
Manuel Alegre:16,9%
Francisco Louçã: 6,3%
Jerónimo de Sousa: 5,7%
Contudo, para já, importa só assinalar que, com estes resultados, a afirmação do Expresso de que "Cavaco deve ganhar à 1ª volta" é absurda a pelo menos dois níveis. Quando será que deixaremos de falar sobre sondagens como se fossem o horóscopo da Maya? E quando será que os jornalistas começarão a interiorizar o conceito de margem de erro amostral (que, para uma sondagem aleatória como a dimensão desta, tem um valor máximo de 2,5%)? Enfim, o costume.
Resultados:
Cavaco Silva: 52,5%
Mário Soares: 18%
Manuel Alegre:16,9%
Francisco Louçã: 6,3%
Jerónimo de Sousa: 5,7%
sexta-feira, novembro 11, 2005
Aximage, Presidenciais, 11 Novembro
Mais uma sondagem, a terceira em geral e a segunda da Aximage desde que se confirmaram todas as principais candidaturas. Olhando para as distribuições nas amostras, há uma tendência de descida de Cavaco e subida dos restantes candidatos, mas na inferência para o universo, estas diferenças podem não passar de "ruído aleatório". Só com mais sondagens poderemos apreciar se a tendência tem maior probabilidade de estar a descrever algo real.
Do ponto de vista metodológico, quanto mais depressa tivermos sondagens que usem amostragem aleatória e/ou inquirição face-a-face melhor, para apreciarmos em que medida os resultados existentes até agora podem ou não estar a ser afectados pelas opções técnicas tomadas (amostragem por quotas e inquirição telefónica).
Segundo notícia em "caixa" no jornal, o eleitorado do PS continua, como anteriormente, dividido entre Cavaco, Soares e Alegre.
Do ponto de vista metodológico, quanto mais depressa tivermos sondagens que usem amostragem aleatória e/ou inquirição face-a-face melhor, para apreciarmos em que medida os resultados existentes até agora podem ou não estar a ser afectados pelas opções técnicas tomadas (amostragem por quotas e inquirição telefónica).
Segundo notícia em "caixa" no jornal, o eleitorado do PS continua, como anteriormente, dividido entre Cavaco, Soares e Alegre.
quinta-feira, novembro 10, 2005
"George W. Bush? Não conheço."*
Neste artigo do L.A. Times, uma análise preliminar dos possíveis efeitos da impopularidade do Presidente nas eleições e referendos da passada terça-feira e nas próximas eleições de 2006.
*Frase recomendada para candidatos Republicanos às eleições para o Congresso no próximo ano.
As razões da crise em França, segundo os franceses
Ds CSA/TMO (que tem sido responsável por quase todas as sondagens mais interessantes sobre o tema) vem um novo estudo: Les raisons de la crise actuelle des banlieues . Principais resultados:
Quelles sont selon-vous les raisons principales de ce qui se passe actuellement en banlieue? (pergunta de resposta múltipla, soma das percentagens superior a 100%):
Le contrôle insuffisant des parents sur leurs enfants: 69%
Le chômage et la précarité, l'absence de perspective d'avenir: 55%
Les propos tenus par Nicolas Sarkozy (Kärcher, racaille…): 29%
La télévision qui incite les jeunes à aller de plus en plus loin: 24%
L'absence de la police dans certains quartiers: 21%
Les divers trafics des bandes: 21%
L'insuffisance des moyens pour la prévention de la délinquance: 19%
La montée du repli communautaire et de l'intégrisme religieux: 15%
Les discriminations à l'égard des jeunes: 10%
L'attitude trop brutale de la police avec les jeunes: 8%
Aucune de ces raisons: 1%
Temos assim que, para a grande maioria da população, as responsabilidades pela crise são atribuídas, por um lado, à educação e ao contexto familiar e, por outro, à situação social e económica. Uma análise mais detalhada mostra que não há grandes clivagens sociais ou políticas a este nível: dentro de todos os sub-grupos amostrais sobre os quais existe informação (definidos na base do sexo, idade, identificação partidária, instrução, profissão e situação profissional, etc.) estas duas razões são sempre as mais apontadas.
Quanto às restantes razões, aí sim há divisões. Os mais jovens e os que se situam à esquerda tendem a atribuir mais culpas a Sarkozy, enquanto os que se situam à direita ligam mais claramente a crise a problemas ligados à criminalidade e a lei a ordem. Tudo normal e previsível.
Quelles sont selon-vous les raisons principales de ce qui se passe actuellement en banlieue? (pergunta de resposta múltipla, soma das percentagens superior a 100%):
Le contrôle insuffisant des parents sur leurs enfants: 69%
Le chômage et la précarité, l'absence de perspective d'avenir: 55%
Les propos tenus par Nicolas Sarkozy (Kärcher, racaille…): 29%
La télévision qui incite les jeunes à aller de plus en plus loin: 24%
L'absence de la police dans certains quartiers: 21%
Les divers trafics des bandes: 21%
L'insuffisance des moyens pour la prévention de la délinquance: 19%
La montée du repli communautaire et de l'intégrisme religieux: 15%
Les discriminations à l'égard des jeunes: 10%
L'attitude trop brutale de la police avec les jeunes: 8%
Aucune de ces raisons: 1%
Temos assim que, para a grande maioria da população, as responsabilidades pela crise são atribuídas, por um lado, à educação e ao contexto familiar e, por outro, à situação social e económica. Uma análise mais detalhada mostra que não há grandes clivagens sociais ou políticas a este nível: dentro de todos os sub-grupos amostrais sobre os quais existe informação (definidos na base do sexo, idade, identificação partidária, instrução, profissão e situação profissional, etc.) estas duas razões são sempre as mais apontadas.
Quanto às restantes razões, aí sim há divisões. Os mais jovens e os que se situam à esquerda tendem a atribuir mais culpas a Sarkozy, enquanto os que se situam à direita ligam mais claramente a crise a problemas ligados à criminalidade e a lei a ordem. Tudo normal e previsível.
quarta-feira, novembro 09, 2005
Mais sondagens francesas
CSA/TMO, 8 de Novembro, N=805, Quotas, Telefónica, Resultados completos aqui (.pdf).
Apenas 1% dos franceses mostra "simpatia" com o que se tem passado, enquanto apenas 12% declaram "compreensão". Curiosamente, o valor dos que dizem ser "compreensivos" sobe para 26% no escalão de instrução mais elevado, mas isso pode ser efeito da formulação das opções de resposta (lá como cá, "compréhensif" não significa necessariamente empatia, podendo significar apenas que se julga conhecer entender as razões do fenómeno).
Questionados sobre o que pensam acerca das propostas de Villepin, o apoio é largamente maioritário, quer para o recolher obrigatório (73%) quer para o reestabelecimento do financiamento às associações locais (89%) e para a formação profissional dos jovens a partir dos 14 anos (83%). À parte os extremos (PC e extrema-esquerda nuns casos, FN noutros), estas ideias não suscitam clivagens sociais ou ideológicas significativas.
E numa sondagem LH2 do dia 5, o apoio ao Governo aumentou.
Apenas 1% dos franceses mostra "simpatia" com o que se tem passado, enquanto apenas 12% declaram "compreensão". Curiosamente, o valor dos que dizem ser "compreensivos" sobe para 26% no escalão de instrução mais elevado, mas isso pode ser efeito da formulação das opções de resposta (lá como cá, "compréhensif" não significa necessariamente empatia, podendo significar apenas que se julga conhecer entender as razões do fenómeno).
Questionados sobre o que pensam acerca das propostas de Villepin, o apoio é largamente maioritário, quer para o recolher obrigatório (73%) quer para o reestabelecimento do financiamento às associações locais (89%) e para a formação profissional dos jovens a partir dos 14 anos (83%). À parte os extremos (PC e extrema-esquerda nuns casos, FN noutros), estas ideias não suscitam clivagens sociais ou ideológicas significativas.
E numa sondagem LH2 do dia 5, o apoio ao Governo aumentou.
terça-feira, novembro 08, 2005
Sociologia a mais e Sociologia a menos
Augusto Santos Silva, sociólogo, militante do PS, ministro:
"'Ninguém sabe qual vai ser o próximo Presidente da República. Até ao passado mês de Julho todos os estudos de opinião davam o não candidato assumido (Cavaco Silva) como o próximo PR. Era um passeio triunfal. Agora não há uma única sondagem que dê por garantida a vitória de Cavaco Silva à primeira volta' disse Santos Silva. 'Foi a entrada em cena de Mário Soares que transformou uma coroação num a verdadeira eleição', argumentou. Considerou ainda a primeira volta das Presidenciais, a 22 de Janeiro, como as 'primárias' do candidato da esquerda. 'A direita ou ganha à primeira volta ou não ganha. É impossível, nos termos da sociologia eleitoral portuguesa, que a direita ganhe à segunda volta', garantiu."
Nuno Melo, líder parlamentar do CDS-PP:
"O líder parlamentar do CDS-PP classificou hoje os distúrbios que se registam em França há doze dias como 'uma pesada factura' de 'políticas de imigração laxistas' nos países da União Europeia que têm sido governados pela esquerda. (...) Nuno Melo sublinhou que 'nada, mas mesmo nada, justifica a violência, nada justifica que se atente contra a vida de cidadãos inocentes, que se destruam bens, muitas vezes adquiridos com muitas dificuldades'. 'Quando se assiste a isto, em primeiro lugar tem de se impor a ordem e depois discutir a sociologia', defendeu.
"'Ninguém sabe qual vai ser o próximo Presidente da República. Até ao passado mês de Julho todos os estudos de opinião davam o não candidato assumido (Cavaco Silva) como o próximo PR. Era um passeio triunfal. Agora não há uma única sondagem que dê por garantida a vitória de Cavaco Silva à primeira volta' disse Santos Silva. 'Foi a entrada em cena de Mário Soares que transformou uma coroação num a verdadeira eleição', argumentou. Considerou ainda a primeira volta das Presidenciais, a 22 de Janeiro, como as 'primárias' do candidato da esquerda. 'A direita ou ganha à primeira volta ou não ganha. É impossível, nos termos da sociologia eleitoral portuguesa, que a direita ganhe à segunda volta', garantiu."
Nuno Melo, líder parlamentar do CDS-PP:
"O líder parlamentar do CDS-PP classificou hoje os distúrbios que se registam em França há doze dias como 'uma pesada factura' de 'políticas de imigração laxistas' nos países da União Europeia que têm sido governados pela esquerda. (...) Nuno Melo sublinhou que 'nada, mas mesmo nada, justifica a violência, nada justifica que se atente contra a vida de cidadãos inocentes, que se destruam bens, muitas vezes adquiridos com muitas dificuldades'. 'Quando se assiste a isto, em primeiro lugar tem de se impor a ordem e depois discutir a sociologia', defendeu.
Impeachment
A hipótese é, como se costuma dizer (nunca percebi exactamente porquê), "académica". Mas os resultados são significativos na medida em que, pela primeira vez, há uma maioria a favor do "Sim":
Zogby, 29 Out.-2 Nov., N= 1200, Telefónica.
If it is found that George W. Bush did not tell the truth about his reasons for going to war with Iraq, do you think Congress should hold him accountable through impeachment?
Yes:53% (em Junho, 42%)
No: 42% (em Junho, 50%)
DK/NA: 5% (em Junho, 8%)
Entretanto, discute-se nos Estados Unidos "quão baixas" poderão vir a ser as taxas de aprovação de Bush. O mais recente recorde negativo é 35%, e há sinais que possa vir a baixar ainda mais. Por um lado, porque o apoio entre os eleitores que se identificam como "Republicanos" está a diminuir. Por outro lado, porque o número de eleitores que se identificam como "Republicanos" parece estar, ele próprio, a diminuir.
Zogby, 29 Out.-2 Nov., N= 1200, Telefónica.
If it is found that George W. Bush did not tell the truth about his reasons for going to war with Iraq, do you think Congress should hold him accountable through impeachment?
Yes:53% (em Junho, 42%)
No: 42% (em Junho, 50%)
DK/NA: 5% (em Junho, 8%)
Entretanto, discute-se nos Estados Unidos "quão baixas" poderão vir a ser as taxas de aprovação de Bush. O mais recente recorde negativo é 35%, e há sinais que possa vir a baixar ainda mais. Por um lado, porque o apoio entre os eleitores que se identificam como "Republicanos" está a diminuir. Por outro lado, porque o número de eleitores que se identificam como "Republicanos" parece estar, ele próprio, a diminuir.
Haja esperança
Escreve-se na Lâmpada Mágica:
Espero que alguém (alô Pedro) esteja a contar o tempo de antena que têm tido os vários candidatos à presidência, contando, como é óbvio, com o tempo de antena que é dado aos seus apoiantes quando eles falam dos candidatos. Tenho a certeza de que os resultados seriam extremamente interessantes e mostrariam com clareza cristalina quem é filho e quem é enteado nesta "democracia" mediática que temos.
Há razões para ter esperança. A imprensa tem divulgado (pelo menos o Público), salvo erro desde 2002, o resultado de análises feitas por uma empresa chamada Memorandum do conteúdo dos noticiários televisivos, incluindo nº de notícias por figuras políticas e seu tempo de exposição. Por outro lado, a Cyberlex, já aqui mencionada (e pouco depois, por coincidência, mencionada também pelo Abrupto), fez para as eleições de 2005 uma análise da imprensa onde, entre outras coisas, se analisa também a visibilidade dada a figuras políticas.
Sei isto melhor porque - perdoem a publicidade - ambas as empresas foram contratadas por um projecto de que sou um dos coordenadores no ICS para nos fornecerem análises detalhadas dos conteúdos da televisão e da imprensa durante a campanha das legislativas de 2005. Os resultados dessas análises - muito interessantes, creio - foram divulgados numa sessão que ocorreu aqui no ICS no dia 17 de Junho e relatados, nas suas linhas gerais, na imprensa.
Convém só dizer, contudo, o óbvio: nem toda a exposição mediática é boa. O candidato com maior exposição e tempo de antena nos jornais e na televisão durante a campanha para as legislativas de 2005 foi, de longe, Pedro Santana Lopes...
Espero que alguém (alô Pedro) esteja a contar o tempo de antena que têm tido os vários candidatos à presidência, contando, como é óbvio, com o tempo de antena que é dado aos seus apoiantes quando eles falam dos candidatos. Tenho a certeza de que os resultados seriam extremamente interessantes e mostrariam com clareza cristalina quem é filho e quem é enteado nesta "democracia" mediática que temos.
Há razões para ter esperança. A imprensa tem divulgado (pelo menos o Público), salvo erro desde 2002, o resultado de análises feitas por uma empresa chamada Memorandum do conteúdo dos noticiários televisivos, incluindo nº de notícias por figuras políticas e seu tempo de exposição. Por outro lado, a Cyberlex, já aqui mencionada (e pouco depois, por coincidência, mencionada também pelo Abrupto), fez para as eleições de 2005 uma análise da imprensa onde, entre outras coisas, se analisa também a visibilidade dada a figuras políticas.
Sei isto melhor porque - perdoem a publicidade - ambas as empresas foram contratadas por um projecto de que sou um dos coordenadores no ICS para nos fornecerem análises detalhadas dos conteúdos da televisão e da imprensa durante a campanha das legislativas de 2005. Os resultados dessas análises - muito interessantes, creio - foram divulgados numa sessão que ocorreu aqui no ICS no dia 17 de Junho e relatados, nas suas linhas gerais, na imprensa.
Convém só dizer, contudo, o óbvio: nem toda a exposição mediática é boa. O candidato com maior exposição e tempo de antena nos jornais e na televisão durante a campanha para as legislativas de 2005 foi, de longe, Pedro Santana Lopes...
segunda-feira, novembro 07, 2005
Premonições
Le malaise français, em números (3)
Sondagem CSA/TMO, 2-3 Novembro 2005, N=1002, Quotas, Telefónica.
Avez-vous une très bonne image, une assez bonne image, une assez mauvaise image ou une très mauvaise image de Nicolas Sarkozy comme Ministre de l'intérieur ?
Apesar (ou por causa) da "racaille"...
Uma análise mais detalhada mostra que as opiniões maioritariamente negativas sobre Sarkozy estão concentradas entre os desempregados, trabalhadores por conta própria e indivíduos com elevada instrução (singular combinação).
Avez-vous une très bonne image, une assez bonne image, une assez mauvaise image ou une très mauvaise image de Nicolas Sarkozy comme Ministre de l'intérieur ?
Apesar (ou por causa) da "racaille"...
Uma análise mais detalhada mostra que as opiniões maioritariamente negativas sobre Sarkozy estão concentradas entre os desempregados, trabalhadores por conta própria e indivíduos com elevada instrução (singular combinação).
Le malaise français, em números (2)
Um estudo do IFOP com uma amostra de 38000 inquiridos (!!) revela alguns dados interessantes sobre as orientações políticas dos estrangeiros residentes em França.
1) Orientações de esquerda, particularmente PS, são hegemónicas entre os estrangeiros, particularmente os de religião muçulmana.
2) Relação entre religião muçulmana e identificação partidária ainda mais intensa entre os cidadãos de nacionalidade francesa do que entre os estrangeiros residentes. O fenómeno é explicado pela correlação entre idade e nacionalidade entre os muçulmanos: os estrangeiros são principalmente os mais velhos (1ª geração) e, logo, mais conservadores e tradicionalistas.
3) Um fenómeno fascinante, o da pertença de muçulmanos à FN em números consideráveis e comparáveis ao da população em geral, especialmente entre os estrangeiros. A explicação, bem plausível, do IFOP:
On constate que la proximité au FN (...) est comparable parmi les Français et les étrangers (un peu moins élevé parmi les musulmans), signe que le discours sécuritaire, la référence aux traditions, la dénonciation de l’establishment mais aussi le refus de toute (nouvelle) immigration peut séduire d’autres personnes que les seuls Français de souche.
1) Orientações de esquerda, particularmente PS, são hegemónicas entre os estrangeiros, particularmente os de religião muçulmana.
2) Relação entre religião muçulmana e identificação partidária ainda mais intensa entre os cidadãos de nacionalidade francesa do que entre os estrangeiros residentes. O fenómeno é explicado pela correlação entre idade e nacionalidade entre os muçulmanos: os estrangeiros são principalmente os mais velhos (1ª geração) e, logo, mais conservadores e tradicionalistas.
3) Um fenómeno fascinante, o da pertença de muçulmanos à FN em números consideráveis e comparáveis ao da população em geral, especialmente entre os estrangeiros. A explicação, bem plausível, do IFOP:
On constate que la proximité au FN (...) est comparable parmi les Français et les étrangers (un peu moins élevé parmi les musulmans), signe que le discours sécuritaire, la référence aux traditions, la dénonciation de l’establishment mais aussi le refus de toute (nouvelle) immigration peut séduire d’autres personnes que les seuls Français de souche.
sexta-feira, novembro 04, 2005
Le malaise français, em números
Confiança no Presidente da República:
Confiança no Primeiro-Ministro:
Expectativas sobre conflitos sociais no futuro próximo:
Tudo aqui.
P.S.- E este anglófilo impenitente foi avisado por francófila amiga que, ao contrário do que já aqui esteve escrito, "malaise" é substantivo masculino. Pensando bem, só podia.
Confiança no Primeiro-Ministro:
Expectativas sobre conflitos sociais no futuro próximo:
Tudo aqui.
P.S.- E este anglófilo impenitente foi avisado por francófila amiga que, ao contrário do que já aqui esteve escrito, "malaise" é substantivo masculino. Pensando bem, só podia.
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